Principal hospital público do RN tem o maior registro de acidentados de motos na sua história e média não para de crescer. Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) e o Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Norte (MPT/RN) mantém projeto interinstitucional Trânsito Cidadão, de prevenção a acidentes
Publicado 29 de abril de 2024 às 15:00
O Hospital Estadual Monsenhor Walfredo Gurgel atendeu em março deste ano 765 pessoas vítimas de acidente de moto. Esse número é o recorde registrado desde que a unidade começou a implantar um monitoramento mais preciso para este tipo de ocorrência.
Este número, dividido pela quantidade de dias do mês, resulta em quase 24 atendimentos diários. É como se a cada hora, todos os dias, uma pessoa vítima de acidente de moto fosse levada à porta da unidade necessitando de socorro.
Esse dado já demonstra como o problema é grave. Mas há um outro que revela quão pior a situação está: a média mensal em 2023 foi de 700 atendimentos para pessoas vítimas de acidente de moto.
Ou seja, um ano inteiro, todos os dias, de hora em hora, uma pessoa acidentada de moto chegando no Walfredo Gurgel. Em 2020, essa média foi de 626 atendimentos por mês. Em 2021, 598. Em 2022, 635. Essa série indica que nos últimos três anos houve crescimento de 11,82% (2020 para 2023).
Somente em fevereiro e março deste ano foram 1.420 atendimentos do tipo. Em fevereiro e março de 2023, o número foi de 1.190. A diferença representa um crescimento de 19,3%. Além de tudo isso, há uma outra preocupação: a média não para de crescer e está em 710.
Atualmente, os pacientes vítimas de acidentes de moto “são a principal causa de internação no hospital”. A maioria dessas vítimas é atendida com fratura na perna ou tornozelo; fratura no antebraço ou traumatismo intracraniano.
Quem tem se debruçado sobre esses números é o Núcleo de Acesso à Qualidade Hospitalar (NAQH). O coordenador do setor, Denis Job, explica que a quantidade de pessoas vítimas de acidente de moto e o crescimento desses números se tornaram uma grande preocupação.
“O Walfredo Gurgel vem alertando para este problema há vários anos e começamos a implantar um monitoramento mais detalhado nos últimos três anos”, explica. Segundo ele, as ações visando a redução desses acidentes não surtiram o efeito desejado.
“Nas discussões com o Programa Vida no Trânsito (PVT) – do qual fazemos parte – percebemos que as ações educativas e outras já implantadas não surgiram o efeito desejado e que a falta de uma fiscalização mais efetiva talvez contribua para o quadro”, afirma.
O PVT é um programa federal para reduzir lesões e mortes no trânsito. O programa foi lançado em 2010 e coordenado pelo Ministério da Saúde, em cooperação com a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS).
Denis Job explica que não há como afirmar comprovadamente que o crescimento no número de acidentes de moto e – consequentemente – o de atendimentos, tenha relação com o aumento no uso desses veículos para entregas e transporte, mas acredita que haja relação entre esses fatores.
Atualmente, o Rio Grande do Norte possui uma frota de 526.735 motocicletas e 82.458 motonetas. Somadas, essas frotas representam um total de 609.193. Há 10 anos, esses dois tipos de veículos somavam 415.432 unidades. Em uma década, o crescimento foi de 46,65%.
Em 2014 – bem antes da pandemia e do boom relacionado a apps de entrega e transporte – o número de motocicletas no RN era de 366.613. Em 2024, esse número é de 526.735, um crescimento de 43,66%. No RN, há 10 anos, havia 49.819 motonetas. Agora, são 82.458, um crescimento de 33.639; o que equivale a 68,91% a mais.
O coordenador do NAQH acrescenta que uma contagem preliminar revelou que pelo menos 10% das vítimas desses acidentes estavam sem capacete na hora da colisão. Em 2022, essa foi a 4ª maior causa de multas de trânsito no RN, de acordo com o Detran-RN.
“Desde Maio de 2023 o PVT RN, que é comporto por todos os órgãos envolvidos no assunto, emitiu uma nota técnica que tem, como primeira recomendação para enfrentar este problema, o aumento da fiscalização”, informou Denis Job.
Denis Job não tem relação com motos apenas por ser uma das pessoas que está envolvida nesse trabalho de datificar a quantidade dos atendimentos a pessoas vítimas de acidentes de motos no Walfredo Gurgel.
“Sou motociclista há 35 anos e vou diariamente trabalhar de moto para o Walfredo Gurgel. A moto não é o problema”, afirma. “Como cidadão acredito que veículos regulares e em perfeito estado de manutenção e condutores habilitados que respeitam as leis de trânsito são menos susceptíveis a acidentes. A fiscalização, portanto, é necessária e urgente”, opina.
Além de ser um dos poucos motociclistas que chega e sai do Walfredo Gurgel, diariamente, sem precisar de atendimento, Denis Job tem outra marca importante a ser mencionada: em 35 anos de motociclismo, jamais se acidentou. “Nunca. Graças a Deus”, exalta.
Em maio de 2024, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) e o Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Norte (MPT/RN) lançaram oficialmente a nova etapa do projeto interinstitucional Trânsito Cidadão.
A iniciativa tem o objetivo de incentivar campanhas e ações para a redução de lesões e mortes no trânsito por meio de medidas administrativas. A nova etapa dará atenção a medidas voltadas aos motofretistas.
O projeto Trânsito Cidadão é uma iniciativa da 49ª Promotoria de Justiça de Natal com atuação conjunta das Promotorias de Saúde de Natal e dos Centros de Apoio às Promotorias de Justiça da Saúde e da Cidadania bem como atuação interinstitucional com o Ministério Público do Trabalho (MPT).
A iniciativa entende que os acidentes de trânsito e de trabalho representam não só um risco à vida de passageiros, condutores, pedestres e trabalhadores, como também são um fator agravante para a saúde pública, pois exigem elevados custos financeiros em razão do alto número de vítimas que são socorridas pela urgência pública.
A Universidade Federal do Semiárido (Ufersa) desenvolve atualmente um projeto que oferece reciclagem para motociclistas, com ênfase em segurança no trânsito e direção defensiva. O objetivo é exatamente reduzir o número de acidentes.
O “Pilote Seguro” é composto de duas etapas. A primeira está disponível por meio de aplicativo, cujo acesso é permitido a qualquer hora do dia, sem custos e sem a necessidade de deslocamento a um estabelecimento físico.
Ao todo são 19 aulas, distribuídas em cinco módulos. O aplicativo está disponível de forma gratuita nas lojas de aplicativos da Play Store e Apple Store e, ao término da primeira etapa, o participante recebe um certificado digital da UFERSA.
Já a segunda etapa, que está prevista para ser iniciada em maio, contempla 17 municípios do RN com duas oficinas especialmente elaboradas para auxiliar a promover uma condução segura ao pilotar a motocicleta.
Para os participantes desta segunda fase, estão sendo disponibilizados 1.000 capacetes personalizados de fábrica. O Projeto “Pilote Seguro” está sendo executado com recursos de emenda parlamentar do Deputado Federal General Girão e com base na Lei Estadual nº 10.943/2021, de autoria do Deputado Estadual Coronel Azevedo.
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