Economia

“Quem tem carro a gasolina não tem condições de rodar e lucrar” Motoristas de App relatam dificuldades após alta dos combustíveis

Os incessantes aumentos nas bombas trazem insegurança e pessimismo para os profissionais do transporte

por: NOVO Notícias

Publicado 14 de março de 2022 às 09:22

Foto: Reprodução / Internet

São 5 horas da manhã, você acorda e pensa em como chegará ao trabalho hoje. Pode ir no seu carro próprio, mas logo lembra do preço alto dos combustíveis. Segunda opção: ir de ônibus para o local, contudo, a superlotação e a péssima qualidade dos coletivos afastam a ideia. A terceira via pode ser ligar o celular e entrar em um dos aplicativos de transporte, hábito que se tornou comum na vida dos cidadãos potiguares. 

Em Natal, são mais de 15 mil motoristas cadastrados nas plataformas de transporte. Em atividade, mais de 6 mil. Além disso, estima-se que 4 mil desses motoristas como única fonte de renda. Esses dados foram obtidos com a Associação dos Motoristas por Aplicativos do RN.

Então, além de afetar o bolso do motorista comum, a alta e os desenfreados reajustes nos valores dos combustíveis também mexem diretamente no trabalho e serviço dos profissionais do transporte.

Um deles é Vinícius Henrique, 28. Ele trabalha há dois anos e meio unicamente como motorista de app e tem toda sua renda advinda dos ganhos com as corridas feitas. Quando começou, abastecia seu veículo com gasolina, porém, com o preço do combustível elevado, a alternativa encontrada para economizar os gastos foi a mudança para o Gás Natural Veicular (GNV).

“Hoje uso o gás natural por ser atrativo no preço e ele rende bem mais que o combustível líquido. A economia dele (GNV) chega a ser de até 60% a mais do que a gasolina” relata Vinícius. 

Ele ainda conta que a vida do motorista de app era melhor há alguns anos, mas a falta de incentivos das empresas e a concorrência faz com que ele rode mais para conseguir seus lucros: “Hoje, tenho que trabalhar em média 9h por dia. Em dias fracos, mais de 12h, para conseguir, ao fim dele, uma diária de 80 a 100 reais por dia sem os custos diários como comida, manutenção do carro e combustível.” disse Vinícius. 

“Não mais! Quem tem carro a gasolina não tem condições de rodar e lucrar.”

Essa dura fala é de Tiago Cassimiro, 34, que roda há 4 anos como motorista de aplicativo. O profissional vê como inviável trabalhar usando gasolina no veículo, visto seu valor beirando os 8 reais nos postos em Natal.

Para tentar minimizar esse impacto, ele contou algumas maneiras de evitar gastos maiores de combustível como não utilizar o ar condicionado, rodar em aplicativos que descontem menos o valor dividido da viagem entre o motorista e a empresa, verificar postos que dão descontos, mas que a principal maneira de economizar é converter o veículo para o uso do gás natural. 

“Infelizmente muitos pais de família ficarão desempregados. Aqueles que não conseguem rodar no gás, não ficarão no app” analisou Tiago com pessimismo em relação ao futuro dos motoristas.

Previsão sombria

Esse retrato tenebroso é visto também por Evandro Henrique, presidente da Associação dos Motoristas por aplicativo do RN. As altas constantes nos combustíveis tem afetado severamente a vida dos trabalhadores. “Cada vez mais a rentabilidade cai, o que acaba provocando a necessidade trabalhar mais horas, o que põe em risco a segurança dos motoristas e, muitas vezes, nem é suficiente para equilibrar seus ganhos.” falou Evandro.

O presidente da associação seguiu na mesma rota que os outros motoristas e afirmou que o GNV é a saída do momento para economizar os gastos. Contudo, para utilizá-lo é necessário um investimento inicial, o que dificulta a conversão dos veículos.“Muitos motoristas não têm como bancar o investimento inicial, que é da ordem de R $4.000,00 e, apesar de termos uma excelente linha de crédito na AGN, boa parte dos motoristas não atendem os critérios para obtenção desse financiamento.”

Para finalizar, Evandro Henrique falou que a associação teve reuniões com as plataformas de transporte de passageiros, a Uber e 99taxi, as duas maiores do país, na busca por uma readaptação nos preços das viagens. Porém, apesar de uma correção nos valores, o futuro dos trabalhadores segue indefinido. “Temos um futuro incerto com relação aos preços dos combustíveis e a única possibilidade de recomposição de ganhos reside no reajuste dos valores pagos pelas plataformas aos motoristas.”

Reajuste das empresas

Após esse último aumento nas bombas de gasolina e do diesel, a Uber anunciou na sexta-feira (11), um reajuste temporário de 6,5% nas viagens da plataforma. Já a 99taxi, informou que aumentará em 5% o ganho do motorista por cada km rodado. 

Os anúncios ocorreram no mesmo dia em que a Petrobras elevou em 18,8% o preço médio da gasolina vendida às distribuidoras do país. A guerra entre Ucrânia e Rússia desestabilizou o mercado global. 

“Sabemos que motoristas estão entre os primeiros a sentir o impacto dos preços recordes dos combustíveis, então estamos implementando essas iniciativas para ajudá-los”, afirmou a diretora-geral da Uber no Brasil, Silvia Penna

A Uber ainda informou que irá investir R$100 milhões no Brasil nas próximas semanas. A iniciativa é voltada para o aumento dos ganhos e redução dos custos dos motoristas parceiros da empresa.

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