Dentro do governo, há uma tentativa de reação para tirar Bolsonaro das cordas. Será feita uma grande celebração dos mil dias, organizando eventos em todas as regiões do País durante os próximos dias. O presidente participará de todas essas “festas” de forma presencial ou virtual, comunicando-se por telões. Basicamente, a ideia é organizar cerimônias com o que os auxiliares de Bolsonaro chamam de “entregas”.
Nesta semana, essa agenda alusiva aos mil dias inclui uma série de viagens pelo País para a inauguração de obras. A primeira região a ser visitada deve ser o Nordeste, seguida por Estados da região Norte. Na Bahia, por exemplo, Bolsonaro deve inaugurar obras em 10 km de estradas. Mas não só.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, por exemplo, fará evento em Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, na segunda-feira, liberando sinal de TV digital com mais canais e melhor imagem. Depois, ao lado do ministro da Cidadania, João Roma, vai inaugurar obras da Funasa no Estado no valor de R$ 9,67 milhões. Todos os ministros foram orientados a fazer “entregas” ao longo de toda a semana.
Além disso, outro ponto da estratégia é turbinar programas sociais, como forma de tentar reverter o desgaste da imagem presidencial junto às populações mais vulneráveis. Nesse sentido, o pagamento do Auxílio Brasil – substituto do Bolsa Família – tem papel central, pelo seu repasse de recursos.
Pesquisa. Há razões de sobra para o governo investir nesse ponto A pesquisa Desigualdade de Impactos Trabalhistas na Pandemia, coordenada pelo diretor da Fundação Getúlio Vargas Social (FGV Social), Marcelo Neri, publicada este mês, aponta que o maior impacto, na pandemia, tem sido sobre os mais pobres. “A renda individual média do brasileiro, incluindo informais, desempregados e inativos, encontra-se hoje -9,4% abaixo do nível do final de 2019. Na metade mais pobre, esta perda de renda é de -21,5%, configurando aumento da desigualdade entre a base e a totalidade da distribuição.”
De acordo com a pesquisa, a queda de renda entre os 10% mais ricos foi de 7,16%, menos de 1/3 da queda de renda observada na metade mais pobre. “O grupo do meio entre os 50% menos e os 10%, uma espécie de classe média no sentido estatístico, teve queda de renda de 8,96%, cerca de 2,8 pontos de porcentagem de perda acima do extremo superior”, informa o trabalho.
Mas os números mais impactantes do levantamento falam sobre o aumento da pobreza, o que explica porque Bolsonaro e seus aliados se empenham em mirar nessa direção com o Auxílio Brasil. De acordo com a pesquisa, a proporção de pessoas com renda abaixo da linha de pobreza era na média de 2019, antes da pandemia, de 10,97%, ou cerca de 23,1 milhões de pessoas na pobreza. “A pobreza passa, em setembro de 2020, para o melhor ponto da série, em função da adoção do Auxílio Emergencial pleno para 4,63%, ou 9,8 milhões de brasileiros.”
Mas no primeiro trimestre de 2021, com o Auxílio Emergencial suspenso – e devolvendo o Bolsa Família -, a pobreza atingiu 16,1% da população, fazendo o total de pobres atingir o número de 34,3 milhões.
Os dados da pesquisa mostram um cenário desolador no início de 2021, quando, em seis meses, o número de pobres foi multiplicado por 3,5 vezes. Isso significou um acréscimo de 25 milhões de pobres no País em relação aos seis meses anteriores.
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