Em Natal, o mês de março já pode ser considerado um dos mais quentes de 2024, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Só nele foram 12 dias com temperaturas que chegaram ou ultrapassaram a marca de 32°C. Em fevereiro, houve o registro de seis dias com temperaturas máximas que atingiram a casa dos 32°. Já em janeiro, a capital potiguar não chegou à marca em nenhum dos 31 dias.
Em 2024, o dia mais quente em Natal foi 19 de março, quando os termômetros atingiram 32,9°C. Já em 2023, entre os três primeiros meses do ano, o dia mais quente foi o 14 de janeiro, quando a máxima chegou aos 31,7°C. Entre os meses de janeiro e março do ano anterior, Natal não registrou, de acordo com o Inmet, temperatura na casa dos 32ºC.
Lúcio Medeiros, de 43 anos, faz o mesmo trajeto de ônibus há quase cinco anos, saindo do bairro onde mora, em Neópolis, na Zona Sul de Natal, até o Alecrim, na Zona Leste, onde trabalha como vendedor em uma loja de artigos para animais.
“Eu já estou acostumado a enfrentar o sol todo dia na parada de ônibus e quando estou a caminho do trabalho também, porque a gente não fica livre do calor dentro do ônibus, mas nesses últimos dias a situação parece estar muito mais complicada. Preciso levar uma camiseta extra para trocar quando chego no trabalho, porque quase sempre a que visto em casa chega molhada de suor”, relata Lúcio Medeiros.
Ele conta que vê cada vez mais gente precisando recorrer a alguns equipamentos para tentar amenizar o calor. “Vejo muita gente usando sombrinha, mesmo sem chuva. Também têm muitas pessoas se abanando com leques, ou mesmo com qualquer encarte que recebe na rua mesmo, e usam para se abanar. A garrafinha de água eu mesmo adotei, porque tenho medo de passar mal como já vi dentro do ônibus uma pessoa desmaiando e tendo que ser atendida pelo Samu”, conta.
Gilmar Bistrot conta ainda o motivo dessa umidade ter se aglomerado próximo ao Rio Grande do Norte, trazendo tanto calor para a região. “Ela – umidade – está sendo gerada pelo Oceano Atlântico, aqui próximo do litoral do Nordeste, porque o oceano está com águas mais aquecidas que o normal. Em algumas áreas próximas ao litoral do estado, a temperatura está em torno de 29 a 30 graus, e isso libera muita umidade. E como o vento está fraco, essa umidade não é espalhada para o interior do Nordeste, e ela acaba ficando concentrada aqui no litoral, mantendo esse calor”.
O período de calor acima da média tem assustado a população, mas não será uma constante. De acordo com o meteorologista Gilmar Bristot, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), a temperatura deve começar a diminuir já nesta semana. Ele explica que o clima quente que enfrentamos aqui não tem relação com o calor registrado em estados de outras regiões do país, e que chuvas devem estar chegando na costa potiguar nos próximos dias, o que vai ajudar a baixar a temperatura.
“Isso que está acontecendo aqui não tem nada a ver com a massa de ar quente, aquela onda de calor que atingiu os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Isso aqui é devido exatamente a uma condição do Oceano Atlântico, que esse ano tem apresentado águas mais aquecidas”, diz Bristot.
O especialista explica que condição é essa que está ocorrendo no Oceano Atlântico e que afeta a temperatura aqui no RN.
“Essa temperatura tem sido maior, com sensação térmica de mais calor, abafamento, e isso aí está se dando exatamente porque nós estamos com uma oscilação desfavorável para chuva, que começou pelo dia 10 de março e deve perdurar pelos próximos dias. É uma oscilação que cria uma alta pressão sobre a superfície, mantendo assim a umidade presa. Quando tem estabilidade essa umidade se transforma em chuva, e quando não tem, essa umidade fica aprisionada, retendo calor aqui próximo da superfície, como um efeito estufa natural”, explica Gilmar Bristot.
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