Por trás das barracas do comércio informal da avenida Presidente Bandeira, no Alecrim, o Teatro Municipal Sandoval Wanderley tem visto o tempo passar, de portas fechadas, em silêncio. Mas a boa notícia é que esse isolamento – que já dura 13 anos – deve acabar em breve. A Prefeitura de Natal anunciou a reforma do prédio para este segundo semestre.
O projeto foi apresentado pelo prefeito Álvaro Dias no início do mês, após ser discutido com representantes da classe artística e de órgãos do Município envolvidos na elaboração dos projetos básicos e executivos, baseados na concepção de um anteprojeto doado pela arquiteta Débora Dantas, em 2019. O projeto de Débora fazia parte de seu trabalho de conclusão na faculdade.
Seguindo os trâmites legais, o próximo passo é a realização de uma licitação para a execução da obra, que vai custar aproximadamente R$ 5,4 milhões aos cofres municipais.
A reforma prevê a instalação de um teto retrátil na área do palco, para que seja aberto e deixe a iluminação natural entrar, de acordo com a natureza do evento ou espetáculo. Salas multiuso, cafeteria com espaço para leitura, foyer e área de circulação e convivência também estão previstos no projeto. O palco original no estilo de arena será mantido, porém com adaptação possível para o formato italiano.
O secretário municipal de Cultura, Dácio Galvão, considera a reforma do Sandoval Wanderley uma grande vitória para a classe artística natalense, carente de espaços para apresentação de espetáculos, shows e realização das mais diversas atividades ligadas ao setor cultural. Atualmente, Natal conta apenas com o recém-reformado Teatro Alberto Maranhão, gerido pela Fundação José Augusto; e a Casa da Ribeira, do grupo Clowns de Shakespeare.
Na ocasião da apresentação do projeto ao seu secretariado, o prefeito Álvaro Dias disse que a reforma do teatro é um compromisso com o setor artístico de Natal, que aguarda a abertura do teatro com grande expectativa.
“Vamos instalar um novo teatro que vai abrilhantar os eventos culturais e artísticos da nossa cidade valorizando a cultura e oferecendo mais uma opção de lazer aos natalenses”, disse o prefeito.
Nos anos de 2005 a 2008, o Teatro Municipal Sandoval Wanderley abrigou projetos culturais importantes, como o Pixinguinha, Seis e Meia, Sanfonas do Brasil; e foi palco para artistas de renome nacional; Tetê Espíndola, Fausto Nilo, Miúcha dentre outros como Zé Celso Martinez Corrêa. Foram mais de 100 apresentações durante esse período.
Vários espetáculos e shows locais foram apresentados no Sandoval. Uma das peças mais marcantes apresentadas por lá foi “A Maldição de Blackwell”, da Stabanada Cia de Repertório, dirigida por Marcos Bulhões, um musical de terror com uma banda Modus Vivendi tocando ao vivo.
Carito Cavalcanti, poeta, cantor, ator e cineasta, integrou o elenco da peça, atuando e cantando com o Modus, na peça citada acima. Ele diz achar super importante Natal ter teatros públicos abertos. “A reabertura do Sandoval Wanderley, sua reforma, otimização, readequação, é mais do que necessária, porque é um teatro emblemático em um bairro igualmente emblemático; uma localização acessível, sem contar que um teatro histórico. Tive o prazer e a honra de me apresentar diversas vezes”, diz o artista.
O rock alternativo natalense também fez morada no teatro do Alecrim. O selo Solaris realizou algumas edições do projeto “Independente”, com apoio da Fundação Capitania das Artes, trazendo mensalmente uma atração de fora para acompanhar uma banda da cidade, promovendo do o intercâmbio cultural. “Mas infelizmente depois o teatro mudou a situação de uma prefeitura pra outra, foi abandonado, e hoje segue assim, infelizmente”, comenta Alexandre Alves, proprietário do icônico selo Solaris e vocalista da banda Thee Automatics, que realizou vários eventos no TMSW entre os anos de 2004 e 2007.
“A experiência do Teatro Sandoval Wanderley era essencial para a cidade, porque era um teatro pequeno, para 100, 150 pessoas. Sempre dava um público razoável nos eventos que eu fazia lá, justamente por ser o espaço adequado para quem estava fazendo um projeto ou para quem tocasse de forma independente. Era central, com uma parada de ônibus na frente. Pra mim, era um point sensacional”, comenta Alexandre.
O Teatrinho do Povo, como ficou conhecido, foi fechado em 2009. A partir daí, iniciou-se uma luta para a sua reabertura, que finalmente parece que sairá do papel.
O teatro foi construído em Natal, em 1962, sendo o segundo a ser aberto na capital, após o Teatro Alberto Maranhão, em 1904. Tem capacidade para cerca de 150 espectadores. Foi batizado com o nome do ator assuense Sandoval Wanderley, que criou os grupos Conjunto Teatral Potiguar (em 1941) e o Teatro de Amadores de Natal (em 1951).
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