Um míssil russo explodiu a menos de 300 metros dos reatores da usina de Pivdennoukrainsk, no Sul da Ucrânia. Autoridades ucranianas acusaram a Rússia de “terrorismo nuclear” e disseram que o ataque por pouco não causou um desastre.
O míssil criou uma cratera de 2 metros de profundidade e 4 metros de diâmetro, de acordo com a operadora Energoatom. Os reatores estavam operando normalmente e nenhum funcionário ficou ferido. O ataque, porém, renovou os temores de que a guerra possa causar um desastre nuclear.
A usina é a segunda maior da Ucrânia, depois de Zaporizhzia, que tem sido repetidamente atacada. Os reatores das duas instalações são do mesmo projeto. Após recuo de suas tropas, nos últimos dias, o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu intensificar os ataques à infraestrutura ucraniana.
O ataque causou o desligamento temporário de uma usina hidrelétrica, quebrou mais de 100 janelas no complexo e cortou três linhas de transmissão de energia, de acordo com autoridades ucranianas.
O Ministério da Defesa da Ucrânia divulgou um vídeo mostrando duas grandes bolas de fogo explodindo uma após a outra no escuro, seguidas por chuvas incandescentes de faíscas. O Ministério da Defesa russo não comentou o ataque. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também não se manifestou
Petro Kotin, chefe da Energoatom, disse que, embora os edifícios de concreto que abrigam os reatores sejam construídos para resistir ao impacto de um avião, a explosão de ontem seria poderosa o suficiente para danificar as estruturas de contenção, caso o míssil tivesse caído mais perto. “Não há outra maneira de caracterizar isso, exceto o terrorismo nuclear”, disse.
O ataque de ontem ocorreu em meio aos constantes bombardeios a outra grande usina, Zaporizhzia, a maior da Europa e umas das dez maiores do mundo. Os bombardeios cortaram linhas de transmissão, forçando os operadores a desligar seus seis reatores para evitar um desastre. Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente pelos ataques.
A AIEA, que colocou monitores na usina depois de fazer uma inspeção, disse que uma linha de transmissão foi reconectada na sexta-feira, fornecendo a eletricidade de que a usina de Zaporizhzia precisa para resfriar seus reatores. No entanto, o prefeito de Enerhodar, onde está localizada Zaporizhzia, relatou mais bombardeios ontem.
A energia é necessária para acionar as bombas que circulam água de resfriamento, para evitar o superaquecimento dos reatores e – na pior das hipóteses – um derretimento do combustível nuclear com emissão de radiação.
Antes da guerra, 15 reatores em funcionamento em quatro usinas nucleares produziam mais da metade da eletricidade da Ucrânia, a segunda maior parcela entre os países europeus depois da França
O presidente russo afirmou que suas forças até agora agiram com moderação em responder às tentativas ucranianas de atingir instalações russas. “Se a situação se desenvolver dessa maneira, nossa resposta será cada vez mais séria”, disse Putin. “Recentemente, as Forças Armadas russas realizaram alguns ataques impactantes”, disse o presidente russo, referindo-se aos bombardeios da semana passada. “Vamos considerar isso como um aviso.”
Além da infraestrutura, as forças russas estão atacando outros locais. O último bombardeio matou pelo menos 8 civis e feriu 22, informou ontem o gabinete presidencial da Ucrânia.
Patricia Lewis, diretora de pesquisa de segurança internacional do centro de estudos Chatham House, em Londres, disse que os ataques anteriores à usina de Zaporizhzia e o bombardeio de ontem indicavam que os militares russos estavam tentando danificar as usinas nucleares ucranianas antes do inverno, destruindo fontes de energia que se mantêm funcionando com segurança.
“É um ato muito perigoso e ilegal ter como alvo uma usina nuclear”, disse Lewis. “Somente os generais saberão a intenção, mas há claramente um padrão. O que eles parecem estar fazendo é tentar cortar a energia do reator. É uma maneira muito desajeitada de fazer isso, pois qual a precisão desses mísseis?”
Outros ataques russos recentes à infraestrutura ucraniana atingiram usinas de energia no norte e uma barragem perto de Kiev. Eles vieram em resposta à contraofensiva ucraniana no nordeste do país, que recuperou territórios ocupados pela Rússia na região de Kharkiv e rompeu o que havia se tornado um impasse na guerra.
Os sucessos ucranianos – a maior derrota da Rússia desde que suas forças foram repelidas de Kiev, no estágio inicial da invasão – alimentaram raras críticas públicas na Rússia e aumentaram a pressão militar e diplomática sobre Putin. Os críticos nacionalistas do Kremlin questionam por que Moscou não conseguiu mergulhar a Ucrânia na escuridão ao atingir todas as suas principais usinas nucleares. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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