Em seu significado literal, a palavra “sideral” é relacionada aos astros ou às estrelas. E um filme genuinamente potiguar, também intitulado de “Sideral”, pode chegar a alcançar o “céu” do cinema mundial, o Oscar.
Filmado em apenas quatro dias nas cidades de Natal, Ceará-Mirim e Parnamirim, no início do ano de 2021, o filme entrou na pré-lista de indicados ao Oscar (chamada de “shortlist”) na categoria de “Melhor Curta Metragem de Ficção” ou “Live Action Short Film”.
Integrar a shortlist significa dizer que o filme venceu 200 outros curtas concorrentes e agora disputa com 14 filmes para poder estar entre os cinco indicados finais na cerimônia do Oscar. O resultado com os indicados que vão concorrer à estatueta será divulgado pela academia no dia 24 de janeiro. Já a cerimônia está marcada para o dia 12 de março.
“Sideral” é uma ficção do diretor Carlos Segundo, que se desenvolve no futuro, em torno do histórico dia do lançamento do primeiro foguete tripulado brasileiro na Base Aérea de Natal e como isso afeta a vida de Marcela, Marcos e seus dois filhos. A produção é de Pedro Fiuza e Mariana Hardi, por meio da Casa da Praia Filmes, com equipe e elenco de profissionais potiguares, estrelado por Priscilla Vilela e Enio Cavalcante.
Para falar sobre a expectativa e a emoção de estar entre os 15 principais curtas escolhidos pela Academia, o NOVO entrevistou Pedro Fiuza, um dos produtores do “Sideral”.
NOVO – Qual a sensação de um filme produzido por você estar entre os 15 que podem concorrer ao Oscar?
Pedro Fiuza – É a sensação máxima de conquista até aqui. Com “Sideral” fomos ao festival mais importante do mundo, que é o Festival de Cannes, e agora estamos no páreo do prêmio mais importante do mundo, que é o Oscar. Mas conquistar isso sendo um produtor brasileiro potiguar aí já é uma sensação de satisfação ao provar ao mundo inteiro que a gente pode tudo isso com um filme brasileiro potiguar, principalmente aquelas pessoas que achavam que isso não era possível ou não sabiam que era possível.
NOVO – “Sideral” é o único filme totalmente brasileiro – e nordestino – a entrar na shortlist, ou seja, na pré-lista de indicados ao Oscar. O que isso significa para o país e para o Nordeste em especial?
PF – “Sideral”, este ano, é o único filme de todas as Américas! Não existe outro filme da América Latina e nem dos Estados Unidos nesta categoria. Estamos levando essa representação e responsabilidade com muito orgulho. Isso significa que o mundo está olhando para o cinema feito no Rio Grande do Norte e que o Brasil precisa ter também esse olhar e respeito. O cinema potiguar e nordestino é universal e não merece ser tratado como de segunda categoria e nem enclausurado numa percepção apenas regionalista.
NOVO – Apesar do desejo de estar entre os 15 e, mais para frente entre os 5, ser evidente, você conseguia enxergá-lo como possível ou achava que era “sonhar demais”?
PF – Não só achava que era possível, como trabalho há 11 anos para que a possibilidade vire realidade. Esse é o 19º filme dirigido por Carlos Segundo e minha parceira de trabalho e também produtora do filme, Mariana Hardi, tem uma longa carreira em várias linguagens artísticas. Então, não quero ser arrogante, mas esse é o nosso trabalho diário há mais de uma década, só que muitas pessoas só estão descobrindo agora. Então, sim, sabia que era possível, ainda que distante e agora diminuímos a distância. É lógico que também fico surpreso, empolgado e feliz, como quando eu tinha 15 anos sonhando em fazer cinema, mas aprendi que só sonhar é uma forma dos dominantes nos dizerem que isso não passa de sorte, e de nós dominados continuarmos vira-latas. Então, não acho que o cinema brasileiro mereça reconhecimento por uma questão de sorte, mas sim por ser um dos melhores do mundo. Descobri indo a Cannes que os dominantes permanecem dominantes não só pela concentração de dinheiro, mas também pela concentração da informação, e nós permanecemos dominados quando eles não nos dizem o quão bom é o nosso cinema e gente aceita. Então, resolvi dizer aos nossos o que muitos não dizem: sim, o cinema brasileiro é ótimo, o mundo sabe disso e nós também precisamos saber. Quando a gente descobrir isso, enquanto país, a gente vai entender que, além do sonho de artistas, existe o ofício de trabalhadores da cultura, e vai normalizar a grandeza da nossa cultura ao invés de glamourizar apenas os filmes que se destacam nos prêmios internacionais.
NOVO – Sideral já é o filme potiguar de maior projeção no cinema mundial. Circulou por 125 festivais, 29 países e ganhou mais de 66 prêmios – sendo o último, o Guarani. A que se deve todo esse sucesso?
PF – O sucesso se deve à qualidade artística e técnica do filme e dos seus profissionais, elenco e equipe, e como isso chega bem, através das atuações, do roteiro, da fotografia e da montagem ao público. Se deve ao contratar profissionais potiguares de máxima qualidade e que reverenciamos demais. Deve-se ao máximo respeito ao público e desejar ser um filme que se conecta às plateias ao invés de ser um filme hermético ou egoísta. Se deve a ser um filme fiel à uma realidade potiguar e como isso imprime de forma genuína na tela, como reflete a nossa cultura, sob um verniz narrativo e estético trabalhado com muito cuidado e planejamento. Se deve também aos nossos valores políticos, de lutar por um cinema brasileiro potiguar.
NOVO – O que ainda falta para a produção audiovisual potiguar aumentar a visibilidade?
PF – Faltam dois “i’s”: investimento e imaginário. Faltam investimentos municipais, estaduais, federais e privados. Alguns editais já existem, outros precisam ser criados, assim como secretarias de cultura municipais e estadual, acompanhando a recriação do Ministério da Cultura pelo Governo Lula, em 2023. Mas além de editais, é preciso um investimento direto nas empresas e profissionais – se para o agronegócio tem, por que para a cultura não? E junto com investimento, mas também como consequência dele, o imaginário: falta mais oferta para se ter mais público para o cinema nacional e potiguar, faltam salas de cinema públicas e independentes, mais festivais, mais prêmios, mais divulgação na imprensa, mais apoio à crítica especializada. Por mim, teriam outdoors em todo estado anunciando nossos filmes e os prêmios ganhos. O turista tinha que descer do avião e dar de cara com uma propaganda: “Rio Grande do Norte, o estado do cinema”, pois isso gera autoestima para nosso povo e nosso cinema, que também gera emprego e renda. E mais importante: falta acabar de uma vez por todas o pensamento de que artista não é trabalhador.
NOVO – E quando os potiguares poderão assistir ao curta?
PF – Em breve, o filme estará disponível no Canal Brasil e também estamos estudando uma sessão presencial em Natal para janeiro. Todas as novidades serão divulgadas nas redes da Casa da Praia Filmes (@casadapraiafilmes).
Principais festivais:
Principais indicações e prêmios:
Recursos investidos
R$ 25 mil da Lei Aldir Blanc RN para produção, mais recursos próprios das empresas produtoras e doação e desconto nos cachês dos profissionais que trabalharam, totalizando cerca entre R$ 60 mil a R$ 100 mil investidos de forma virtual.
Mais € 60 mil euros do governo francês através do CNC para a pós-produção.
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