Após um mês de enchentes no RS, população teme uma demora ainda maior no retorno para a casa. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Após um mês de enchentes no RS, população teme uma demora ainda maior no retorno para a casa. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Cotidiano

Clima O que está longe do normal no RS após quase um mês de enchentes

Partes da região sul, região metropolitana, litoral e Serra Gaúcha estão em alerta de risco geológico e hidrológico, com ventos fortes (acima de 80 km/h) e chuva intensa. Também há previsão de possível ressaca no litoral

por: NOVO Notícias

Publicado 28 de maio de 2024 às 17:30

Após um mês de enchentes no RS, população teme uma demora ainda maior no retorno para a casa. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Após um mês de enchentes no RS, população teme uma demora ainda maior no retorno para a casa. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul (RS) completa um mês de devastação pelas enchentes nesta semana com uma situação ainda muito longe da realidade ou até de um “novo normal”. Com a formação de um ciclone pela costa sul nesta terça-feira (28) sistemas de drenagem colapsados e parte dos cursos d’água acima da cota de inundação, a população teme uma demora ainda maior no retorno para a casa, o trabalho e a escola, assim como na retomada dos diversos serviços básicos que continuam impactados.

Partes da região sul, região metropolitana, litoral e Serra Gaúcha estão em alerta de risco geológico e hidrológico, com ventos fortes (acima de 80 km/h) e chuva intensa. Também há previsão de possível ressaca no litoral. As ventanias influenciam e dificultam o escoamento da água a depender da direção.

– Bairros seguem inundados em Porto Alegre, Canoas e outros municípios da região metropolitana, diante de problemas nos sistemas de escoamento.

– Na região sul, cidades, como Pelotas, enfrentam impacto da cheia e temem maior elevação nos próximos dias. “O momento é crítico e de alerta total”, resumiu Paula Mascarenhas (PSDB), prefeita da cidade em postagem nesta terça.

Além disso, a busca por 53 desaparecidos segue em curso, com dificuldade nos trabalhos, principalmente em áreas de deslizamento, devido à chuva e solo encharcado. Ao todo, foram confirmados 169 óbitos. Grande parte dos estabelecimentos comerciais, de serviços e industriais não retornou, assim como estão sendo contabilizados danos às lavouras.

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Ao todo, a chuva extrema, as enchentes e os deslizamentos afetaram mais de 2,3 milhões de pessoas em 469 dos 497 municípios. Segundo a Defesa Civil, 48,7 mil pessoas seguem em abrigos por tempo indeterminado, enquanto mais de 581,6 mil foram desalojadas (morando “de favor” na casa de amigos, parentes e conhecidos, dentre outros situações).

Parte dos bairros segue inundado na capital gaúcha e de outros municípios da região metropolitana, com o Lago Guaíba, o Rio dos Sinos e o Rio Gravataí acima da cota de inundação. A situação preocupa principalmente no entorno da Lagoa das Patos (na chamada Costa Doce), por ser onde deságua o Guaíba (e, consequentemente, as águas de outros grandes rios que passam por Porto Alegre).

Inundações e drenagem

Em Porto Alegre, a segunda-feira, 27, foi marcada por mais protestos de moradores de bairros da zona norte, como Sarandi, Humaitá e Anchieta, que continuam debaixo d’água, enquanto a enchente recuou em bairros centrais e de maior renda.

A mobilização levou a uma ação conjunta dos governos para destinar mais uma bomba de drenagem ao local, onde grande parte das casas de bombeamento estão parcial ou totalmente inoperantes

No auge da crise, apenas 4 das 23 funcionavam na cidade. Por enquanto, quatro das nove bombas flutuantes de alta capacidade emprestadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) operam na capital gaúcha, enquanto outras sete foram emprestadas a Canoas e Novo Hamburgo, dois dos municípios mais afetados da região metropolitana.

Outras 10 bombas de menor capacidade operam em Porto Alegre, das quais sete foram emprestadas por arrozeiros para a drenagem do entorno do aeroporto, enquanto outras três operam no entorno do chamado 4º Distrito – conjunto de bairros de passado industrial. Segundo a prefeitura, todas vão contribuir para baixar as inundações da zona norte.

Escolas: aulas seguem suspensas

Ao todo, 1.077 das 2.340 escolas foram afetadas de alguma forma, impactando 391,3 mil estudantes, de acordo com o Estado. Do total, 581 escolas sofreram danos, enquanto as demais ficaram sem acesso, viraram abrigos, estão sem serviços básicos (como energia) ou tiveram outros problemas. Além disso, 464 escolas não voltaram às aulas, das quais 221 não têm previsão de retorno

O total não considera aquelas que paralisaram as aulas por causa do ciclone. As atividades estão suspensas em todas as instituições de Rio Grande e Pelotas, na Costa Doce, por exemplo

Na capital, as aulas estão suspensas em toda a rede pública ao menos até quarta-feira, 29. Após mobilização do setor privado, contudo, o prefeito Sebastião Melo (MDB) revogou a suspensão na rede particular ainda na segunda-feira. Além disso, 41 escolas municipais e conveniadas ao Município não têm previsão de retorno, por causa dos impactos sofridos pela enchente.

Mobilidade e transporte: 60 trechos bloqueados

Os impactos envolvem, também, dificuldades de mobilidade e transporte. Ao todo, 60 trechos seguem total ou parcialmente bloqueados em rodovias estaduais e federais. A situação envolve desde quedas de barreira até pontes colapsadas.

Dos pontos de travessia implantados pelo Exército em localidade praticamente isoladas, um recebeu nova passarela flutuante, enquanto cinco têm transporte apenas por botes e dois estão em preparação para receber novas passadeiras. O porto da capital gaúcha segue inoperante, enquanto as atividades estão mantidas em Rio Grande e Pelotas.

Em Porto Alegre, segue sem previsão o retorno do aeroporto, da rodoviária e das estações de trem metropolitano, assim como a dificuldade de conexão com municípios vizinhos resultou na abertura de três “corredores humanitários” improvisados (com pedregulhos e sedimentos) – o mais recente inaugurado nesta terça, nas imediações da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), na zona norte, que segue alagada. A situação tem gerado lentidão e engarrafamentos.

Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), ainda há ao menos 43 bloqueios totais e 14 bloqueios parciais em vias até as 9h desta terça. Há casos de avenidas com queda de talude e afundamento, dentre outros problemas.

Na aviação, a Base Aérea de Canoas passou a operar voos comerciais na segunda-feira, mas em volume reduzido e exclusivamente para aeroportos de São Paulo. Partes dos terminais do interior e de Santa Catarina teve um aumento emergencial da malha, com o indicativo de que mais ampliações serão anunciadas pelo governo federal.

Lixo e entulhos: orientação de não colocar materiais nas ruas

Com o ciclone, parte dos municípios orientou a população a não colocar lixos nas ruas. A determinação ocorre após Porto Alegre ter sofrido com novos alagamentos em grande parte da cidade na semana passada, após o município pedir aos moradores para colocar nas calçadas os móveis e outros itens atingidos pelas enchentes – o que dificultou ainda mais o escoamento de água na afetada rede de drenagem.

Água e luz: 123 mil imóveis sem energia

No auge da crise, grande parte dos municípios enfrentou falta de energia e, principalmente, de água por dias e até semanas. A situação atual é de mais de 123,8 mil imóveis ainda sem luz, segundo balanço do Estado da manhã desta terça.

O fornecimento de água também não está normalizado. Em Porto Alegre, uma das estações de tratamento está com vazão reduzida, pelo acúmulo de lixo e turbidez da água, enquanto não há previsão para o retorno da estação do bairro Arquipélago, que atende às ilhas da cidade.

Saúde: apoio de hospitais de campanha

Parte dos postos de saúde e hospitais ainda não voltou no interior e na região metropolitana. Ao menos 12 hospitais de campanha foram montados pelas Forças Armadas.

Com a exposição da população à água contaminada, casos de leptospirose estão com alta no Estado. Ao menos seis mortes pela doença estão confirmadas em cidades do interior e da região metropolitana. Ao todo, 124 casos estavam confirmados e 922 estavam em investigação, de acordo com balanço de segunda.

Barragens: estruturas em alerta

A Barragem Salto, em São Francisco de Paula, na serra, continua classificada em alerta de emergência, com “risco de ruptura iminente”, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Ao todo, a agência nacional e o Estado monitoram outras seis barragens em nível de alerta (em municípios como Bento Gonçalves, na Serra). Outras 10 estão em estado de atenção, em cidades como Porto Alegre e Viamão, na região metropolitana, e Canela, na Serra.

Cultura e eventos: espaços fechados

Grande parte dos principais museus e centros culturais do Estado segue fechada por tempo indeterminado. Em algumas cidades, foram iniciados mutirões de limpeza e de recuperação de acervos afetados. Na capital, a realização de eventos públicos está proibida ao menos até esta quarta-feira (29).

Abrigos: 48,7 mil pessoas em 681 espaços

Ao todo, o Estado contabiliza 48,7 mil pessoas em 681 abrigos de 91 municípios. As cidades com mais pessoas em abrigos são São Leopoldo, Canoas, Porto Alegre, Gravataí, Novo Hamburgo e Cachoeirinha, todas na região metropolitana. Os números envolvem a localidade onde as pessoas estão, enquanto municípios muito afetados tiveram uma migração de desabrigados para cidades vizinhas.

Parte dos abrigos tem enfrentado a desmobilização de voluntários e a necessidade de fechamento. Em um censo feito do Estado, identificou-se a presença de 14 mil crianças e adolescentes (das quais 3,7 mil de até 5 anos), 1,9 mil pessoas com deficiência e 7 mil idosos nesses lugares.

 

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