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Trombofilia na gravidez e as “picadinhas de amor”

Condição é descoberta, muitas vezes, após perdas gestacionais recorrentes

por: NOVO Notícias

Publicado 26 de setembro de 2022 às 16:00

Trombofilia na gravidez e as “picadinhas de amor” – Foto: Cedida

Todo mundo tem um sonho. Para algumas mulheres, o maior deles é ser mãe. Entretanto, esse sonho pode não ser tão simples de ser realizado. Para alcançar o desejo, algumas grávidas que são diagnosticadas com Trombofilia, uma condição que contribui para o entupimento de veias e que pode levar ao aborto, precisam realizar diversas injeções, carinhosamente chamadas de “picadinhas de amor”, que contêm um ativo importante para combater a doença na gravidez.

Na última quarta-feira (14), foi celebrado em Natal, o dia de conscientização à trombofilia. A lei n° 7.296, de autoria do vereador Anderson Lopes (Solidariedade), foi aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito Álvaro Dias, garantindo a data no calendário oficial do município.

Em 2017, no Rio Grande do Norte, surgiu um grupo virtual de mulheres que, após descobrirem a Trombofilia (a maioria após perdas gestacionais recorrentes), decidiram se unir, ajudar e informar outras pessoas. “O Grupo Picadinhas de Amor, no RN, é um coletivo de mulheres que, de forma virtual, através de conversas pelo whatsapp, procura minimizar o impacto do diagnóstico de Trombofilia, repassando a experiência daquelas que já viveram perdas gestacionais recorrentes e complicações de saúde, como: AVC, embolia pulmonar e tromboses, em virtude desta condição. E também incentivamos umas às outras para que, mesmo diante de todas as dificuldades de investigação e tratamento consigam engravidar, gestar e dar à luz a seus filhos”, explicou Fernanda Braga, uma das coordenadoras do movimento.

O grupo ainda tem um trabalho de sensibilização da sociedade e conta com profissionais da área da saúde para alertar sobre os riscos da não investigação da Trombofilia, suas consequências relativas às complicações gestacionais e o melhor acesso ao tratamento de alto custo com intervenções midiáticas e a elaboração de políticas públicas. A lei n° 7.296/2022, projeto redigido pelo grupo, e apresentado pelo Vereador Anderson Lopes, que instituiu o dia de conscientização da Trombofilia no município de Natal, na data de 14 de setembro, é um exemplo deste trabalho.

“Atualmente é feito um atendimento jurídico-social e gratuito às participantes, prestando um apoio com orientação de como conseguir a medicação de alto custo (anticoagulante injetável – enoxaparina sódica) através do SUS e dos planos de Saúde; indicações de profissionais especializados no Estado, com experiência na atuação em gestação de alto risco e orientações gerais para a investigação da trombofilia, uma vez que devido aos custos dos exames esta investigação é mitigada pelo SUS e planos de saúde”, contou Fernanda.

A trombofilia é uma condição fisiológica que aumenta a coagulação sanguínea, podendo provocar trombos/coágulos em veias e artérias e, consequentemente, a trombose, como também o AVC, embolia pulmonar e infarto, além de perdas gestacionais recorrentes e outras complicações durante a gravidez. Muitas vezes esta condição só é descoberta na gestação, podendo ser fatal para a mãe e o bebê.

Na maioria das vezes, o tratamento na gestação é feito por meio de injeções subcutâneas que são aplicadas no abdome (na região em volta do umbigo), no braço ou na face interna da coxa. Elas não são muito doloridas, mas precisam ser ministradas todos os dias. De acordo com a coordenadora do grupo, um tratamento com a medicação durante toda a gravidez e o período pós-parto pode custar mais de R$ 20 mil reais.

“No RN, pode ser solicitado diretamente à Unicat, e no município de Natal também pode ser solicitado no PROSUS. Em ambos, devem ser apresentados exames, receitas e laudos médicos que comprovem a necessidade de uso. Quando há negativa de fornecimento, orientamos as mulheres a buscarem um advogado especialista em direito da saúde, para acionar o Poder Judiciário e conseguir o seu tratamento, tendo hoje quase a totalidade das mulheres participantes do grupo recebendo tratamento”, disse Braga.

Com acompanhamento de especialistas e tratamento adequado, o esperado é que a mãe e o filho fiquem bem. Para mostrar essa história de superação, algumas famílias fotografam os bebês perto das injeções, chamadas popularmente de “picadinhas do amor”. Também há mães que escolhem registrar esse momento especial ainda na gestação, celebrando a barriga.