Surto de influenza e covid impacta na busca por medicação, doações de sangue e leitos hospitalares

Aumento na procura por medicamentos para a prevenção contra os vírus esvazia estoques, faz números de bolsas de sangue caírem para nível crítico e subir cada vez mais a taxa de internação no estado

por: NOVO Notícias

Publicado 31 de janeiro de 2022 às 19:00

Aumentou a corrida nas drogarias em busca de medicamentos para combater surtos gripais em Natal – Foto: Reprodução

A epidemia de gripe no Rio Grande do Norte tem afetado diversos serviços de saúde, lotado centros de atendimento, afastado pessoas do trabalho e esvaziado as prateleiras das farmácias com a alta procura por remédios. Soma-se a isso a ‘explosão’ de casos positivos para covid-19 na chamada 3º onda, o que faz janeiro ser um mês de alerta para o que ainda está por vir.

Desde o final de dezembro que a Prefeitura tem atuado na tentativa de amenizar o impacto dos vírus. Para o combate, foram abertos os centros de enfretamento às síndromes gripais no Centro Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves (Cemure), na zona Oeste, e no Ginásio Nélio Dias, na zona Norte.

Em dados obtidos com a Secretaria Municipal de Saúde, só no Cemure foram 8.291 atendimentos do dia 29 de dezembro de 2021 até o dia 26 de janeiro, com média diária de 400 atendimentos. No local, 2.185 pessoas positivaram para a covid. Já no Nélio Dias, foram contabilizados 4.876 atendimentos do dia 5 de dezembro até dia 26 deste mês. O número total de positivos para a covid no centro foram 1.524, com média diária de 350 atendimentos.

Essa procura intensa por assistência médica aumentou a demanda por medicamentos para tratar os sintomas das doenças. Contudo, os relatos de pessoas doentes em busca de medicação apontam escassez de remédios nas prateleiras das farmácias.

“A médica passou três medicamentos pra mim e pro meu sogro. Um xarope, um antialérgico e um remédio pra febre. Nenhum a gente encontrou fácil. Eu encontrei um similar, mas quando encontrava um que a médica realmente tinha passado, faltava outro. Eu fui a oito farmácias; quatro na Afonso Pena, uma na Nilo Peçanha, uma na Deodoro, e duas na Cidade Alta”, relata Elisandra Fernandes, servidora pública, que passou por uma verdadeira saga em busca dos remédios prescritos.

Segundo dados de uma pesquisa recente realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), através do Instituto Datafolha, 77% dos brasileiros são adeptos da automedicação. De acordo com o estudo, quase metade da população se automedica pelo menos uma vez por mês, e 25% o faz todos os dias ou, no mínimo, uma vez por semana.

Mas quem tentou se automedicar também encontrou barreiras. Outra pessoa que teve um desafio na procura por medicação foi Maria José Costa, dona de casa, que possui membros na família acometidos pelos vírus. Ela tentou buscar nas farmácias soluções para se proteger: “Como tenho família grande, muitos adoeceram ao mesmo tempo. Eu tive dificuldade de encontrar remédios para alergia, para nebulização e até mesmo para febre nos últimos dias.”

Falta sangue no Hemonorte

Os vírus causam impactos não somente na distribuição de remédios, mas também nas doações de sangue no estado. O Hemonorte vive situação crítica neste mês. As doações caíram 30% devido às síndromes gripais e o período de férias. As escalas de trabalho também tiveram que ser modificadas, pois 15% dos servidores estão afastados por conta dos vírus.

Com isso, a demanda de cirurgias eletivas fica comprometida, pois as bolsas de sangue restantes vão para as urgências. Na sexta-feira (28), o estoque continha 290 bolsas. Para que estivesse equilibrado, precisaria estar na faixa de 800 a mil bolsas.

A diretora de apoio técnico do Hemonorte, Miriam Mafra, contou como o órgão tem sido impactado com essa alta da variante Ômicron e também a influenza ainda presente. “Muitas cirurgias que poderiam ser agendadas são prováveis de não por ausência de sangue para transfusão. No entanto, apesar de toda esta realidade, a gestão está buscando alternativas para que o da instituição não seja prejudicado e que possamos prestar o serviço à comunidade de maneira a ser satisfatória e com qualidade”.

No início desta manhã, o Regula RN mostrava que em todo RN havia somente 22 leitos críticos disponíveis. Nove hospitais estavam com 100% de ocupação e outros três em 90%. Na Região Metropolitana, a taxa de ocupação era de 72,1% e no estado de 69,9%. Em dados do LAIS, nos últimos 15 dias, mais de 24% das pessoas que realizaram o teste para a covid positivaram. No sábado (29), a Secretária de Saúde Pública do Estado divulgou o boletim epidemiológico com o novo recorde de casos positivos nas últimas 24h, um total de 2.261 confirmados.

O médico epidemiologista da Escola de Saúde Pública do RN, Ion de Andrade, analisa a situação da influenza junto a covid como um problema que sobrecarrega ainda mais o serviço hospitalar, apesar da queda de infecção da gripe.

“O surto de gripe quando a gente vai ver os gráficos ele está em declínio. Ainda tem muita gente adoecendo de gripes. Os dois vírus estão circulando, mas hoje a quantidade de pessoas com covid é maior do que de gripe. O problema em relação a ter dois surtos simultâneos é o fato de que os leitos hospitalares pra os casos graves e a gripe também produzem casos graves, eles se tornam menos numerosos do que o que nós tivemos no ano passado onde só havia covid praticamente disputando o internamento. Hoje tem covid e gripe, portanto, isso sobrecarrega ainda mais o serviço hospitalar o sistema hospitalar” discorre o médico.

O epidemiologista ainda faz um alerta sobre eventos que acontecerão no mês de fevereiro e deixa sua opinião sobre a realização deles “Queria reforçar aqui a importância de que os eventos, shows e etc, que podem produzir aglomeração sejam eles públicos ou privados, neste momento da pandemia em que os leitos hospitalares não são suficientes para internar todos os doentes, (os eventos) não deveriam ser autorizados”

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