Potiguares invisíveis: voluntários enxergam vida onde maioria da população finge não ver

Banco de dados do Cadastro Único aponta que atualmente Natal possui 734 pessoas em situação de rua

por: NOVO Notícias

Publicado 2 de maio de 2022 às 16:45

Os “moradores de rua” vêm de diferentes vivências e estão nessa situação pelas mais variadas razões, segundo Ministério do Desenvolvimento Social – Foto: Cedida

A situação de vida nas ruas é alarmante em todo o país. Somente em Natal, capital do Rio Grande do Norte, o banco de dados do Cadastro Único para Programas Sociais aponta, atualmente, para 734 pessoas em situação de rua – pessoas que passam as noites dormindo em canteiros, em praças, embaixo de viadutos e pontes. Além desses espaços, também são utilizados locais degradados, como prédios e casas abandonados e carcaças de veículos, com pouca ou nenhuma higiene.

Os “moradores de rua” vêm de diferentes vivências e estão nessa situação pelas mais variadas razões. Há fatores, porém, que os unem: a falta de uma moradia fixa, de um lugar para dormir temporária ou permanentemente e vínculos familiares que foram interrompidos ou fragilizados.

As características acima foram conceituadas em 2005 pelo Ministério do Desenvolvimento Social como fatores intrínsecos à condição de rua.

Com o objetivo de ajudar algumas dessas pessoas, há aproximadamente três anos o jornalista Roberto Guedes distribui, diariamente, porções de alimento, roupas, remédios e outros produtos em diversos pontos da Grande Natal.

“Toda noite eu vou ao encontro dos conterrâneos em situação de rua. Grupos fazem isto uma vez por semana, quinzenal ou mensalmente. Já eu, levo cerca de quatrocentas porções de alimentos, que entrego diariamente, a partir das 18 horas, em dezoito pontos fixos de Nova Parnamirim e de Natal. Só volto para casa depois de entregar o último alimento, às vezes às 2h da madrugada”, contou o jornalista.

A ação foi batizada como “Ceia com Jesus”, e foi ampliada durante a pandemia da covid-19. Roberto ainda explicou que geralmente faz as entregas sozinho, e compra a maior parte do que entrega com o próprio dinheiro. Eventualmente, algumas famílias se dispõem a ajudar e fazem doações de sanduíches, cuscuz, entre outros alimentos.

“É um trabalho muito centrado em meus ombros, porque saio sozinho, na companhia apenas de Deus, todos os dias. É árduo, cansativo e perigoso. Mas há também muitas boas pessoas que agem em casa, preparando e me entregando as refeições. Outros amigos eventualmente me doam o que podem, de roupas a cadeiras de rodas”, relatou Roberto Guedes.

Ainda de acordo com ele, muitas pessoas se interessam em ajudar, mas preferem não se expor. “O mundo hospeda muitas pessoas boas que procuram oportunidades para fazer o bem. Em uma certa noite, fui a uma farmácia para adquirir medicamentos. Especifiquei o que queria e tive que sair para aplicar uma pomada num ferido. Uma cliente me viu passando a pomada, ouviu de funcionários da farmácia sobre minha caridade e pagou os remédios que encomendei. Disse-lhes que quer fazer caridade, mas teme ir à rua devido a violência, e ajudaria por meu intermédio”, contou o jornalista.

A Secretaria de Trabalho e Assistência Social de Natal (Semtas) possui uma equipe especializada que aborda diariamente essas pessoas, fazendo um trabalho educativo, convidando e encaminhando para unidades de acolhimento.

Atualmente a capital potiguar conta com três dessas unidades, com capacidade de acolhimento para 220 adultos. São elas: o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades direcionadas para o desenvolvimento de sociabilidades, gerando oportunidade de construção de novos projetos de vida e oferece orientação jurídica, psicológica, social, garantia de direitos, no período de segunda a sexta-feiras, das 8h às 17h e com direito a café da manhã, almoço e lanche; o Albergue Noturno, que oferece serviço de albergagem noturna, serviços de pernoite, alimentação e abrigamento; e a Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias em Situação de Rua em modalidade 24h, que atende homens e mulheres entre 18 e 59 anos, além de suas famílias, oferecendo material para o autocuidado, dormitório e quatro refeições diárias, além de lanche no final da noite.

Além disso, também são oferecidos alguns cursos de qualificação profissional no Centro Pop.

No entanto, por inúmeras razões, nem todos aceitam o auxílio. “As equipes de abordagem passam diariamente nos pontos que eles ficam. Porém, a escolha de aceitar ir para as unidades é da pessoa”, informou a assessoria de comunicação da Semtas.

O jornalista Roberto Guedes distribui porções de alimento, roupas, remédios e outros produtos em diversos pontos da Grande Natal – Foto: Cedida