Partida entre Globo e Santa Cruz de Natal, disputada em 23 de maio, motivou a abertura de procedimento investigativo para apurar a suspeita de manipulação de resultados no Campeonato Potiguar
Publicado 5 de junho de 2021 às 00:01
Não é mais novidade para ninguém que o futebol potiguar vive maus momentos dentro de campo. Fora das quatro linhas a situação também não é agradável. O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte abriu um Procedimento de Gestão Administrativa para investigar denúncias de uma possível manipulação de resultados no Campeonato Potiguar.
Instaurado no último dia 25 de maio, o processo é oriundo de uma representação feita pela Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF), que pediu ao MP que investigasse a possibilidade de fraude no jogo entre Globo e Santa Cruz de Natal, realizado no estádio Barrettão, em Ceará-Mirim, no dia 23 de maio.
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A motivação que levou a FNF a pedir a ação do órgão ministerial foi o vídeo de uma confusão que aconteceu após o apito final da referida partida, onde atletas da equipe do Globo aparecem em uma discussão ríspida com o presidente de honra do clube, o senhor Marconi Barretto. As cenas ganharam repercussão nas redes sociais e na imprensa, e acabou chegando ao presidente da FNF, José Vanildo, que determinou o envio do caso às autoridades, além do MPRN, o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Norte (TJD-RN) também foi provocado, para a apuração devida.
“A FNF pede ao Tribunal que apure e elucide os fatos para que não haja dúvidas sobre a correção de clubes e equipes em campo. Em casos confirmados, a FNF pede ao Tribunal que puna rigorosamente os envolvidos nos casos”, disse a entidade em nota oficial divulgada dia 24 de maio.
O que está sob investigação ministerial é específico e recai sobre o time de Ceará-Mirim. A investigação vai além dos 90 minutos disputados na tarde daquela segunda-feira, e analisa uma suposta parceria que o clube tinha com uma empresa de gestão que estava participando da administração da Águia.
Apesar de levantadas suspeitas sobre outros jogos envolvendo outros times, o caso do Globo foi o que chegou ao MP e está sendo investigado sob os cuidados do promotor Luiz Eduardo Marinho da 79ª Promotoria de Justiça da Comarca de Natal.
“O que chegou para mim especificamente foi relacionado a esses fatos do Globo e logicamente, por consequência, com relação a essa parceria que o clube tinha”, diz o promotor Luiz Eduardo Marinho que também falou sobre outros casos de possíveis fraudes levantadas nas redes sociais e divulgadas pela imprensa: “Eu vi essas questões de Palmeira e Assu. Ilações existem nas redes sociais e na imprensa esportiva. Agora o MP não pode ser o corregedor do futebol”, completa o promotor.
Parceria no Globo levantou suspeitas
A parceria citada pelo parquet é entre o Globo e a empresa S. A. Sport, sediada em Rio Branco, capital do Acre, e que atua, segundo o registro cadastral da empresa, com “treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”. A empresa é comandada por uma psicóloga e por seu esposo, um ex-jogador de futebol que no Brasil atuou apenas pelo Corinthians Alagoano e depois fez carreira praticamente inteira no futebol europeu, principalmente na Bulgária e em Portugal.
Desde o início da temporada a dupla passou a atuar na gestão do time de Ceará-Mirim e permaneceu até o polêmico episódio do dia 23 de maio envolvendo jogadores e o presidente de honra do clube, o empresário Marconi Barretto. Antes do jogo contra o Santa Cruz, o mandatário alterou a formação inicial do time, escalando entre os titulares os zagueiros, Bruno Costa e Helber, que não eram opção número do treinador. Os atletas escolhidos para começar o jogo, chegaram ao clube através da parceria com a S. A. Sport, no início do Campeonato Potiguar, e, segundo a assessoria do clube, foram desligados após o jogo junto com a empresa. Contudo, até o fechamento dessa matéria, a rescisão contratual deles ainda não havia sido publicada no BID.
Na tentativa de encontrar respostas para as acusações, o promotor do caso ouviu Marconi Barretto, presidente de honra do Globo, que negou qualquer possibilidade de manipulação de resultados, e justificou a interferência na escalação como uma tentativa de poupar jogadores, visto que o time já está garantido na decisão do campeonato que só se jogará nos dias 16 e 23 de junho.
O membro do parquet nos contou um pouco do que ouviu de Barretto e confessou achar estranho um fato relatado pelo dirigente: “primeiro ele disse que aquela parceria, era uma parceria informal, que não tinha nada no papel assinado. Me causou estranheza porque isso foi publicizado antes do início do campeonato, inclusive, com os sócios dessa suposta parceria, tirando fotos e indo para os jogos do Globo”. O promotor Luiz Eduardo Marinho ainda chamou a atenção para outro ponto estranho do depoimento: “ele falou o nome de uma pessoa como sendo sócio da empresa, mas o colega que fazia a audiência comigo mostrou a foto de uma senhora que supostamente seria a dona da empresa, que ela estava nessa foto junto com o marido dela, e foi aí que ele disse: ‘não, realmente eu tratei com essa mulher aí’. Mas não disse o nome dela. Então eu achei realmente uma coisa estranha nesse ponto né” concluiu o representante do MP.
Outros jogos suspeitos
Antes da movimentação que acabou levando o MP a abrir investigações, outros fatos levantaram suspeitas de manipulação de resultados no Rio Grande do Norte ainda neste ano de 2021. No início do campeonato estadual, as atenções foram voltadas para Mossoró, onde o Potiguar, após as duas primeiras rodadas da competição, sofreu uma debandada, com a saída de pelo menos seis atletas e do diretor de futebol do clube, além da renúncia do então presidente Benjamim Machado.
Um dos jogadores que deixou o Time Macho naquela oportunidade, o lateral Mattheus Gaúcho, fez declarações fortes em suas redes sociais: “Meu pai e minha mãe me deram princípios. Vagabundos sem caráter se vendem! EU NÃO! Eu respeito a tradição desse clube e eu era o maior interessado em ajudar a lutar por esse clube, mas ao invés disso desprezaram quem queria ajudar”.
Outro jogo que ganhou grande destaque nas redes sociais e na mídia foi entre Força e Luz e Assu, disputado no último dia 24 de maio. O jogo que terminou em 0 a 0, chamou bastante atenção por outros números. Só no primeiro tempo da partida foram marcados 18 escanteios, sendo 15 deles para o Assu. Ainda no decorrer do primeiro tempo, uma grande casa de apostas chegou a retirar o item “escanteios” das opções disponíveis para tentar a sorte.
Apesar de terem sido muito questionados, a crise do Potiguar e o escandaloso número de escanteios em Força e Luz e Assu, ainda não há registro de procedimentos abertos pelo MP para investigar os fatos.
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