Cotidiano

A internet que mata: morte de adolescente acende alerta sobre depressão entre jovens

Os pais de Lucas Santos fazem da dor e do luto, o combustível para buscar condições de impedir novos casos como o do jovem de 16 anos

por: NOVO Notícias

Publicado 7 de agosto de 2021 às 00:02

César Soanata

César Soanata, pai do jovem Lucas Santos -Foto: Carlos Azevedo/NOVO Notícias

O Brasil foi impactado nesta semana com a morte do jovem Lucas Santos, de apenas 16 anos, na cidade de Natal. Filho da cantora Walkyria Santos e do cantor César Soanata, o jovem foi encontrado sem vida na manhã da última terça-feira (3), no apartamento onde morava com a mãe.

O triste episódio escancarou um problema pouco debatido no país e que tem um potencial de destruição muito grande: a depressão em jovens e adolescentes. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) aponta que o suicídio é a terceira maior causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos, e a segunda entre 15 e 29 anos.

O psicólogo Robério Nunes Maia, conselheiro do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-RN), conta que tirar a própria vida é a atitude extrema de pessoas que sofrem com transtornos e que, quando não vislumbram mais uma solução, veem na morte o silêncio dos seus problemas. “O que temos visto nas demandas dessa faixa [jovens de 15 a 29 anos] é que o mundo contemporâneo vem fazendo uma série de exigências e de cobranças, e a gente vai se responsabilizando, criando uma cultura de responsabilização pelo sucesso”, diz Robério Nunes Maia, ao falar sobre processos que levam ao adoecimento por transtornos psicossomáticos.

O especialista alerta ainda para a presença dos jovens nas redes sociais: “às vezes as redes sociais são o único lugar que o adolescente encontra para fazer o laço social dele. É onde ele tem o maior grupo de amigos, e é onde ele consegue interagir mais. Esses laços tanto são para o bem como para o mal”.

Com o avanço das tecnologias e o surgimento das redes sociais, onde cada vez mais pessoas se sentem no direito de dizer o que pensam sem sequer ponderar os efeitos de suas palavras, ataques dos chamados ‘haters’, ou odiadores na tradução literal da palavra, atingem diretamente o psicológico de quem está exposto na rede, e na maioria das vezes os usuários são crianças e adolescentes, como o caso de Lucas Santos.

Em meio a dor do luto, o pai de Lucas, o cantor César Soanata tem encontrado forças para suportar a perda do filho, e erguer a voz com a intenção de fazer com que a morte dele não seja em vão. O artista potiguar diz que pretende movimentar o Brasil inteiro para tentar colocar um freio nos ataques de ódio que ultrapassam limites.

Discurso semelhante ao de Walkyria Santos, mãe de Lucas, que em vídeo divulgado no seu perfil oficial no Instagram, fez um desabafo emocionado, contando sobre a dor que estava sentindo e deixando um alerta para os pais, que não deixem de conversar com os seus filhos, e sempre acompanhem o que estão fazendo na rede.

Walkyria Santos e Lucas Santos

Walkyria Santos e o filho Lucas Santos – Foto: Reprodução/Instagram

O assunto tem ganhado destaque em todo o país e o clamor dos pais de Lucas começa a ecoar nos corredores do Congresso Nacional, em Brasília. O deputado federal Julian Lemos (PSL/PB) apresentou o Projeto de Lei nº 2699/2021, batizado de “Lucas Santos”, em homenagem ao jovem potiguar. O PL busca a criminalização da prática de “hater” no mundo virtual.

Algumas pessoas misturam o seu direito democrático de se expressar para atacar a honra das pessoas e existe algo ainda muito pior que isso, porque além de fazer esse tipo de coisa, algumas pessoas se escondem no anonimato, que é o único refúgio dos covardes. A rede social é um lugar livre para você expressar suas opiniões. Mas para destruir pessoas não”, diz o deputado Julian Lemos, propositor da matéria.

“Todo dia tem jovem tirando a própria vida devido à depressão”

César Soanata considera que a morte do seu filho não foi exclusivamente causada pelos ataques nas redes sociais, contudo, ele não exime de culpa os “haters” que martelaram a cabeça do adolescente com uma das mais cruéis e covardes armas: a ofensa completamente gratuita.

A dor que ele sente está sendo utilizada como o combustível para buscar condições de impedir o surgimento de novos casos como o de Lucas Santos, e com isso garantir que vidas possam ser salvas.

Todo dia tem jovem tirando a própria vida por causa da depressão, e principalmente por causa desses juízes da internet. Esses caras que se sentem no direito de colocar o dedo na ferida. Isso não pode ficar desse jeito. Não pode. Para tudo se tem uma regra, uma lei, seja lá o que for. Por que que isso está tão banal? Por que as pessoas se sentem no direito de criticar, de julgar, de arrasar, de serem homofóbicos, de mexer com o sentimento do ser humano? Qual o direito que eles têm? Quem deu esse diploma de juízes a eles?”, diz César Soanata, que complementa: “uma coisa é certa, a gente vai fazer. Como e o que a gente não sabe ainda. Mas iremos começar já, o quanto antes. Já começamos. Não vamos parar por aí”.

Acompanhe o relato de César Soanata, pai de Lucas Santos

 

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