Era pra ser só mais um domingo de julho normal, na cidade de Martins, interior do Rio Grande do Norte, quando a vida de Yann Matheus da Costa Silva, à época com 16 anos, acabou direcionada para um capítulo. Após o almoço, com fortes dores na região do abdômen, ele foi levado ao médico pela avó materna, mas o incômodo se intensificou com o tempo. Em busca de ajuda, a família precisou se deslocar até Pau dos Ferros, cidade vizinha, para uma avaliação mais criteriosa. Após uma intensa bateria de exames, a biópsia confirmou: câncer no intestino. A notícia fez com que o jovem estudante recalculasse os próprios planos.
“Eu jogava bola, fazia muitos esportes. De repente, tudo mudou. Não estava nos meus planos ter um câncer, mas eu vi que existia a possibilidade de cura. Tem sido dias intensos, porém, sei que no final, tudo vai dar certo“, disse Yann.
O processo de tratamento está sendo acompanhado de perto pela mãe do adolescente, Andréia Maria da Costa. A cozinheira deixou São Paulo, onde viveu por nove anos, para se dedicar aos cuidados do filho. “Quando soube do câncer, falei com meus patrões e vim pra cá pra cuidar dele. Vim com a certeza da cura do meu filho. Nos mudamos pra Natal e estamos seguindo, unidos, cada vez mais fortes’, detalhou Andréia.
Como o câncer foi descoberto já em estágio avançado, não foi possível fazer a operação em 2022. O adolescente passou por alguns procedimentos cirúrgicos – entre eles, a retirada completa do tumor, processos de radioterapia e quimioterapia. Agora, a família espera o resultado de novos exames para saber se entrou no processo de remissão — quando o câncer não é mais detectado por nenhum exame.
Se aproximando do fim dos estudos, Yann não deixou que o diagnóstico o limitasse. Com apenas 17 anos, o estudante já retomou o planejamento para o futuro. “Quero terminar o ensino médio e iniciar a graduação. Vou fazer o curso de Tecnologia da Informação. Tenho planos de construir minha família, ter um trabalho, poder contar minha história. O câncer não me limitou”, reforçou.
Outra história de superação de câncer infanto-juvenil é da administradora Swyslayne de Souza, hoje com 28 anos. Em 2003, com 7 anos, ela foi diagnosticada com Linfoma de Hodgkin – quando as células que ‘moram’ no sistema linfático, e que deveriam nos proteger contra as bactérias, vírus, dentre outros perigos, se transformam então em uma célula maligna, chamada de célula de Reed-Sternberg. Morando em Natal, a mãe dela buscou a Casa Durval Paiva onde fez todo o acompanhamento do tratamento até a cura.
Anos depois, a jovem que atualmente trabalha como gestora administrativa da instituição, relembra que a cura lhe trouxe um novo norte, um novo caminho a ser trilhado.
“Saber que eu não tinha mais a doença, foi a hora de seguir. Sabia que a partir dali eu ia viver, me permitir do que por muitos anos eu me privava. Logo depois, veio o convite para trabalhar aqui na Casa e foi uma grande oportunidade. Aqui, eu posso dividir a minha experiência com outras crianças e adolescentes”, afirmou Swyslayne.
O mês de setembro é destinado a conscientização do câncer infanto-juvenil. Dados da Secretaria Estadual de Saúde apontam que no Rio Grande do Norte, a maioria das crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 19 anos diagnosticados com câncer entre 2013 a 2023 são do sexo feminino, uma taxa de aproximadamente 53,13%.
Na avaliação da faixa etária entre 0 a 14 anos esse percentual se apresenta maior no sexo masculino (53,55%). Quando dividimos os casos por região, Natal concentra a maior porcentagem dos casos, com 87,99%. Já na 2ª região de saúde, onde está inserida a cidade de Mossoró, o registro é de 10,15%.
A frequência dos diferentes tipos de neoplasias diagnosticadas, revelou que o tipo de câncer mais comum na faixa etária de 0-19 anos são os de pele, representando um risco de 30,89 casos a cada 1 milhão de habitantes. Em seguida, vem a neoplasias dos gânglios linfáticos, com 29,89 casos por milhão de habitantes. Em terceiro lugar, as neoplasia maligna dos ossos e cartilagens articulares dos membros, com 19,93 casos por milhão de habitantes. Na sequência, aparecem as neoplasias malignas do tecido conjuntivo e de outros tecidos moles com 17,93 por milhão de habitantes e, por fim, as leucemias linfóides com 17,93/milhão.
Diagnóstico precoce aumenta em até 80% chances de cura
O câncer já se apresenta como uma das principais causas de mortes no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, 8% do total de casos diagnosticados da doença atingem crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. O câncer corresponde a um grupo de doenças que têm em comum um aumento descontrolado de células anormais podendo ocorrer em qualquer local do organismo. Diferentemente do câncer do adulto, o câncer infanto-juvenil geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação.
Um levantamento do INCA apontou que, nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância e na adolescência foi extremamente significativo. Estima-se que 80% das crianças e adolescentes acometidos de câncer podem ser curados se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.
Segundo a médica oncologista Cassandra Teixeira, a maioria dos jovens acometidos terá boa qualidade de vida com tratamento adequado. “O câncer infantil atualmente tem boas chances de cura, uma média de 70% a 80%. Então, se tivermos um diagnóstico antecipado, podemos tratar o nosso paciente de forma mais eficaz, sem tanta agressividade e sem sequelas”, finalizou.
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