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‘Militares querem olhar para o futuro’, afirma Celso Amorim

Em entrevista ao jornal “Estadão”, o ex-ministro da Defesa diz que as manifestações contra a eleição de Lula não vão prevalecer após saída de Bolsonaro

por: NOVO Notícias

Publicado 26 de novembro de 2022 às 09:24

Celso Amorim – Foto: Wilson Dias/arquivo Agência Brasil

O ex-ministro da Defesa Celso Amorim disse ao Estadão que protestos contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atos antidemocráticos não vão prevalecer após a saída do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Eles (militares) querem olhar para o futuro. Todos querem olhar para o futuro. É página virada. A própria eleição virou isso para trás”, afirmou Amorim, que foi chanceler nos governos de Lula e de Itamar Franco e titular da Defesa na gestão de Dilma Rousseff

Os militares ganharam protagonismo político sob Bolsonaro. Além do Ministério da Defesa, para o qual Lula vai escolher um civil, integrantes das Forças Armadas chegaram a comandar Saúde e Minas e Energia, sem contar estatais, como Correios e Petrobras.

Até agora, o mais cotado para chefiar o Itamaraty no governo Lula é o embaixador Mauro Vieira, que foi ministro das Relações Exteriores no governo Dilma e tem a confiança de Amorim.

Integrante do grupo técnico dessa área na equipe de transição, Amorim evitou citar nomes para o cargo, mas disse que, independentemente de ser ou não um diplomata de carreira, o novo chanceler precisa ser alguém que entenda de relações internacionais.

O presidente Jair Bolsonaro usou as Forças Armadas e há hoje uma relação conturbada de militares com o PT. O general Villas Bôas chegou a incentivar protestos contra a eleição de Lula. Isso pode ser superado?

Tudo na política é delicado. Isso não vai prevalecer. Eles (militares) querem olhar para o futuro, todos querem olhar para o futuro. É página virada. Isso ficou para trás. A própria eleição virou isso para trás. Ele (Villas Bôas) já é uma pessoa da reserva há muito tempo, não tem mais peso. Pode ser respeitado por alguns, admirado, mas não tem peso. Nas Forças Armadas o que interessa é o alto-comando.

Além de fazer parte da equipe de Relações Exteriores no gabinete de transição do governo, o senhor também vai integrar o grupo da Defesa?

Vão nomear ainda. Às vezes, me surpreendem. Eu não sabia nem que ia fazer parte do grupo de Relações Internacionais – e me colocaram.

E como tem sido o diálogo com o atual governo? Na conversa que teve com o senhor, o atual chanceler, Carlos França, se mostrou disposto a ajudar?

Foi uma conversa cordial, amistosa. Ele teve uma atitude positiva, republicana, veio me visitar, facilitando o trabalho de transição do ponto de vista administrativo. Nós já temos pessoas (na equipe de transição) designadas pela comissão para atuar lá dentro (do Itamaraty). Não para tomar decisões, mas para se informar, para ver orçamento, essas coisas.

Qual será o perfil do novo ministro das Relações Exteriores? Será necessariamente um diplomata de carreira?

Não sou eu que decido isso. Não é o grupo de trabalho (da transição) que decide isso tampouco. É o presidente. O perfil tem de ser de uma pessoa competente, que entenda de relações internacionais.

O senhor pode voltar a ser chefe do Itamaraty?

Não sei. Quem julga isso não sou eu.

Como o senhor avalia a eleição de Ilan Goldfajn para comandar o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)?

O Brasil adotou a posição que podia adotar. O candidato já tinha sido apresentado pelo outro governo (de Jair Bolsonaro). Também não vetamos. Acho que o Tesouro americano tinha muito interesse na eleição dele – e ele ganhou. Não levantamos objeções.

Mas o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a anunciar que o governo eleito poderia escolher outro nome.

Nome brasileiro não teve. Não posso falar pelo Mantega e não tive nenhuma instrução do presidente nesse sentido. A única instrução do presidente foi que pudéssemos buscar o mais amplo consenso latino-americano com qualquer nome.

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