De 2021 para 2022, 231.002 pessoas saíram da linha da pobreza no Rio Grande do Norte, uma redução de 6,9%. Mas o estado ainda possuía, ano passado, 1.657.982 pessoas vivendo com até R$ 665,02 por mês, o equivalente a 46,2% de sua população. Em 2021, a situação do RN era bem pior: 53,1%, o equivalente a 1.888.984 pessoas, estava em situação de pobreza.
Os números fazem parte do levantamento produzido pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), obtido a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), sobre rendimento de todas as fontes do ano de 2022. O estudo detalha as taxas de pobreza e extrema pobreza de cada estado brasileiro nos anos de 2021 e 2022 e traz também a média nacional.
Para calculas as taxas, o estudo considerou as linhas de pobreza e extrema pobreza estabelecidas pelo Banco Mundial, ou seja, US$ 6,85 per capita/dia e US$ 2,15 per capita/dia, respectivamente. Os valores foram convertidos pela Paridade de Poder de Compra (PPC/2017), método alternativo à taxa de câmbio e leva em conta o valor demandado para adquirir a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada nação, em comparação com o mercado norte-americano.
Assim, as referências mensais das linhas de pobreza e extrema pobreza tomadas como limites foram de R$ 665,02 e R$ 208,73, para valores de 2022.
No Brasil, de acordo com do IJSN, 10.4 milhões de pessoas saíram da condição de pobreza. Em 2021 eram 81.202.951 pessoas vivendo com até R$ 665,02 por mês. Em 2022, esse número caiu para 70.731.457 pessoas.
O diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, o pesquisador e doutor em Geografia Pablo Lira, ressaltou que a pesquisa mostra que a taxa de pobreza brasileira reduziu de 38,2% para 33,0% entre 2021 e 2022. “É preciso salientar que a taxa de 2021 foi a mais elevada dos últimos dez anos. A taxa de pobreza alcançada em 2022 retornou a um patamar próximo ao observado em 2020, que era de 32,7%”, explicou.
Depois dos picos históricos registrados em 2021, as taxas de pobreza e extrema pobreza reduziram em 2022, quando ocorreu a expansão de Programas de Transferência Condicionada de Renda (PTCR). Além disso, foi observada uma melhoria no mercado de trabalho. Esses são alguns dos principais fatores que podem explicar o recuo da pobreza e miséria no País.
“Em 2022, ano eleitoral, o Governo Federal buscava implementar o Auxílio Brasil no valor de R$ 400,00. Esse valor foi elevado para R$ 600,00 pela atuação do Congresso Nacional, o que contribuiu para diminuir a vulnerabilidade social. Ademais, vários governos estaduais e municipais expandiram PTCRs ao longo dos últimos anos. O Espírito Santo é um exemplo disso. O Estado conta com o Bolsa Capixaba e outros benefícios que complementam os repasses para pessoas inscritas no CadÚnico”, detalhou Lira.
Ele completou apontando que, no plano nacional, foi observada uma melhoria nos indicadores do mercado de trabalho. “Uma evidência disso foi o recuo na taxa de desemprego de 13,2% em 2021 para 9,3% em 2022, segundo informações da PNAD/IBGE”, disse.
Veja abaixo o ranking dos estados brasileiros com relação à taxa de pobreza:
Com relação à extrema pobreza, o RN também registrou redução: em 2021 eram 541.538 pessoas nessa condição, o equivalente a 15,2% da população. Em 2022, esse número foi de 346.623 pessoas, o que equivale a 9,70% dos habitantes do estado. De 2021 para 2022, a quantidade de pessoas nessa condição reduziu 5,5%. Dito de outra forma: de 2021 para 2022, 194.915 pessoas deixaram a condição de extrema pobreza no RN.
No Brasil, segundo o levantamento, 6,3 milhões de pessoas deixaram essa condição extrema no ano passado. Em 2021 o país registrava um total de 20 milhões de pessoas vivendo com, no máximo, R$ 208,73 por mês. Em 2022, esse quantitativo foi de 13,7 milhões de pessoas. A taxa de extrema pobreza foi de 6,4% nesse último ano.
Pablo Lira explica também que, em 2014, a taxa de miséria alcançou 5,5%, o menor nível da série histórica. Já em 2021, a taxa atingiu o maior patamar dos últimos dez anos, chegando a 9,4% da população brasileira. “A taxa de miséria brasileira mais recente é superior aos valores constatados em países como México (3,1%), por exemplo, segundo as estatísticas do Banco Mundial”, pontuou.
O pesquisador explica que, nos últimos anos, o País retornou ao mapa da fome e a questão histórica da miséria voltou a atormentar a vida dos brasileiros. “É fato que a pobreza e a extrema pobreza reduziram em 2022. Entretanto, ainda há um longo caminho para a reconstrução e a reestruturação de políticas públicas de assistência social efetivas e com caráter de Estado, que perpassem governos. Nesse sentido, será possível consolidar uma tendência de diminuição desses problemas”, argumentou Pablo Lira.
“Considerando os recentes aprimoramentos proporcionados pela retomada do programa Bolsa Família, bem como levando em conta os efeitos do Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC-LOAS) e de outras políticas públicas de assistência social nas escalas Federal, Estadual e municipal, a pobreza e a extrema pobreza provavelmente seguirão em tendência de redução em 2023. Uma boa notícia para os brasileiros que acreditam em um País mais próspero, menos desigual e com mais justiça social”, pontuou.
O levantamento feito pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) revela um outro dado interessante sobre a pobreza no RN: dos estados nordestinos, a menores taxas de pobreza e de extrema pobreza calculadas em 2022 na região são as do estado potiguar. Com relação à pobreza, o Maranhão é o que aparece com pior índice: 58,9% da população vive nessa condição. É do mesmo estado o pior índice de extrema pobreza do Nordeste: 15,9%.
A título de comparação, a Paraíba, estado vizinho e semelhante em população ao Rio Grande do Norte tem taxa de pobreza de 56,6%. Isso significa que mais da metade da população daquele estado vivia em 2022 com até R$ 665,02 por mês. Na extrema pobreza, a taxa paraibana é de 11,8%.
No Brasil, nove estados tinham em 2022 a maioria de sua população composta por pessoas em situação de pobreza.
Além da Paraíba, estavam na lista Maranhão (58,9%), Amazonas (56,7%), Alagoas (56,2%), Ceará (53,4%), Pernambuco (53,2%), Acre (52,9%), Bahia (51,6%) e Piauí (50,4%).
Além desses, outros seis estados, incluindo o RN, computaram taxas de pobreza acima da média nacional (33,0%): Amapá (49,4%), Pará (49,1%), Sergipe (47,9%), Roraima (46,8%) e Tocantins (35,8%). Todos localizados nas regiões Nordeste e Norte. O estudo aponta ainda que as menores taxas foram contabilizadas no Rio Grande do Sul (18,2%), Distrito Federal (17,3%) e Santa Catarina (13,9%).
Quatorze estados apresentaram taxas de extrema pobreza superiores à média do País (6,4%). As mais elevadas foram constatadas no Maranhão (15,9%), Acre (14,7%) e Alagoas (14,1%), índices acima dos valores observados em nações, como o Senegal (9,3%) e Honduras (12,7%), que enfrentam problemas sociais históricos.
A extrema pobreza se mostrou menor no Mato Grosso do Sul (2,8%), Distrito Federal (2,0%) e Santa Catarina (1,9%), contextos semelhantes aos de países como Peru (2,9%) e Sérvia (1,6%), porém mantendo certo distanciamento no espaço social de nações desenvolvidas como Estados Unidos (0,2%), Dinamarca (0,2%) e Noruega (0,2%).
O Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) é uma autarquia governamental vinculada à Secretaria de Economia e Planejamento (SEP), Governo do Estado do Espírito Santo. Com 47 anos de história, o IJSN é uma instituição de pesquisa que desenvolve estudos sociais, econômicos e territoriais, conjugando métodos científicos tradicionais, sofisticados e inovadores.
Confira a apresentação do estudo feito pelo IJSN.
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