Arquiteta brasiliense propôs em 2019, como trabalho de conclusão de curso, uma solução para o “hotel da BRA”, imóvel embargado na Via Costeira há 18 anos, e serve como provocação de como Natal poderia ser uma cidade melhor para moradores e turistas caso houvesse mais vontade política
Publicado 17 de julho de 2023 às 17:20
Na infância, a arquiteta brasiliense Danielle Eveline Dantas Mota, 28, passava pela Via Costeira de Natal e sempre estranhava a existência de um prédio especificamente: o chamado “hotel da BRA”, imóvel que foi embargado pela justiça há 18 anos e segue abandonado no local, dando à região um aspecto de atraso e sujeira.
Em 2019, ela recorreu a essas lembranças de quando passava o período de veraneio no Rio Grande do Norte para produzir seu trabalho de conclusão de curso. A ideia era propor uma solução para o local.
Mas muito mais: um projeto moderno, integrado ao ambiente local e que promovesse algo que até hoje é raro: a Via Costeira ser usada pela população de Natal e não só pelos turistas e clientes de hotéis privados. Surgiu ali o projeto Duna Complexo Praiano, que obteve menção máxima na Universidade Federal de Brasília (UnB).
Ela conta que a ideia nunca foi propor uma recuperação do imóvel. “É uma estrutura que está ali há quase 20 anos na frente do mar. Eu acredito que muitos daqueles metais ali devem estar danificados. Foi pensada realmente a demolição do prédio”, explica.
A ideia também tinha um outro objetivo: trazer uma reflexão sobre o uso daquele espaço. “Não existe um passeio a pé nesse lugar. Então uma das minhas propostas também era trazer algum tipo de ponto de apoio para os turistas. Essa praça pública que eu proponho no meu projeto, eu imaginei que poderia acontecer várias coisas relacionadas a turismo, como feirinha’, diz.
E complementa: “Seria um local para que os turistas de outros hotéis pudessem caminhar e chegar a esse lugar a pé, e também para que o pessoal da cidade pudesse frequentar. Porque acaba que essa região da Via Costeira fica muito sendo utilizada apenas por turistas e por quem não é da cidade. Meio que virou uma praia privativa dos hotéis, né?”.
O projeto prevê no piso superior, na altura da Via Costeira, um espaço público e que possui uma cobertura que imita a forma das dunas do Parque das Dunas, localizado atrás do hotel. A ideia também foi pensada para dar mais acesso a outros tipos de turistas.
“O projeto tem um hostel, porque eu quis trazer uma hospedagem econômica. E o hostel teria uma estrutura de clube que poderia ser cobrado um day-use, para ter um outro tipo de renda para esse empreendimento”, diz.
“Teria também spa e um restaurante escola. Esse terreno foi pensado para ser um complexo de uso misto o público e privado. Eu acho que é uma reflexão interessante de outras coisas que poderiam ser exploradas na Via Costeira e não só mais um hotel cinco estrelas’, comenta.
A arquiteta explica ainda que “o projeto conversa esteticamente com o Parque das Dunas, pela sua cobertura, pelo movimento da cobertura”. “Acho que isso também traz riqueza estética para a Via Costeira, para quem está na praia e realmente fica um espaço de contemplação interessante”, afirma.
Com relação a isso há uma ressalva. Pela legislação da época, a cobertura proposta também seria proibida, pela sua altura. Mas Danielle Mota manteve a proposta. “Entendo que como aquilo ali seria um espaço público, poderia ter uma negociação”, justifica.
Passados quatro anos da apresentação do projeto Duna e 18 do embargo à obra, o “hotel da BRA” segue embargado, mesmo com uma sentença judicial transitada em julgado. A Prefeitura de Natal procurou a Justiça em junho e se ofereceu para demolir o 8º andar do prédio.
O projeto Duna, feito por Danielle Mota é só uma amostra de uma Natal que pode ser muito mais inclusiva, com ideias e soluções que podem impulsionar o turismo e a economia da cidade. Basta ter vontade e enxergar o óbvio, como Danielle enxergou, ainda criança.
Após tantos anos desde que viu pela primeira vez o “monstrengo da Via Costeira”, a opinião da arquiteta sobre o “hotel da BRA” é algo que qualquer morador ou turista, certamente, não terá dificuldade nenhuma em concordar.
“Eu acho um absurdo esse esse esqueleto está poluindo a praia há tanto tempo e não tem uma uma solução sobre isso. nem que seja a construção de algum empreendimento. Eu acho que um terreno tão privilegiado como este, perto da cidade, à beira-mar, deveria estar sendo melhor utilizado. De preferência, na minha opinião, ali deveria ter alguma alguma coisa pública. Não necessariamente nesse terreno.Acho um descaso esse assunto não ter sido resolvido até hoje”.
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