O número de trabalhadores que pediram demissão em 2023 bateu recorde: foram 7,3 milhões que deixaram empregos com carteira assinada de forma voluntária. A pesquisa é da LCA Consultores a partir de informações do Ministério do Trabalho e Emprego. É o maior número de pedidos de demissão desde 2004, quando a pesquisa começou a ser feita. Em 2022, foram 6,8 milhões, e, em 2021, 5,6 milhões.
Outro recorte dos mesmos dados, feito pela consultoria Robert Half, considerando somente profissionais com formação superior completa e mais de 25 anos de idade, mostra um índice de demissão voluntária ainda maior: foram 39%. No total, houve 21,5 milhões de desligamentos (incluindo as demissões feitas pelas empresas). O que levou mais de 7 milhões desses a pedirem demissão? Segundo especialistas, dois fatores se destacam: desemprego baixo e falta de perspectiva de crescer no emprego.
A média nacional de desemprego foi de 7,8% em 2023 – a menor em quase dez anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) publicada no fim de janeiro. Segundo Lucas Nogueira, diretor-regional da Robert Half, a taxa de desemprego impacta nesse cenário.
“Temos uma taxa de desemprego e de mão de obra qualificada baixa. O desemprego geral do Brasil está por volta de 10%. Então, para uma pessoa se recolocar, sendo ela qualificada e tendo esses níveis de desemprego mais baixos, ela também se sente mais à vontade para pedir demissão e para buscar uma nova oportunidade de trabalho”, analisa Nogueira.
Na visão de Nogueira, outra causa fundamental desses desligamentos voluntários é a falta de perspectiva de crescimento na empresa. “O que você mais percebe para essas saídas voluntárias é a falta de perspectiva de carreira”, afirma. O turnover voluntário, também conhecido como taxa de rotatividade de funcionários, é um indicador crucial para as empresas, pois reflete a movimentação de colaboradores que decidem deixar a organização por vontade própria.
Cerca de 25% das empresas enfrentaram uma rotatividade de funcionários entre 5% e 10%, enquanto 23% lidaram com uma taxa acima de 10%. Em comparação com o ano anterior, quase metade das empresas (47%) relatou que o turnover em 2023 permaneceu igual ao registrado em 2022.
No entanto, 24% observaram um aumento nesse índice, indicando possíveis desafios na retenção de talentos.
“Os índices de turnover não são apenas números, são reflexos de grande parte da saúde organizacional; por isso, é fundamental compreendê-los, mas o fato é: a primeira e melhor maneira de prevenir a perda de talentos começa com um processo de recrutamento bem executado. A estratégia de retenção deve começar com o alinhamento de expectativas já na sala de entrevista”, afirma Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half.
Segundo economistas, a alta de pedidos de demissão se deve ao aumento de pessoas indo para empregos alinhados às suas expectativas, mais jovens no mercado de trabalho e à metodologia do novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.
As razões por trás das saídas voluntárias são variadas, mas segundo levantamento da Robert Half, considerando os profissionais de nível superior completo, a maioria (65%) aponta “melhores oportunidades em outras empresas” como o principal motivador.
Em segundo lugar, 25% mencionam a “falta de oportunidades de crescimento na empresa”, destacando a importância do desenvolvimento profissional. Em terceiro lugar, 20% indicam “salários abaixo da média do mercado”.
Confira abaixo a lista completa dos motivos mais citados pelos entrevistados:
– Melhores oportunidades em outras empresas;
– Falta de oportunidades de crescimento na empresa;
– Salários abaixo da média do mercado;
– Problemas de conciliação entre trabalho e vida pessoal;
– Falta de reconhecimento e recompensas;
– Retorno ao trabalho presencial;
– Dificuldades de comunicação e feedback.
A análise faz parte da 26ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), resultado de uma sondagem conduzida pela empresa, com base na percepção de 387 recrutadores (profissionais responsáveis por recrutamento nas empresas ou que têm participação no preenchimento das vagas).
No levantamento da LCA, a faixa etária mais recorrente associada a demissões voluntárias é a dos mais jovens, entre 18 e 24 anos, representando 39,5% do total de desligamentos voluntários. O movimento é seguido também por pessoas de até 17 anos e aqueles entre 25 e 29 anos, com 36,5% de incidência cada faixa.
Essa tendência pode ser atribuída à mudança de perspectiva dos jovens em relação ao futuro e à forma como percebem o papel do trabalho em suas trajetórias pessoais e profissionais.
Os desligamentos voluntários têm um impacto significativo no futuro do mercado de trabalho em várias frentes. Primeiramente, esses desligamentos podem criar lacunas de habilidades em determinados setores, especialmente quando profissionais altamente capacitados optam por deixar seus cargos
Esse movimento tende a intensificar a competição por talentos qualificados, e há uma pressão crescente sobre as empresas para atrair e reter talentos. Além disso, os desligamentos voluntários podem influenciar, de certa forma, na economia das empresas, devido ao possível aumento nos valores dos salários. “Com turnover, os salários começam a subir, causando uma possível inflação salarial”, avalia Nogueira.
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