Para Valentim, RN deve se preocupar mais com dengue que com covid

O pesquisador explica que o impacto das arboviroses na rede assistencial, hoje, é maior que o causado pela infecção do novo coronavírus

por: NOVO Notícias

Publicado 7 de junho de 2022 às 13:50

Ricardo Valentim, coordenador do LAIS

Ricardo Valentim, coordenador do LAIS – Foto: Divulgação/UFRN

O pesquisador e coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) da UFRN, Ricardo Valentim, em entrevista na manhã desta terça-feira ao Jornal da Manhã na Jovem Pan Natal, falou sobre a situação atual da pandemia de covid-19 no Rio Grande do Norte. Segundo ele, a situação das arboviroses requerem mais atenção hoje no RN do que a covid-19, mesmo com o recente aumento de casos.

O professor Ricardo Valentim aponta que a crescente contaminação pelo coronavírus que estamos vendo atualmente já era esperada, dada a observação de outros estados, como por exemplo Santa Catarina, que desde o mês de abril vem apresentando maior número de casos. Para o pesquisador, a transmissibilidade aumentar não é a questão de maior preocupação, mas sim, é preciso ficar atento se o aumento de casos vai repercutir na parte assistencial. Caso a rede de saúde local seja afetada, aí a preocupação passa a ser maior.

O aumento de casos que vemos hoje no Brasil e que está provocando a volta de algumas medidas de biossegurança, como a recomendação de uso de máscaras em ambientes fechados, está ligado a uma subvariante da ômicron, que causou um pico de casos há alguns meses.

“O que se tem dito no Brasil hoje é que essa é uma subvariante da ômicron, por isso que se tem essa burla às vacinas que nós temos hoje, mas mesmo assim, os imunizantes que nós temos hoje no mundo, ainda confere uma proteção importante com relação a essa subvariante”, disse o professor Ricardo Valentim.

Questionado sobre o poder dessa nova onda de casos, Valentim disse que ainda não é possível mensurar se o impacto será semelhante ao que teve o pico de casos provocado pela variante ômicron.

“Ainda é precipitado falar se esse aumento de casos vai ter repercussão parecida com a ômicrom. Pode até ser menor. A gente tem que observar que o aumento de casos, gripe, influenza, sempre temos todos os anos. O que é que repercute negativamente é quando o adoecimento dessas pessoas leva a um número muito grande de internações”, disse Valentim.

A possibilidade de termos ondas de casos com impacto cada vez menor é atribuída, em grande parte, ao maior número de pessoas vacinadas. O professor Ricardo Valentim explica isso com um exemplo prático em que ele relaciona o pico de casos das variantes ômicron e gama.

“No mês de janeiro, no pico da ômicron, nós chegamos a ter no máximo 120 pacientes internados, mas tivemos duas vezes mais casos na média, do que no pico da gama. Na gama tivemos a metade diária de novos casos, porém tivemos 400 pacientes internados. No pico da ômicron é um cenário diferente porque já tínhamos população vacinada. Mostrando que a vacina realmente cumpre o papel dela que é evitar que as pessoas se internem”, explica Ricardo Valentim que completa: “o equívoco que foi feito aos imunizantes logo no início é que as pessoas acreditaram que tomando a vacina não iam adoecer, mas qual o papel da vacina? é evitar a forma grave da doença, evitar internações”.

Uso de máscaras

Valentim também falou sobre o uso de máscaras e a sua importância no combate ao aumento do número de casos. Ele explica que o equipamento ainda tem sua importância, mas não é mais o principal instrumento de combate ao vírus, papel que já teve quando ainda não existia vacina para a covid. “A máscara já foi muito mais importante quando não tínhamos vacina. Hoje ela segue sendo importante, e mais ainda é o seu uso adequado”, disse.

Quando fala em “uso adequado da máscara”, Ricardo Valentim quer chamar a atenção de que a orientação para que o equipamento seja utilizado de modo correto é mais importante do que a obrigação de que todos utilizem a proteção. “Quem tem que usar máscara? Idosos, pessoas com maior risco, com comorbidades, imunossuprimidos… essas pessoas em ambientes fechados, em lugares que podem se colocar em risco, devem colocar a máscara. Falar sobre isso é mais importante do que obrigar as pessoas a usarem a máscara hoje. É polêmico mas a gente tem que falar. No pico da ômicrom, a máscara era obrigatória mas não evitou o pico”, disse.

Eventos x transmissibilidade do vírus

O pesquisador Ricardo Valentim falou também sobre o potencial de transmissibilidade do vírus em meio a eventos isolados, como o caso do ‘Pingo da Mei Dia’, tradicional evento que abriu as festividades do Mossoró Cidade Junina deste ano. Ele explica que não há, cientificamente, um estudo que comprove que os casos aumentarão na localidade onde haja algum evento isolado.

“Não existe nenhum artigo científico que relacione eventos isolados ao aumento da transmissão. Pode acontecer, mas não há relação entre o evento e a transmissão”, disse Ricardo Valentim.

Valentim explica que é mais eficaz no combato ao vírus, estimular a população jovem a completar o esquema vacinal.

“O fundamental é estimular a população jovem a se vacinar. Nós temos hoje atraso na vacinação da população jovem. Terceira dose, se a população mais jovem tomar a dose de reforço nós vamos estar protegendo muito mais a sociedade. Porque a vacina, quando comparada com medidas não farmacológicas, ela é muito mais efetiva”, disse.

Arboviroses são mais preocupantes neste momento

Outro tema comentado sobre o pesquisador Ricardo Valentim foi o aumento de casos de arboviroses no RN e a atenção que se deve dar a esse fenômeno. Para ele, essa questão é mais preocupante que o aumento de casos de covid, pois atualmente as doenças como dengue, zika e chinkungunya estão comprometendo mais a assistência médica do que a infecção causada pelo novo coronavírus.

“Com certeza – arboviroses são mais preocupantes hoje. No caso do RN, nós temos descontrole com relação a dengue. A dengue existe uma sazonalidade, mas a prevenção ela pode ocorrer. Hoje o problema que nós temos no estado é dengue. Por exemplo nós temos muito mais pacientes internados com dengue do que com covid precisando de suporte”, disse Valentim.

Ao falar sobre esse assunto, o pesquisador voltou a comentar sobre a hipótese de obrigatoriedade de máscaras, lembrando que no caso da dengue não há obrigatoriedade de uso de mosquiteiros, mas há sim, uma campanha constante de educação e conscientização.

“A gente obriga todo mundo a usar mosquiteiro em casa? Por que vamos obrigar as pessoas a usar máscara? A gente orienta a retirar o pneu, a retirar água, não deixar parada. Essas questões de educação e saúde devem ser permanentes, constantes e devem começar nas escolas”, disse Ricardo Valentim, coordenador do LAIS.

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