Denise Fernandes durante estádio no ABC – Foto: Maria Victoria Photo/Instagram/denisefernandes1908
O Dia Internacional da Mulher, comemorado neste 08 de março, tem como principal ponto solenizar os avanços das mulheres em áreas que ainda tem traços genuinamente masculinos. O futebol é uma destas e um nome vem quebrando barreiras há um tempo no Rio Grande do Norte. Vivendo em Natal há 14 anos, Denise Fernandes concluiu recentemente o curso para treinadores da CBF Academy. Assim, a carioca de nascimento, mas potiguar de coração se tornou a primeira e única mulher do estado a possuir a Licença A da Confederação Brasileira de Futebol.
“Sei que eu estou num grupo muito seleto de profissionais, de mulheres, que possuem Licença A no Brasil. Aqui no Rio Grande do Norte, acredito que nem os treinadores homens possuem esta licença. Então, para mim, é um grande feito representar o RN com essa graduação, com esse nível profissional.”, disse Denise.
Além de seu projeto voltado para o desenvolvimento de atletas, Denise Fernandes também foi a responsável por ser técnica da primeira equipe feminina do Potyguar Seridoense, onde disputou o Campeonato Potiguar com a equipe mais jovem e chegou até às semifinais da competição. Sobre a modalidade, ela faz uma observação:
“Acredito que o futebol ainda tem muito para crescer aqui no Estado. Precisamos de investimento dos clubes, não só no período do campeonato estadual, que é muito curto. São três meses ali entre preparação e a disputa do campeonato. Isso é muito pouco para as meninas, isso é muito pouco para a modalidade. Então eu espero que outros clubes façam trabalhos iniciando agora e que seja um trabalho a longo prazo, pensando pelo menos em duas ou três categorias de base e uma categoria do profissional”, enfatiza a treinadora.
Mesmo mostrando competências, Denise Fernandes acredita que o futebol ainda é um espaço onde a barreira para a presença feminina desenvolver um trabalho precisa ser quebrada, principalmente no Rio Grande do Norte.
“Acredito que a inserção da mulher no futebol potiguar ainda é uma barreira, principalmente para se trabalhar nos clubes masculinos. Hoje, mesmo uma mulher com Licença A, os clubes não aproveitam a visibilidade que se poderia ter. Não é só pela licença em si, mas pela capacidade técnica de ter uma mulher hoje no comando de um clube. Acho que há uma barreira ainda para a mulher trabalhar tanto no masculino quanto no feminino. A gente vê sempre homens atuando no feminino e nunca vê o contrário”, relata Denise.
Uma das fases do curso de treinadores da Licença A da CBF Academy é a Análise e Observação do Treinamento (AOT). Denise esteve no ABC onde ficou acompanhando a comissão técnica por um período. Pelo que pode ver, a treinadora diz que o gênero não importa, que a capacitação deve ser o fator que determinar e torce para que outras mulheres estejam inseridas nos clubes.
“Penso que falta os clubes darem oportunidade para as mulheres estarem no comando. Mulheres capacitadas assim como homens capacitados também. Acho que o gênero não impede de trabalhar em nenhuma área, mas no futebol ainda tem essa barreira. Espero que logo, logo a gente possa ver outras mulheres trabalhando no futebol, tanto do RN quanto no Brasil. E eu gostaria também de poder estar nesse lugar, assumindo uma equipe masculina também e estar em uma equipe profissional masculina e no cenário tanto estadual quanto nacional”, diz a treinadora.
Agora Denise Fernandes pensa em novos rumos. A treinadora se lança ao mercado em busca de uma oportunidade de colocar, na prática, tudo o que sua Licença A permite.
“Eu trabalhei bastante tempo numa escola de futebol e esse ano mudei um pouco o foco. Estou à procura no mercado de clubes para assumir, para que a gente trabalhe no nível profissional e em clubes profissionais, não só em escola de futebol, já com o trabalho pensando um pouco nessa minha qualificação. Então, estou esperando propostas, esse é o meu objetivo agora. Também estou com as minhas mentorias para atletas, para os professores. Estou fazendo também um trabalho como scout, já que eu tenho também o curso de analista. Mas de modo geral, estou para analisar propostas, para ver o que a gente vai fazer ainda este ano”, diz Denise.
Neste dia tão simbólico, Denise tem um recado para todas àquelas que desejam trabalhar com futebol
“Comecem! Vocês não irão encontrar um ambiente perfeito, portas abertas, facilidade, mas precisam começar. Estudem, se qualifiquem muito. Um homem às vezes consegue as coisas no futebol de maneira mais fácil. Foi ex-atleta ou conhece alguém ou alguém ajudou ele estar ali. A mulher não. Então, para aquelas que desejam é qualificação, é estudar e começar. Começar da maneira que podem. Não tem começo grande ou pequeno, tem um começo. Começa trabalhando dentro do seu condomínio, como voluntária, apenas começa”, conclui.
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