“Se você tem medo de tomar medicamentos prescritos pelo seu médico porque o jornalista disse que não são bons, deixe o médico, cancele o plano de saúde e vá consultar um jornalista ou um radialista”. O texto apócrifo, replicado por diversos médicos do Rio Grande do Norte e Brasil neste domingo (25), ataca a categoria jornalística por, supostamente, posicionar-se contra a prescrição de medicamentos que não têm comprovação científica no tratamento da Covid-19.
Um dos profissionais médicos que replicaram o texto apócrifo foi a infectologista Roberta Lacerda. Ela ganhou notoriedade por defender o uso da ivermectina e da hidroxicloroquina no tratamento precoce da Covid-19. Nas últimas semanas, ela obteve espaço generoso em diversos veículos de comunicação para defender as suas ideias.
Um dos trechos da nota defendida pela médica diz que “os jornalistas não aceitam convênios, estudam menos, mentem mais e são mais caros que os médicos”.
Segundo Roberta Lacerda, que replicou no Instagram o texto atacando a classe jornalística, o profissional de comunicação que se opõe ao uso de medicamentos sem comprovação científica no combate da infecção pelo coronavírus é “militante que versa sobre um tema com ótica político partidária”. A avaliação da médica é de que a oposição ao uso da cloroquina, por exemplo, é uma ação política.
“A crítica aqui é ao mau jornalismo, parcial, militante que versa sobre um tema com ótica político partidária nos taxando como médicos bolsonaristas pseudocientistas é tudo que prescrevemos como “nova cloroquina”. Ainda tenho esperança que há sim poucos exemplos de jornalistas questionadores, investigativos, preocupados em ouvir TODOS OS LADOS DESSA HISTÓRIA E QUESTIONAR SEMPRE”, escreveu ela, no perfil do Instagram.
A publicação da médica ocorre dias após a revista científica Nature – um dos veículos de divulgação da ciência mais respeitados de todo o mundo – concluir que a hidroxicloroquina está associada a uma maior mortalidade de pacientes com Covid-19.
Segundo a revista, após a análise de 28 estudos científicos, a cloroquina não apresentou nenhum benefício contra a doença causada pelo coronavírus. “Centenas de milhares de pacientes receberam hidroxicloroquina e cloroquina fora de ensaios clínicos, sem evidências de seus efeitos benéficos”, diz o estudo.
Após a publicação dos ataques de Roberta Lacerda, o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte (Sindjorn) divulgou nota oficial em repúdio às falas da médica potiguar. A entidade de classe classificou como “preconceituosas e difamatória” a publicação da médica.
“Termos um jornalismo livre, independente, sem amarras é importante para sustentarmos um dos pilares da democracia. Sermos cordiais e buscarmos uma política da paz e não agressão também nos torna defensores da democracia”, defendeu o Sindjorn.
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern), em questionamento feito pelo Novo Notícias, informa que não compactua com “nenhuma forma de agressão contra jornalistas e demais profissionais da comunicação”.
Confira a nota do Cremern:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte – CREMERN como autarquia reguladora da medicina, mantém o respeito com todas as profissões, e não compactua com nenhuma forma de agressão contra jornalistas e demais profissionais da comunicação. Os casos de agressões em redes sociais não refletem a postura da instituição que sempre manteve o zelo e o respeito por todos os profissionais da comunicação.
Confira a nota do Sindjorn:
NOTA
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Norte lastima a publicação no Instagram da médica Roberta Lacerda, com palavras preconceituosas e difamatórias, que somente destilam ódio e não trazem nenhum conteúdo para a sociedade potiguar. Ela tenta rebaixar os profissionais da comunicação que tanto contribuem para alertar a sociedade dos males que a pandemia está causando ao nosso País, nos aproximando de 400 mil mortes causadas pela Covid.
Jornalista nenhum prescreve ou dita o que o cidadão deve tomar ou não, mas estuda muito, pesquisa e entrevistas médicos, organizações, instituições de pesquisa nacionais e internacionais, respeitando o contraditório em todo seu conteúdo para informar o que está sendo posto nos meios de comunicação.
A própria médica Roberta Lacerda já usou dos meios de comunicação para defender o seu posicionamento com relação ao tratamento precoce para o COVID 19.
Termos um jornalismo livre, independente, sem amarras é importante para sustentarmos um dos pilares da democracia. Sermos cordiais e buscarmos uma política da paz e não agressão também nos torna defensores da democracia.
Não é mais fácil “fazer” jornalismo, não é mais “barato” fazer jornalismo. Cada um responde pelos seus atos dentro de qualquer profissão onde há uma legislação específica para isso, códigos de ética, legislação civil e criminal, todos nós somos iguais perante a Lei. Para finalizar, mente quem escreveu “A resposta dos médicos”.”
Veja a postagem da médica Roberta Lacerda:
https://www.instagram.com/p/COHguP6ltzC/?utm_source=ig_embed
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