Estudos do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) apontam o Rio Grande do Norte, a Bahia e o Ceará como estados que potencialmente terão o menor custo de produção de hidrogênio verde
Publicado 27 de março de 2023 às 15:30
O custo de produção de hidrogênio no Brasil é estimado entre 2 e 7 dólares por quilo em grande escala, segundo o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER). Já na Europa, devido a fatores como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do gás natural e a alta demanda, o valor pode ultrapassar atualmente 10 euros por quilo, dependendo da aplicação e da região.
De acordo com o pesquisador do ISI-ER, Raniere Rodrigues, os estados do Nordeste brasileiro são as regiões mais promissoras para a produção de hidrogênio, devido ao custo e disponibilidade de áreas. No entanto, a infraestrutura de energia disponível e a localização do mercado consumidor serão fatores estratégicos para o sucesso do negócio.
A produção de hidrogênio tem sido apontada como uma alternativa importante para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar as emissões de gases de efeito estufa. O Brasil tem potencial para se tornar um grande produtor de hidrogênio, uma vez que possui recursos renováveis abundantes, como sol, vento e biomassa.
Os dados que mostram onde e qual seria o possível custo de produção de hidrogênio até 2050 no país fazem parte de um estudo que está em desenvolvimento no Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, em parceria com a agência alemã de cooperação internacional GIZ e a consultoria Niras. O trabalho deve ser concluído ainda neste semestre.
As conclusões preliminares dos pesquisadores sobre o tema foram apresentadas por ele no Fórum Internacional de Hidrogênio Renovável, H2Tech.
O evento reuniu especialistas do Brasil e da Alemanha em Natal, durante dois dias, e foi promovido pelo Instituto SENAI como parte da programação em alusão aos 70 anos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), entidade que encabeça o Sistema FIERN, também composto por SENAI, SESI e IEL no estado.
O diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, explica que a força do Nordeste como produtor de energias renováveis traz vantagens à região, entre outros pontos, justamente pela importância dessa energia no processo de produção do hidrogênio pela chamada eletrólise, um processo físico-químico que utiliza a energia de fontes renováveis como eólica e solar.
“A produção de hidrogênio verde, necessariamente, é consequente do uso da rota da eletrólise, que é um processo que utiliza muita energia. E, para esse fim específico, essa energia deve ser renovável”, diz Mello, ressaltando que Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará são os maiores produtores de energia eólica do país, com oferta abundante de matéria-prima, portanto, para atender a indústria do hidrogênio.
A perspectiva, acrescenta, é que os custos das energias renováveis no Brasil, já em queda, continuem caindo e abram caminho para preços extremamente competitivos para o hidrogênio verde na região.
“Mas quando nós pensamos que precisamos achatar o preço de um produto para que ele tenha competitividade, precisamos necessariamente ter evoluções tecnológicas, incrementar a escala de produção e ter um balanço onde todos os fatores que influenciam de forma positiva essa produção estejam em um grau adequado de superioridade aos fatores que dificultam essa produção”, pontua ainda o diretor do ISI-ER.
Áreas
A palestra em que foram apresentados os dados preliminares do estudo, intitulada “Estratégias locacionais para prospecção de áreas e desenvolvimento de plantas de produção de H2V”, mostrou fatores que influenciam a seleção de áreas para instalação de plantas de hidrogênio e a primeira visão de onde estariam esses possíveis locais, relacionando essa possibilidade com o custo de produção do insumo.
“As expectativas em todos os estudos são de que esse hidrogênio poderia chegar a custar, em 2050, até US$ 0,50 por cada quilo, considerando aqui uma escala de produção grande, uma geração centralizada e um cenário em que o custo da energia continue caindo”, observa o pesquisador do ISI-ER, Raniere Rodrigues.
“Chegar a casa dos centavos depende de dois fatores principais: melhorar custos de investimentos em equipamentos destinados à eletrólise (processo químico utilizado em uma das rotas de produção de hidrogênio mais difundidas, em que a energia utilizada é eólica ou solar) e melhorar o preço da energia elétrica – o custo do Megawatt (MW) precisa ficar mais barato. Os custos de investimentos em eólica e solar precisa reduzir”, acrescentou o pesquisador.
A posição do Nordeste como região brasileira que mais produz energia eólica em terra e uma das maiores produtoras de energia solar, além do potencial gigantesco identificado para os próximos anos com a geração de energias renováveis no offshore (no mar), aliados à redução nos custos de produção de eólica e solar nos últimos anos, projetam não só a região, mas o Brasil entre os maiores fornecedores de energia para o mundo, no futuro, segundo Rodrigues.
Custos de produção de energia eólica e solar, observou o pesquisador, caíram em torno de 40% nos últimos 10 anos e a expectativa é que baixem em média mais 30% até 2050. “Se isso se concretizar de fato vamos chegar a 0,50 cents de dólar por quilo para o hidrogênio”, complementou, explicando que os valores associados ao hidrogênio “serão infinitamente influenciados pela potência da planta de hidrogênio, a quantidade de hidrogênio produzido, e, geograficamente, pelos custos de investimento em energia eólica e solar”.
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