Em tempos de efervescência social e política, reivindicar prudência no exercício das responsabilidades públicas não deve ser apenas um desejo que mostraria uma ação bem-intencionada ou altamente recomendada para política ou gestor. Deveria ser uma exigência para qualquer líder político, também válido para qualquer projeto de governo. Um requisito que se mostra essencial para a sustentabilidade, ainda que não seja regimental uma virtude essencial.
A palavra se origina do latim prudentia significando previsão e sagacidade. Trata-se da capacidade de julgar entre ações maliciosas e virtuosas, não apenas considerando um sentido geral, mas com referência a ações apropriadas num dado tempo e lugar. Não falo como uma utopia a ser aplicada integralmente, mas que precisa ser considerada pelos líderes políticos e seus projetos.
A prudência permite avaliar antes de reagir, um exercício de pesar, analisar e calcular, ou seja, pensar metodicamente. Abro um espaço para afirmar que na ação política ou gestão pública não podemos deixar de conceber que na prática seus líderes ou executores fazem o famoso cálculo político, para determinar os ganhos ou perdas daquela ação com base no seu referencial, e nele que mora o perigo do ponteiro da velocidade.
Os líderes prudentes dão o mesmo peso, ou procuram dar, aos indícios que defendem e aos que invalidam a linha de ação que planejam. Por outro lado, na era da aceleração da vida e da impaciência social, tornou-se um dos grandes obstáculos à política democrática, a criação do valor comum, interesse geral e garantias a equidade e justiça social. Essa velocidade tóxica trazida pela pós-modernidade tem afetado e potencializado de maneira drástica o censo de tomada de decisão dos nossos líderes políticos, eles agem ou querem agir na mesma velocidade dos algoritmos das redes sociais.
A prudência, entendida como bom senso e desejo de encontrar um ponto de equilíbrio que oriente determinado comportamento em direção a objetivos medidos e justos, que atendam a uma visão realista e emancipatória, torna-se uma exigência dos representantes públicos. Raros são aqueles que empregam uma visão equilibrada de conceitos tão “caros” a democracia: liberdade e justiça. A política da era digital tem se preocupado em apenas na velocidade em responder aos “anseios” sociais, sem pontuar e filtrar seus impactos à médio e longo prazo.
A prudência também nos permite avaliar não apenas prós e contras, recursos e objetivos, caminhos e objetivos, caminhos e estratégias, mas criar estratégias no bem escasso por excelência: o tempo. Só os prudentes conseguem administrar bem o ritmo do tempo. Avançar diante da visão estressante de um cronômetro que nos lembra que há um prazo mínimo para cumprir tudo não é e nunca será uma tarefa fácil, enfrentando o inevitável na gestão pública, às necessidades sociais. O tempo é tão importante quanto o impulso. Os prudentes chegam a tempo. Eles antecipam, preparam, organizam. A política tem se acostumado a ser imprudente e resolver seus problemas depois que o tempo se esgota ou prestes ao juiz apitar o fim da partida, e com isso, as decisões são incompletas, injustas, e muitas das vezes beneficiam os fins eleitoreiros.
O problema desta última, é que utilizando os recursos da narrativa, de um discurso popular, se consegue fazer perecer que aquela decisão imprudente é a melhor. Fica claro que sem prudência, não existe como tomar uma boa decisão. É certo que a prudência permite minimizar possíveis erros, evitar consequências indesejadas de certas decisões ou ações para evitar a condição irreparável ou irreversível que algumas decisões políticas erradas, tendenciosas ou insustentáveis terão na vida dos indivíduos de uma sociedade.
Eis o grande problema para o tempo das redes sociais, vaidade pública e pensamentos tóxicos, a prudência quase não tem prestígio. Ela dificilmente renderá dividendos políticos, seguidores nas redes sociais e reconhecimento mitológico. Mas gostaria de atentar para vocês que mesmo sem esses “benefícios” políticos, ela acaba sendo a âncora da boa governança, do interesse geral e da liderança exemplar que pode transformar para melhor a sociedade em que vivemos.
Artigo assinado por Thiago Medeiros, Sociólogo
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