A cúpula do PT aprovou nesta quinta-feira, 24, uma ampla política de alianças, que ultrapassa as fronteiras de esquerda, para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições. Com isso, até mesmo partidos que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, como o MDB, o PSD e o PSDB, poderão integrar as coligações nos Estados.
Na prática, o PT está preocupado com o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, embora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja favorito nas intenções de voto. A ordem é evitar o “salto alto” e o clima de “já ganhou”. Dirigentes do partido querem que Lula tenha um calendário de atividades nas ruas o quanto antes.
A decisão sobre a política de alianças foi tomada em reunião do Diretório Nacional do PT um dia depois de o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin se filiar ao PSB, dando o primeiro passo para ser vice naU chapa de Lula.
Não é a primeira vez, porém, que o PT aprova alianças com partidos que votaram a favor do impeachment de Dilma. A estratégia já foi adotada na eleição presidencial de 2018 e na disputa municipal de 2020, quando os petistas diziam ser necessário sair do isolamento e reconquistar o espaço perdido.
Sob o argumento de que para derrotar o bolsonarismo “é preciso dar uma resposta de unidade da sociedade”, o PT afirma agora que a candidatura de Lula deverá trazer “a ampliação (…) que se espera das forças de oposição ao governo nesta quadra da história, respeitando os compromissos programáticos antineoliberais”.
‘Vírus’
A resolução aprovada ontem pelo PT reflete a estratégia já em curso pela campanha de Lula ao pregar a “unidade dos setores democráticos” não apenas em torno da candidatura ao Planalto, mas também de um “movimento político e social” para derrotar o presidente. O documento define o bolsonarismo como “o principal vírus em circulação na política brasileira” desde 2018. “Quem outrora não esteve conosco é mais do que bem-vindo a participar deste movimento que devolverá a cadeira de presidente da República ao povo brasileiro”, diz um trecho do texto que passou pelo crivo do Diretório Nacional.
Ao se filiar anteontem ao PSB, Alckmin foi na mesma linha e justificou a aliança, após embates públicos com Lula, dizendo que se trata de um “momento excepcional” no Brasil, com risco à democracia. Na eleição de 2006, quando disputou o segundo turno com Lula, Alckmin acusou o adversário de ter “quebrado o Brasil” e disse que ele queria voltar “à cena do crime”, mesma expressão usada agora por Bolsonaro. De lá para cá, o ex-governador mudou totalmente o discurso e afirma hoje que Lula representa a “esperança” do povo.
Partidos
Até agora, o PT só fechou acordo para formar uma federação com o PCdoB e o PV, o que significa que esses partidos deverão estar juntos por, no mínimo, quatro anos nas eleições. O PSB decidiu apoiar Lula, mas sem integrar a federação. O PSOL deve seguir o mesmo caminho, embora queira negociar pontos do programa de governo, como a revogação das reformas trabalhista e da Previdência.
“Nós faremos alianças com os partidos de esquerda e progressistas, assim como buscaremos parcerias com o campo democrático, para garantir o pleno funcionamento das instituições democráticas, que estão sob permanente ataque”, disse ao Estadão o deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT.
No Nordeste, porém, até mesmo partidos do Centrão, como o Progressistas e o Republicanos – que compõem a base de sustentação de Bolsonaro no Congresso – têm alianças com o PT e seus líderes devem aderir à campanha de Lula em Estados como Bahia, Maranhão e Pernambuco. O vice-governador da Bahia, João Leão (Progressistas), por exemplo, rompeu com o PT, mas disse que apoiará Lula, embora seu partido esteja na base de Bolsonaro
Uma ala do MDB também promete entrar na campanha de Lula ainda no primeiro turno da eleição, mesmo tendo lançado a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) ao Planalto. Pelos cálculos do senador Renan Calheiros (MDB-AL), ao menos 13 diretórios endossam essa articulação. Estão na lista seis seções do Nordeste (Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí), além de dirigentes em outros Estados, como os ex-senadores Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR).
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