Polícia

Trilha da morte: o rastro da violência na Zona Norte de Natal

Confira passo a passo das mortes registradas na região após assassinato de filha de PM

por: NOVO Notícias

Publicado 14 de agosto de 2021 às 00:07

Mapa dos crimes na Zona Norte

Mapa dos crimes na Zona Norte de Natal – Ilustração: NOVO Notícias

“Muitos tiros aqui, agora, vários carros pretos rodando na direção das casas da Baixada!”
“Uns caras encapuzados me pararam, jogaram minha farda no chão e me acusaram ser de facção. Depois, mandaram eu ir embora pra não morrer!” Esses foram alguns dos relatos de moradores da Zona Norte de Natal, durante as madrugadas sangrentas naquela região da cidade, nessa última semana, quando oito homicídios foram registrados e impressionaram a capital potiguar.

“Em razão da recenticidade dos fatos e do sigilo da investigação, não é possível afirmar no momento que as ocorrências estejam relacionadas entre si”, informou a Polícia Civil do Rio Grande do Norte ao NOVO.
Os autores das mortes na Zona Norte não fizeram questão de ser discretos; pelo contrário, queriam mostrar o poder de fogo que têm e espalhar o pavor. Por trás dos vidros das janelas, das sacadas, de dentro de casa, os moradores não só testemunharam, como registraram em diversos vídeos e áudios nas redes sociais, uma das noites de maior terror em Natal.

Tudo começou após a morte da pequena Laura Cortez, a filha de 4 anos do PM Wendel Cortez, no início da tarde do último domingo (8), Dia dos Pais. Ela foi morta a tiros quando saía de casa acompanhada do pai e de uma irmã. Laura foi vítima de uma emboscada, que tinha como alvo seu Wendel.

Após o acontecimento, uma série de assassinatos se iniciou pela ZN. O primeiro homicídio aconteceu no Alto da Torre, Redinha, por voltas das 21h, na rua Construtor Severino Bezerra. A vítima foi reconhecida como Lucas Mateus Lima de Silva, de 22 anos.

Dez minutos depois, aconteceu a segunda ocorrência na rua Laranjeiras, no bairro Potengi. Segundo informações, homens armados efetuaram disparos contra Samuel de Souza da Silva, de 31 anos. A vítima morreu ainda no local.
Em seguida, na rua Eucalipto, no Vale Dourado, Erinaldo Rosa, de 33 anos, também foi morto a tiros, às 21h30. A vítima possuía processos na Justiça por associação ao tráfico. O terceiro homicídio também aconteceu na Redinha, na rua Renascer. Bruno Gimenes de Oliveira, de 27 anos, foi mais um a ser vítima de arma de fogo durante a madrugada, por volta das 2h30 da segunda-feira (9). A família informou que Bruno trabalhava há nove anos na empresa Guararapes, não tinha passagem pela polícia e foi vítima de uma violência “bárbara”.

O pânico se espalhava e mensagens eram compartilhadas na internet. Avisos atribuídos a facções criminosas orientavam os moradores de algumas comunidades em Natal e na Região Metropolitana que ficassem atentos durante a noite daquela segunda-feira (9) e evitassem sair pelas ruas. O comunicado justificava a orientação como sendo para a “segurança da quebrada e visando sempre a vida de inocentes”. O aviso era direcionado, principalmente, para moradores do “Gola (Golandim), Sarney (Loteamento José Sarney), Gramoré, Lola (Jardim Lola) e Paju (Pajuçara).

Pouco depois da meia noite da terça-feira (10), o quinto homicídio ocorreu no bairro Nossa Senhora da Apresentação, na rua Monte Sinai. A vítima foi identificada como Bruno Alexandre Pereira Batista, de 28 anos. Segundo relatos, homens invadiram a residência da vítima e assassinaram o rapaz. De acordo com o pai de Bruno, o filho já havia respondido na justiça pelo crime de tráfico de entorpecentes.

Novamente, após dez minutos da última morte, um duplo homicídio foi registrado. Os irmãos Irinaldo Ferreira da Silva, de 23 ano, e Reginaldo Ferreira da Silva, de 27, estavam em casa quando seus algozes adentraram a residência e efetuaram disparos contra as duas vítimas. Reginaldo tinha processos na Justiça por ameaça, violência doméstica e tráfico de entorpecentes. Em contato com o NOVO, a família diz estar muito abalada com as perdas e que desconhece as motivações do crime.

Às seis horas da manhã do dia 11, aconteceu o oitavo homicídio. Luiz Felipe Bezerra da Silva, de 33 anos, foi perseguido por dois veículos pelo bairro de Igapó, quando foi abordado pelos criminosos na rua Pastor Joaquim Batista de Macedo. A vítima teve o carro alvejado, conseguiu fugir do veículo, entretanto, apesar dos esforços em se manter vivo, ele acabou sendo atingido e caiu sem vida na rua Presidente Médici.

O secretário estadual de Segurança Pública, Coronel Francisco Araújo, informou que só após as investigações comandadas pela Polícia Civil é que será possível dizer se há alguma relação entre a série de homicídios. “Não posso dizer que há relação entre os crimes ou que eles estão relacionados com a morte da criança na Zona Norte de Natal”, explicou.

Embora os assassinatos tenham muita semelhança, a Polícia Civil ainda não possui indícios suficientes para relacionar todos os homicídios. Até o fechamento desta matéria, ninguém tinha sido preso.
“A Polícia Civil do Rio Grande do Norte informa que os homicídios ocorridos no último domingo (8) e segunda-feira (9), na Zona Norte de Natal, estão sendo apurados pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A confirmação da relação dos crimes somente será tomada após os depoimentos, conclusão de laudos periciais e demais diligências que estão sendo realizadas. A instituição ressalta que todos os esforços estão sendo empregados para elucidação dos crimes, informou a assessoria de imprensa do órgão.

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