Loja reduzida, prateleiras parcialmente vazias e aparentemente menos funcionários. É assim que está a maior e mais antiga loja da Americanas de Natal, localizada na Avenida Rio Branco, na Cidade Alta. Logo na entrada do estabelecimento, é possível ver diversas caixas de chocolate vazias, prateleiras com poucos produtos e diversos itens em promoção.
Um consumidor assíduo da loja, que preferiu não se identificar, lamentou o que vem acontecendo. “Isso aqui não demora dois meses. Já fecharam a metade da loja. O chocolate eles estão vendendo três barras por 12 reais. Isso não existe. Não tem em lugar nenhum esse preço, só eles. Fora que está com muito pouco funcionário”, contou.
Questionados pela reportagem do NOVO sobre a situação, trabalhadores da loja afirmaram que não está acontecendo mudanças na empresa. Nem falta de estoque, nem demissões. “Está tudo bem, tudo normal. Inclusive, estamos contratando novos funcionários agora”, contou uma funcionária.
A versão, no entanto, foi refutada pela própria Americanas, que, em nota, informou que precisou interromper alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados. “A Americanas atua nesse momento na condução de seu processo de recuperação Judicial, cujo um dos objetivos é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia. O plano de recuperação definirá quais serão as ações da empresa para os próximos meses e será amplamente divulgado assim que for finalizado”, disse.
A Americanas entrou em recuperação judicial no dia 19 de janeiro, após a revelação de um rombo de pouco mais de R$ 40 bilhões em seus balanços financeiros. Com o processo, a empresa vem enxugando sua operação, o que passa por fechamento de lojas e demissões.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Supermercados do Rio Grande do Norte, Marcos Antonio Santana, a Americanas possui pouco mais de 300 funcionários em todo o estado. Segundo ele, o SindSuper está atento para possíveis casos de violação de direitos trabalhistas. “Diante da não obrigatoriedade da filiação ao Sindicato, nós não temos autoridade para dizer se está havendo demissão ou não. Mas estamos atentos para possíveis casos de atraso de salário, de FGTS, entre outras irregularidades. Quando há algo do tipo, a primeira porta que o trabalhador bate é a do sindicato. E até agora, aqui no estado, ainda não tivemos casos do tipo. Mas estamos vigilantes”, relatou.
Com tantas mudanças feitas em tão pouco tempo na loja da Cidade Alta, os comerciantes que trabalham no entorno do estabelecimento temem pelo seu fechamento. “Eles já reduziram o tamanho. Se a loja fechar, vai acabar com o comércio daqui. Vai ser horrível”, disse uma ambulante que também preferiu não ser identificada.
A comerciante ainda disse que, ultimamente, o fluxo de clientes vem caindo consideravelmente na região. “Quando a C&A fechou, já diminuiu muito os clientes. Até por aqui na Americanas. Aí se ela fechar também, vai piorar muito. Não sei o que vamos fazer”, disse preocupada.
A recuperação judicial é solicitada quando uma empresa se encontra em dificuldades financeiras. Com o pedido aceito, eventuais execuções judiciais de dívidas são paralisadas por 180 dias e a empresa deve apresentar em 60 dias uma proposta que inclua formas de pagamento aos credores e uma reorganização administrativa, de forma a evitar que a situação se agrave e chegue a um cenário de falência. No caso da Americanas, são mais de 16 mil credores.
O Grupo Americanas é composto pelas empresas Americanas S.A., B2W Digital Lux e JSM Global. Elas são responsáveis por marcas variadas que realizam vendas a varejo e por meio da internet, tais como as Lojas Americanas, Americanas.com, Submarino, Shoptime, Hortifrutti, entre outras. Juntas, elas atingem mais de 50 milhões de consumidores.
No pedido de recuperação judicial, o grupo sustentou que é incontestável a necessidade do atendimento do pedido para superação da sua crise financeira e preservação da sua atividade empresarial. Também informou que seu conselho de administração criou um comitê independente formado por profissionais, que será responsável por investigar o cenário e apresentar suas conclusões aos acionistas, ao mercado e à sociedade em geral.
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