Paradas lotadas, pessoas em pé e aglomeradas dentro dos ônibus, muita espera e correria. Os passageiros do transporte público de Natal vivem uma realidade conhecida há anos; contudo, o que era ruim, se tornou ainda pior durante a pandemia. A extinção de linhas, redução da frota e sucateamento dos veículos fazem com que a população da capital potiguar enfrente diariamente um serviço de má qualidade.
As reclamações são inúmeras, mas a principal delas é a mesma: a superlotação. Nos horários de pico, como no início da manhã, meio-dia e fim de tarde, basta trafegar por qualquer canto da cidade e pode-se ver pelo menos um coletivo completamente lotado – aliás, um lugar onde o distanciamento social nunca chegou.
Na capital, seis empresas de ônibus atuam no transporte coletivo de passageiros. De acordo com dados obtidos pelo NOVO, somando todos os veículos, o total chega a 360 ônibus, e a informação é de que menos de 70% da frota está rodando atualmente. A reportagem do NOVO entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) para verificar a informação, mas não obteve retorno. Desde o começo da pandemia até fevereiro de 2022, foram desativadas 21 linhas de ônibus no município, além de outras que tiveram o itinerário reduzido como a linha 02.
Outra linha retirada foi a 68, que fazia o trajeto Alvorada/Petrópolis via. av. Nevaldo Rocha, o que fez com que Geovana Makilane, operadora de Telemarketing e moradora do bairro de Nossa Senhora da Apresentação, zona Norte, perdesse uma das opções de transporte para ir ao trabalho.
“Hoje em dia ainda posso pegar o 07, mas a situação para quem dependia exclusivamente da linha 68 é crítica. Eles precisam recorrer a outras linhas para descer na área de lazer do conjunto Panatis e fazer a transferência para outro veículo. Acaba que o ônibus vai entupido de gente, gerando muita reclamação, confusão e até briga.” Geovana complementa: “É muito transtorno, pegar ônibus aqui. Além do estresse é humilhante.”
Marcelo Henrique, líder do conselho comunitário do Gramoré, lamenta a situação que vivem os moradores do conjunto quando se fala em transporte público. O terminal de ônibus do bairro possui hoje quatro linhas de ônibus e 21 carros, ao todo, durante o dia. Desses, apenas sete circulam na comunidade; porém, isso muda aos finais de semana e feriados, dias em que a linha 17 não atua.
“É lamentável que estejamos vivenciando uma situação como essa. Além de poucos ônibus na linha, vindos do Gramoré de forma específica, a gente sofre com a superlotação porque a partir do momento que reduziram a quantidade de ônibus, o número de pessoas dentro dos transportes cresceu. Em plena pandemia isso foi terrível, né?! A possibilidade de transmissão dos vírus é muito maior” desabafou Marcelo.
Outro problema enfrentado pelos usuários é a má condição dos veículos. Os passageiros reconhecem que não há aumento de tarifa desde 2020, entretanto reclamam que o valor cobrado não condiz com a estrutura dos veículos nem com a qualidade do serviço oferecido. “Hoje nós temos uma das passagens de ônibus mais caras do Nordeste. A qualidade do serviço é baixa, é comum utilizarmos coletivos sujos e até mesmo com a presença de baratas e outros insetos. Então, é necessária uma mudança urgente na estrutura que é ofertada ao usuário”, disse o conselheiro comunitário do Gramoré, Marcelo Henrique.
O vereador Robério Paulino (PSOL), integrante da Comissão de Transportes da Câmara de Natal, concorda com as reclamações da população e critica a estrutura dos coletivos. “A população tem toda razão de reclamar, protestar. A realidade do transporte em Natal é um desastre. Frota de ônibus velhos, sucateados, vindos de outras cidades e apenas reformados. Sem ar-condicionado, com piso alto, ônibus superlotados nos horários de pico; um sofrimento para a população trabalhadora mais pobre, que depende do transporte coletivo”, avalia o vereador.
Para ele, o sistema de transportes públicos mudará quando a população se unir e reivindicar um serviço melhor. “Essa situação só vai mudar quando tivermos uma forte mobilização de toda população contra isso, quando a população não aceitar mais esse absurdo, esse desrespeito. Faço um chamado a toda população e especialmente à juventude, às entidades estudantis da cidade, para construirmos juntos uma grande mobilização pela mudança completa do transporte público em Natal” discorreu Robério Paulino.
Procurado pela redação do NOVO, o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (Seturn), não quis se pronunciar sobre as denúncias da população em relação aos problemas citados na reportagem.
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