Os impactos da dependência tecnológica de crianças e adolescentes foram debatidos durante audiência pública realizada nesta segunda-feira (14), na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Presente à iniciativa proposta pela deputada estadual Cristiane Dantas, o médico oftalmologista Jaime Martins abordou o tema enfocando, principalmente, os prejuízos à saúde ocular dos jovens.
Um dos pontos destacados pelo médico foi o aumento alarmante da miopia nos últimos anos, principalmente em países asiáticos. A miopia, um erro refrativo em que a refração da luz ocorre antes do foco na retina, resulta em dificuldades para enxergar objetos distantes. “Além do impacto na qualidade de vida ao depender de óculos para correção, a miopia, especialmente quando ultrapassa 3 graus, aumenta o risco de problemas de saúde ocular, como descolamentos de retina. Pessoas com miopia acima de 3 graus têm duas vezes mais chances de desenvolver descolamento de retina em comparação com a população em geral. Também é sabido que indivíduos com alta miopia têm um risco elevado de desenvolver glaucoma, a principal causa de cegueira irreversível no mundo”, ressalta o oftalmologista Jaime Martins.
De acordo com o médico, a crescente incidência de miopia, particularmente evidente nos últimos 10 anos e, mais ainda, após a pandemia, prevê impactos significativos nas próximas décadas. Essa tendência resultará em um aumento das patologias associadas à miopia, levando a problemas de visão, maior dependência de correção visual e maiores custos para a saúde pública.
Além disso, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e computadores, por parte de crianças e adolescentes em todo o mundo, tem levantado preocupações. “Essa prática tem sido associada a sintomas como olhos secos, dificuldades de aprendizado e desconforto visual, devido à redução do ato de piscar e ao esforço constante dos olhos para se acomodarem às telas. Em resumo, o aumento da miopia e os efeitos adversos do uso excessivo de telas destacam-se como questões fundamentais na saúde ocular da infância e adolescência. A atenção a esses aspectos é crucial para garantir uma qualidade de vida saudável, um desempenho acadêmico sólido e uma capacidade de trabalho otimizada”, pontua Jaime Martins.
NÚMEROS
Um estudo divulgado na revista Nature revelou que o ensino em casa durante a pandemia contribuiu para um aumento na taxa de progressão da miopia em crianças, em comparação com anos anteriores. O estudo analisou 115 crianças e adolescentes de 8 a 17 anos e identificou que o aumento está principalmente ligado à diminuição do tempo gasto em atividades ao ar livre.
Além disso, outra pesquisa publicada no Lancet destacou um crescimento de 40% na progressão da miopia entre jovens de 5 a 18 anos durante 2019 e 2020, sendo atribuído principalmente às restrições de mobilidade impostas pela pandemia. O estudo teve a colaboração de oftalmologistas de várias regiões da América do Sul.
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