Cotidiano

RN tem imunização do público infantil abaixo da esperada por especialistas

Mesmo estando em terceiro lugar entre os que mais vacinam crianças, estado tem apenas 44% do público infantil imunizado. Confira o que o infectologista Kleber Luz diz sobre a vacinação infantil

por: NOVO Notícias

Publicado 25 de fevereiro de 2022 às 10:00

Vacinação de crianças

Vacinação de crianças – Foto: Carlos Azevedo/NOVO Notícias

Mesmo sendo apontado pelo Ministério da Saúde como o terceiro estado que mais vacina crianças de 5 a 11 anos contra covid no Brasil, ficando abaixo apenas do Distrito Federal e de São Paulo, o Rio Grande do Norte segue com índice abaixo do esperado. Dados do RN Mais Vacina apontam que apenas 44% desse público foi imunizado com a primeira dose. O número representa 148.966 crianças.

De acordo com o infectologista Kleber Luz, a baixa procura se deve ao fato de as famílias acharem que a covid não afetará os seus filhos e, por isso, para elas, a vacinação não é importante. “Por muito tempo se vendeu a ideia de que a covid não afetava crianças, que as crianças não morriam, que era uma doença tipicamente de pessoas idosas e, portanto, não havia a necessidade de vacinar crianças. Essa é a ideia principal que ainda faz com que as famílias não vacinem seus filhos”, disse o especialista.

Ainda segundo o médico, não há estudos que comprovem que a vacina traga mais prejuízos que benefícios à população infantil. “Não existe nada a esse respeito, nenhum estudo científico que mostre que qualquer vacina, não só a da covid, traga mais prejuízos do que a própria doença – ou que os imunizantes produzam doenças nos grupos vacinados. Pelo contrário. As vacinas sempre têm e cumprem o objetivo de proteger as pessoas das doenças. Por muito tempo se disse que ‘melhor do que tomar a vacina é ter a doença natural’. Quando você tem a doença de forma natural, você se arrisca às complicações dela. E as complicações da covid são bem estabelecidas, tanto para idosos, quanto para jovens e crianças”, explicou.

Kleber Luz ponderou, ainda, que a população não aderiu mais rapidamente ao processo de vacinação em razão das informações falsas que circularam – e continuam circulando – sobre os imunizantes. “Lamentavelmente surgiram informações equivocadas durante a campanha de imunização contra a covid, e isso fez com que os pais criassem medo de vacinar seus filhos. Por incrível que pareça, eles acreditam que deixar seus filhos adoecerem é melhor do que tomar a vacina”, disse.

Além de contribuir para o aumento no número de casos covid, como os números sugerem, a resistência de grupos pontuais contra a vacinação infantil também pode trazer consequências futuras à população. “Certamente isso vai respingar no calendário vacinal e nos próximos anos vamos começar a ver casos de difteria, de paralisia infantil, epidemias de coqueluche, caxumba etc. Porque combater vacina não é combater só um tipo, é combater todo um programa nacional de imunização que foi construído ao longo de décadas”, afirmou o infectologista.

As novas tecnologias para produção de vacinas têm se demonstrado muito eficazes contra o coronavírus, principalmente a de RNA – uma tecnologia inédita e considerada um grande avanço da medicina. Esta, no entanto, tem sido alvo de muita desinformação.

“As tecnologias atuais de produção de vacinas são novas. E essas novas tecnologias serão utilizadas para a produção de novas vacinas, com o uso de vetores virais, de proteínas recombinantes, de RNA mensageiro etc. Nós estamos em 2022, não em 1930, quando se fazia vacina com gema de ovo, cérebro de pato ou de rato. Esse tempo já passou e a gente tem que usar as novas tecnologias, que já estão disponíveis e são absolutamente seguras, eficazes e que rapidamente conseguem vacinar a população”, explicou Kleber Luz.

Um dos mitos sobre a nova tecnologia é que, futuramente, a vacina desenvolvida dessa forma pode causar câncer nas crianças imunizadas. “A causa do câncer no grupo pediátrico, na grande maioria das vezes, está estabelecida. Alguns vírus, por exemplo, são naturalmente causas de câncer. Mas não existe nenhuma relação entre o uso de qualquer vacina, sejam as mais antigas ou as mais modernas, com a causa de câncer. Vacina definitivamente não causa câncer, nem tem poder de modificar o DNA de uma criança – isso é quase impossível. DNA é uma coisa fixa. Você nasce com ele e morre com ele”, explicou o especialista.

Outro ponto que tem causado dúvida sobre a vacinação é o fato de pessoas imunizadas continuarem sendo infectadas pelo coronavírus. O infectologista Kleber Luz explica que não existe uma vacina, contra qualquer doença, que proteja 100% das pessoas que tomam. “As melhores vacinas dão proteção de 95% a 97%. E a vacina utilizada no Brasil dá 85% de proteção. Isso significa que se eu vacinar 100 pessoas, 15 não estarão protegidas. Essas 15 pessoas podem adoecer e vai chegar em um momento em que eu vejo mais gente doente vacinada do que não vacinada. Essa é uma conta de padeiro, muito simples. Por isso que a gente vê pessoas que tomaram a vacina e estão doentes. Mas há uma grande vantagem nisso: normalmente essas pessoas têm a doença branda, leve”, pontuou.

“A vacina tem dois maiores objetivos. O primeiro é evitar o adoecer, o segundo é morrer. E todo mundo sabe que a covid vai matar 1% a 1,5% das pessoas. É uma doença extremamente grave pela sua capacidade de transmissibilidade e de letalidade. Mesmo dando uma diminuída, as UTIs continuam lotadas, o Estado continua registrando 5 ou 8 óbitos por dia, e as pessoas precisam ser vacinadas. Mas, lamentavelmente, a gente vê até idosos que não se vacinaram. E essas pessoas estão tendo covid e morrendo. Beira o absurdo você ter uma doença imunoprevenível, ter a vacina, não tomá-la, pegar a doença e morrer. Isso não pode acontecer”, concluiu.

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