Em duas décadas, os Estados Unidos registraram um salto nos diagnósticos de autismo. Enquanto nos anos 2000, havia um caso de autismo para cada 150 crianças observadas, em 2020, o número passou para um em cada 36 crianças. Os números do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – divulgados somente neste ano – revelam não apenas um crescimento no número de pacientes autistas em solo norte-americano, mas explicam (em parte) o aumento do interesse pelo transtorno no mundo.
No Brasil, não há dados claros. Mas alguns números mostram a mesma tendência. Em 2019, a Unimed Natal, maior plano de saúde do Rio Grande do Norte, registrava apenas 25 beneficiários com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em 2023, o número já ultrapassa 2,5 mil usuários.
Diante de tantos casos registrados, a ciência busca estratégias para minimizar, cada vez mais, os impactos em uma sociedade que, atualmente, tem crianças diagnosticadas, mas que terá que conviver, no futuro, com adultos autistas. Uma delas é o diagnóstico cada vez mais precoce do TEA, como defende a neuropediatra Barbara Macedo.
Médica pela PUC de São Paulo, com Residência em Pediatria e Neuropediatria pela Santa Casa de SP e Especialista em Neurodesenvolvimento, ela estará na capital potiguar entre os dias 28 de agosto e 1º de setembro prestando uma série de atendimentos às famílias de beneficiários autistas da Unimed Natal. Além disso, concederá palestra voltada aos pediatras, no dia 30 de agosto à noite, na Associação Médica do Rio Grande do Norte (AMRN). O evento que tem à frente a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Norte (Sopern).
“Nós sabemos que o bebê é um ser extremamente sociável. Então, o primeiro sinal que precisamos observar é a dificuldade de um contato visual da criança, logo no primeiro ou no segundo ano de vida. Este é um sinal significativo”, explica a neuropediatra, que atua na equipe clínica do Centro Especializado em TEA da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ela relata outros indícios de que algo pode estar errado. Por exemplo, aos 12 meses, é esperado que a criança utilize uma linguagem não verbal, mas com um vocabulário maior que faz sentido como “mã” ou “pá”, na tentativa de pronunciar “mãe”, “pai” ou outras palavras.
Ainda com um ano de idade, é esperado que ela tenha comportamentos sociais com dar tchau, mandar beijo e brincar de esconder o rosto. “A partir dos 18 meses, esperamos aqueles sinais que são mais clássicos: a criança precisa apontar, mas além disso, olhar para o que está apontando e olhar de volta para os pais, por ela estar compartilhando o que está vendo”, acrescenta.
Individualização
Reforçando a necessidade de buscar acompanhamento o mais cedo possível, a especialista acrescenta que é importante que os pais entendam que, em se tratando do TEA, a individualização é importante. O conceito de “espectro” encaixa bem na explicação: o transtorno se apresenta de formas múltiplas, havendo uma enorme diversidade na condição.
“Apesar de termos toda uma discussão no sentido de terapias que realmente melhoram, terapias que não são sustentadas por evidências científicas robustas, a intervenção precisa ser individualizada na família, na escola, que o paciente está inserido, nas questões sociais. Tudo isso precisa ser levado em conta”, esclarece e explana que é preciso estar atento se a terapia está surtindo efeito. “O principal de surtir efeito é realmente a gente ver o resultado no dia a dia, conforme a criança vai ganhando aquisições é a principal forma de visualizarmos isso”.
Cientificamente comprovado
Ela alerta, porém, que é preciso que as famílias busquem sempre informação para saber se o que está sendo aplicado é cientificamente comprovado. Artigos científicos que geram diretrizes nacionais e internacionais são um dos caminhos orientados pela Dra. Barbara.
“Baseamos toda nossa medicina em evidências científicas que devem ser indicadas para crianças com Transtorno do Espectro Autista. O principal foco quando se fala de um artigo científico é que ele possa ser replicável. Ou seja, se você faz ele de novo, ele vai apresentar os mesmos resultados. E a família pode procurar essas diretrizes, ver os protocolos e buscar se aquilo que seu filho está fazendo realmente tem evidências de que há melhoras. ‘Estou perdendo tempo’ ou ‘trocando por uma terapia que poderia apresentar muito mais melhoras para ele?’. Esse é o questionamento que deve ser feito”.
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