As contradições apontadas pela cúpula da CPI da Covid entre o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten e a entrevista concedida por ele à revista Veja levaram o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), a falar em “prisão” de Wajngarten, caso ele esteja mentindo. Os senadores concordaram em pedir à revista a íntegra da gravação da entrevista com o ex-secretário, na qual teria dito que houve “incompetência” e “ineficiência” do Ministério da Saúde ao lidar com a Pfizer.
“Queria requisitar áudio da Veja para verificarmos se ele mentiu ou não, se ele não mentiu, Veja vai ter que pedir desculpas, se ele mentiu, ele terá desprestigiado e mentido ao Congresso, o que é um péssimo exemplo. Se ele mentiu à revista Veja e a essa CPI vou, requerer a prisão do depoente”, disse Renan, o que levou a reação do senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), segundo quem a postura do relator seria tipicamente um abuso de autoridade. “Não cabe ao relator ameaçar depoente de prisão”, disse Rogério.
Diante da exaltação de ânimos, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), chegou a sugerir que a sessão fosse encerrada porque o depoimento de Wajngarten estaria “prejudicado”. “Vou dispensar”, avisou, sem ter o apoio, no entanto, dos outros colegas da comissão.
Após o senador Eduardo Girão (Podemos) dizer que o ex-secretário estaria sendo “humilhado”, Aziz rebateu e afirmou que humilhados seriam os mais de 420 mil mortos pela pandemia. “Que humilhação? Não é assim não. Eu não humilho ninguém, você me conhece”, respondeu o presidente da CPI, que criticou Girão pela defesa do uso da cloroquina em pacientes com covid. “Não defendo cloroquina, defendo autonomia médica”, disse o senador, aliado do governo.
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Bolsonaro ‘incriminado’
No tumultuado depoimento à CPI da Covid, o ex-secretário de Comunicação da Presidência afirmou que “mergulhou de cabeça” quando soube na “inação” em relação a carta envida pela Pfizer ao Brasil em setembro. Para o relator Renan Calheiros, o depoimento de Wajngarten acaba por “incriminar” Bolsonaro, uma vez que o ex-secretário, para Renan, aponta ter iniciado negociações em nome do Ministério da Saúde e em nome do presidente da República.
Para Renan, isso confirma a existência de um “ministério paralelo”, levantado pelos senadores a partir dos depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
“O depoente disse desconhecer a existência. Mas é o contrário. Vossa senhoria é a prova da existência dessa consultoria”, disse o relator.
Ao voltar a falar da relação que teve com a farmacêutica, Wajngarten listou três reuniões: a primeira em novembro de 2020, quando o então Gerente Geral da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, o agradeceu por responder a carta; outra em dezembro, quando representantes da Farmacêutica exibiram a caixa de refrigeração então necessária para a manutenção da vacina; e uma terceira em que se debateu a “quantidade de vacinas no menor prazo possível”.
Segundo Wajngarten, a partir daquele momento, ficaram registrados na lousa da Secretária de Comunicação por quatro meses as três cláusulas da proposta de contrato com a Pfizer que foram chamadas de “leoninas” pelo governo. “Ficou na lousa da Secom por quatro meses as três cláusulas chamadas de leoninas que impediam maior velocidade de contratação”, disse o ex-secretário.
“Presidente sempre reafirmou que compraria qualquer vacina aprovada pela Anvisa”, afirmou Wajngarten ao ser questionado sobre a postura de Bolsonaro, que fez diversas críticas públicas aos imunizantes.
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