Para evitar a polarização política, os candidatos à prefeitura de Natal, Paulinho Freire (União) e Natália Bonavides (PT), limitaram a exposição de seus principais aliados políticos em ações de propaganda. Com a campanha mais curta em 2024 — entre 30 de agosto e 3 de outubro —, os dois candidatos focam em ataques mútuos e críticas ao líder nas pesquisas eleitorais mais recentes, o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD).
Na campanha de Natália, a governadora do Estado, Fátima Bezerra, e o presidente Lula têm aparições discretas. No caso de Paulinho, prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), e o ex-presidente Jair Bolsonaro não têm grande destaque.
O NOVO analisou as postagens dos dois candidatos nas redes sociais Facebook, Instagram e Youtube, entre 2 de agosto e 6 de setembro, contabilizando pelo menos 480 inserções.
No Instagram de Natália Bonavides, Lula aparece em pouco mais de 5% das postagens, com destaque para um vídeo em que o presidente elogia a candidata, com a legenda: “Natália é a prefeita de Lula”. As aparições de Lula são em programas de TV replicados nas redes sociais, com inserções médias de 15 segundos.
A governadora Fátima Bezerra aparece diretamente em apenas um vídeo de propaganda de TV, com elogios à trajetória política de Natália. Fátima está presente em cerca de 6% das inserções, apenas em atos públicos.
Na campanha de Paulinho Freire, a participação dos aliados também é limitada. O prefeito Álvaro Dias aparece em 6% das publicações. Em um dos vídeos, Paulinho homenageia o atual prefeito pelo seu aniversário.
O ex-presidente Jair Bolsonaro aparece em apenas 2% das postagens de Paulinho, com vídeos recortados de um pronunciamento feito durante sua passagem por Natal em 15 de agosto.
O distanciamento dos principais aliados políticos pode estar relacionado aos números negativos nas avaliações dos governos municipal e estadual. Uma pesquisa da Quaest, realizada entre 23 e 25 de agosto e divulgada pela Inter TV Cabugi, mostra que apenas 37% dos eleitores de Natal consideram a gestão de Álvaro Dias positiva. Outros 31% veem a administração como regular e 27% a avaliam como negativa.
Em relação ao governo estadual, liderado por Fátima Bezerra, apenas 20% dos eleitores de Natal têm uma avaliação positiva, 27% consideram o governo regular e 49% o avaliam negativamente.
Outra pesquisa, do instituto Ipec, aponta que 47% dos eleitores preferem um candidato que não esteja alinhado nem ao presidente Lula nem ao ex-presidente Bolsonaro. Ainda de acordo com a pesquisa, apenas 27% disseram preferir um candidato apoiado por Lula, 20% por Bolsonaro, e 7% não souberam ou não responderam.
Para o cientista político Homero Costa, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e autor do livro “Crise dos Partidos: Democracia e Reforma Política no Brasil” (2012, Paco Editorial), a redução nas aparições dos principais aliados está ligada às estratégias de campanha dos candidatos.
“A pouca inserção deles [Lula e Fátima, além de Bolsonaro e Álvaro Dias] tanto em capitais como em cidades do interior pode ser atribuída às respectivas campanhas, o foco nos problemas das cidades, etc. O que é decisivo no voto? Pautas econômicas e sociais ou pautas conservadoras? São vários fatores, inclusive a avaliação dos que pretendem se reeleger, mas há de se considerar o papel do marketing, da religião (há quem se aproveite disso) e das redes sociais”, comenta.
Ele ressalta que as eleições municipais têm particularidades que as diferem das disputas para presidente e governador. “Mesmo que um presidente ou governador seja bem avaliado, isso não se traduz automaticamente em votos para os candidatos que apoiam”, explica.
Ainda segundo Costa, não está claro se a polarização política das últimas eleições — com o antagonismo entre políticos de esquerda e direita — terá impacto na disputa em Natal. “As estratégias variam muito nas eleições para prefeito, e aplicar o mesmo cenário de outras cidades maiores, como São Paulo, nem sempre é adequado. O foco deve estar em apresentar propostas viáveis, e não apenas em desqualificar adversários”, complementa.
O cientista político conclui criticando a superficialidade de muitas campanhas, especialmente de candidatos a vereador. “Muitos não conhecem as atribuições constitucionais do cargo e repetem slogans e generalidades sobre segurança, saúde e educação, temas que nem são de sua alçada. E os que têm um projeto político não conseguem apresentá-lo de forma clara”, finaliza.
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