Em um cenário tradicionalmente dominado por homens, as mulheres estão contribuindo para um novo panorama na construção civil no Brasil. Longe dos estereótipos e desafiando preconceitos, elas estão cada vez mais presentes em diferentes funções e desempenhando papéis fundamentais em canteiros de obras por todo o país. Engenheiras, arquitetas, pedreiras, mestres de obras e operárias, elas ganham destaque pela competência, dedicação e habilidades únicas que trazem para o universo da construção civil.
No Rio Grande do Norte, Herika Arcoverde, diretora-executiva do Sindicato das Indústrias de Construção Civil no estado (Sinduscon/RN), confirma a constatação do crescimento da participação feminina no segmento.
“Temos cada vez mais mulheres engenheiras, técnicas e operárias, com diversas especialidades, atuando em diferentes obras e projetos, incluindo cargos de liderança. Não posso deixar de registrar que eu sou mulher e atuo na Diretoria Executiva do Sinduscon e, antes de mim, tivemos Ana Adalgisa Dias, por 20 anos, ocupando o mesmo cargo, e sendo a maior referência feminina da construção civil potiguar, com excepcional atuação no CREA”, aponta Herika.
“Para se ter uma ideia, em 2023, o segmento da construção no RN gerou 3.824 novos postos de trabalho. Destes, 18,51% foram postos ocupados por mulheres. No ano anterior, a participação foi de 5,43%. Estes números confirmam e consolidam a participação feminina no nosso cenário de trabalho. Acredito que a representatividade feminina aumentará nos próximos anos, devido à competência do trabalho. No Sinduscon, estimulamos nossos associados para a diversidade, mas, para isso, precisamos que todos convivam e se desenvolvam em condições iguais no melhor ambiente de trabalho”, complementa Herika.
A diversidade de talentos e perspectivas que as mulheres introduzem na indústria têm se mostrado fatores cruciais para a inovação. Seja na gestão de projetos, na criação de designs arrojados ou na aplicação de métodos construtivos mais sustentáveis. Embora a superação da desigualdade de gênero ainda esteja distante, a capacidade técnica, força de trabalho e articulação das mulheres na luta por seus direitos estão promovendo mudanças socioculturais, impulsionando o progresso feminino no setor, com novas gerações de engenheiras e operárias com cada vez mais oportunidades e reconhecimento profissional.
Histórias edificadas por elas:
Deborah Moura, 46, ingressou na engenharia civil há 22 anos e escolheu a profissão pelo desafio e pela oportunidade de contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura do país. Tendo atuado ao longo da carreira em obras importantes, como ampliações de aeroporto, construção de supermercados, shopping center, teatro, edifícios verticais, entre outros, recentemente, assumiu o cargo de gerente geral de obras de incorporações na construtora DoisA.
“No início, devido aos vários obstáculos criados no ambiente de trabalho, era raro encontrar mulheres em cargos de liderança. Hoje, já percebemos uma evolução nesse sentido, mesmo com a cultura masculina presente, podendo gerar situações de preconceito e discriminação”, explica Deborah.
Sobre a participação feminina no setor ela é taxativa: “Ainda há um longo caminho a percorrer, mas tenho visto progressos significativos nos últimos anos. É fundamental investir em políticas de igualdade de gênero, capacitação profissional e combate ao assédio no ambiente de trabalho. Além disso, é preciso desconstruir a ideia de que certas funções são exclusivamente masculinas, incentivando meninas, desde cedo, a considerarem carreiras nas áreas de engenharia e construção. Uma das principais contribuições que percebo da mulher nessa área, é a diversidade de perspectivas e a habilidade que as mulheres trazem para a equipe. Em geral, elas tendem a ser muito organizadas, comunicativas e focadas em soluções, o que pode agregar muito valor em um ambiente de trabalho colaborativo”, afirma Deborah.
Para Clarissa Silva, 30, engenheira civil e gerente de produção na construtora Constel, a paixão pela construção civil começou cedo. “Ainda quando criança, brincando escondida com tijolos em umas das reformas na casa do meu avô. Ele sempre relatou, na minha adolescência, que na família já havia muitos professores. Na escolha de qual curso seguir, optei pela engenheira civil e amo o que faço”, relata.
Atuando há mais de 10 anos no segmento, Clarissa conta que uma das maiores dificuldades é a resistência à aceitação da autoridade técnica e da posição hierárquica das mulheres nas obras. “Não são poucas vezes que necessito constantemente demonstrar “ser firme” e “me impor” provando as minhas habilidades de liderança e conhecimento na área”, afirma.
No canteiro de obras, Maria Aparecida Freire, 47, atua como sinaleira em um parque eólico na Serra do Tigre, Campo Redondo, no Rio Grande do Norte. O trabalho consiste em sinalizar o tráfego de trânsito para evitar acidentes. “É através desse processo de sinalizar, que as máquinas e os automóveis trabalham com mais segurança.
A profissão de sinaleira é, no meu ponto de vista, uma das profissões mais importantes na área da construção civil. Porque sem as sinaleiras, a obra para. Requer muita atenção, foco e determinação”, explica Maria Aparecida.
Pedagoga de formação, Maria Aparecida encontrou no canteiro de obras uma oportunidade de experimentar o novo. “Sempre tive curiosidade de viver o novo em minha profissão. Quando essa oportunidade surgiu, procurei fazer parte desse novo mundo. Mais uma vitória conquistada dentro do respeito e valorização feminina”, finaliza.
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