O Partido Patriota decidiu nesta quarta-feira (1º) expulsar o vereador Sandro Fantinel após o discurso xenofóbico no plenário da Câmara Municipal de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde ele fala para que agricultores e empresas agrícolas contratem trabalhadores argentinos, e não mais “aquela gente lá de cima”, ao se referir à Bahia.
O parlamentar disse que o povo baiano “vivem na praia, tocando tambor” e, por isso, “era normal que se fosse ter esse tipo de problema”, em referência aos funcionários de vinícolas resgatados no Rio Grande do Sul em condições análogas à escravidão.
“Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos. Porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, falou o vereador, no pronunciamento feito na Câmara Municipal de Caxias do Sul.
A direção nacional do Patriota afirmou que o discurso “está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho, já que se referem de forma vil a seres humanos tristemente encontrados em situação degradante”.
As declarações de Fantinel foram ditas em referência ao episódio da última semana, em que agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária encontraram 208 trabalhadores mantidos à força em um alojamento e submetidos à violência física, salários atrasados, assédio moral e jornadas de trabalho extenuantes, de acordo com a denúncia.
Os funcionários trabalhavam para a empresa Oliveira & Santana, que presta serviços terceirizados para vinícolas de Bento Gonçalves, como Aurora, Santon e Garibaldi – as três repudiaram o episódio e afirmaram que prestaram apoio aos funcionários. Um empresário de 45 anos, acusado de manter os funcionários nesta situação, foi preso em flagrante e solto depois de pagar uma fiança de cerca de R$ 40 mil.
Os funcionários trabalhavam para a empresa Oliveira & Santana, que presta serviços terceirizados para vinícolas de Bento Gonçalves, como Aurora, Santon e Garibaldi – as três repudiaram o episódio e afirmaram que prestaram apoio aos funcionários. Um empresário de 45 anos, acusado de manter os funcionários nesta situação, foi preso em flagrante e solto depois de pagar uma fiança de cerca de R$ 40 mil.
De acordo com informações do Ministério do Trabalho e Previdência, os funcionários viviam sem segurança, higiene e sofrendo agressões dos empregadores por meio de choques elétricos e uso de spray de pimenta. Segundo o auditor fiscal do Trabalho, Vanius João de Araújo Corte, os trabalhadores, muitos recrutados da Bahia, trabalhavam das 4h às 20h ou 21h, e, além de não receberem salário em dia, eram extorquidos por um mercado local que vendia os itens a preços superfaturados.
O Sandro Fantinel disse que quis dizer que há casos parecidos com o de Bento Gonçalves e que, nas suas palavras, “são armações”. “Eu já fui visitar e vi. Pessoas que criam esse cenário para depois denunciar o proprietário e ganhar indenizações. Não estou dizendo que são todos. Estou dizendo que existe esse tipo de problema”, disse o vereador.
“Eu usei a questão que aconteceu com os baianos, em Bento Gonçalves, para explicar essa situação. Se fossem cariocas, mineiros ou de Santa Catarina, eu ia colocar o nome daquele Estado”, continuou.
O vereador disse também que errou ao referir ao povo baiano como pessoas que “gostam de ir à praia tocar tambor”, e que pediu desculpas em plenário.
Ele ainda explicou também que a comparação com os argentinos foi feita porque, a pedido de um produtor, ele presenciou a situação em que funcionários contratados para uma lavoura em Caxias, “que não eram do Nordeste, mas da fronteira do Rio Grande do Sul”, não limparam os alojamentos antes de ir embora. “Esse agricultor me disse que em um outro ano, ele contratou argentinos e que deixaram o espaço limpo”, afirmou. “Eu não estava me referindo aos baianos, qualquer pessoa com o mínimo de consciência entende isso”, disse.
Ainda para se defender, o vereador afirmou que foi mal interpretado, que está sendo ameaçado por conta de suas falas, que a maneira como as declarações foram divulgadas faz parte de um trabalho de oposição da esquerda, e alegou ser contrário ao trabalho análogo à escravidão. “O que aconteceu em Bento Gonçalves foi, sim, análogo à escravidão. Eu não disse que não. Eu não sou à favor desse tipo de coisa”.
Sandro Fantinel é político, empresário de Caxias do Sul, e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem compartilha a simpatia por pautas conservadoras, como a militarização na educação e Escola Sem Partido.
Eleito para a câmara municipal de Caxias com 1.756 votos, o vereador está em seu primeiro mandato, embora já seja ativo na política há anos. Em 2017, junto com um grupo de empresários, ele criou a Comissão Pró-Bolsonaro 2018. Fantinel deixou de se candidatar a deputado federal nas eleições do ano seguinte para trabalhar pela campanha de Bolsonaro à presidência da República
O parlamentar afirma em sua biografia disponível no site da câmara de Caxias que seus principais objetivos no mandato, previsto para encerrar em 2024, estão a criação de escolas cívico-militares, a criação de um novo banco de alimentos em Caxias, trabalhar pelo desenvolvimento do agronegócio, e “batalhar em prol do projeto Escola Sem Partido”.
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