Cotidiano

Mais de 300 pessoas desapareceram em 2023 no RN

Polícia Civil registrou o sumiço de 303 pessoas somente no primeiro semestre de 2023. Número é 7,8% maior que o mesmo período do ano passado, quando 281 pessoas desapareceram

por: NOVO Notícias

Publicado 31 de julho de 2023 às 16:00

Nadeje dos Santos aguarda há três meses notícias da filha – Foto: Cedida

Quando Nadeje dos Santos pediu à filha, Suedna Rodrigues da Silva, de apenas 11 anos, que fosse à feira da comunidade Baixa do Rato, em Ceará-Mirim, em 8 de abril de 2023, ela não imaginava que essa seria última vez que veria a menina. Ao sair de casa e caminhar por alguns metros para fazer compras, Suedna desapareceu. Após dois dias sem nenhuma notícia de “Dinha”, como a filha era chamada, a mãe foi até a 14ª DHPP para comunicar o desaparecimento. Buscas foram realizadas em Ceará-Mirim, Taipu e Rio do Fogo, mas, passados três meses, nenhuma notícia chegou até a polícia ou a família.

“Já se passaram três meses e nada. Eu, como mãe, ainda tenho esperanças de encontrar a minha filha com vida. É bem difícil continuar todos os dias, com as incertezas, sem respostas, porém, é o que me resta. Sempre vou na delegacia para saber se existem novas informações, mas nada mudou. Eles (a equipe de investigação) dizem que quando tiver novidades vão avisar. Até lá, fico sem dormir, esperando minha filha voltar”, disse Nadeje Rodrigues, mãe de Suedna Rodrigues.

Nadeje disse que a menina estava acostumada a sair de casa e nunca tinha demorado para voltar. Ao deixar a residência, a criança usava uma blusa com estampa de oncinha, um short jeans e portava um aparelho celular. As investigações foram iniciadas no mesmo dia através de diligências pelas ruas da cidade e com o depoimento de testemunhas. Populares informaram à Polícia Civil que avistaram a menina no centro da cidade, mas a menina não foi localizada. Ainda em depoimento, a mãe da adolescente disse à polícia que dias antes do desaparecimento, um homem teria sido visto conversando com a criança, perguntando a idade dela e se ela gostaria de trocar de celular com ele.

O suspeito foi identificado e localizado. Durante diligências, com a autorização dele, os policiais realizaram buscas em dois endereços em Ceará-Mirim, porém nada de suspeito foi encontrado. O homem foi ouvido formalmente na delegacia, mas negou ter qualquer envolvimento no desaparecimento de Suedna. Cães farejadores foram utilizados pela equipe de investigação para buscas a partir de um lugar que uma testemunha informou ter visto a garota passar. Segundo a instituição, o desaparecimento segue sendo investigado.

O caso de Suedna Rodrigues da Silva é um dos 303 inquéritos de pessoas desaparecidas abertos até o dia 30 de junho de 2023 pela Polícia Civil — um caso a cada 38 horas. O número é 7,8% maior que o mesmo período do ano passado, quando 281 pessoas desapareceram. Os dados são da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminais (COINE).

Mãe e irmão de Luciene Viana do Carmo, sumida desde 2019 – Foto: Cedida

A angústia de não saber onde o familiar está também é enfrentada diariamente pela família de Luciene Viana do Carmo, 40 anos. A mulher foi vista pela última vez na noite de 20 de novembro de 2019, quando deixou uma casa noturna no bairro de Capim Macio, zona Sul da capital potiguar. Quem percebeu o sumiço da mulher foi o filho da técnica de enfermagem. O rapaz ligou para o celular da mãe e quem atendeu foi uma outra pessoa, informando que encontrou o aparelho na Via Costeira, em Natal. Um dia após o desaparecimento, o carro de Luciene foi encontrado no bairro de Ponta Negra, mas nenhuma informação recente sobre o paradeiro da mulher foi divulgada. “É uma ferida que não cicatriza. Nós estamos tentando seguir. Minha mãe vive à base de remédios, o filho da minha irmã pede todos os dias pela presença dela. É uma situação bem difícil. Voltamos recentemente à delegacia, mas o doutor Cláudio que é responsável pela investigação disse que está tentando solucionar, mas que fica impedido pela falta de informações. Não sabemos o que fazer, só nos resta continuar”, declarou João Paulo da Costa, irmão de Luciene.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso de desaparecimento de Suedna Rodrigues continua sob investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Ceará-Mirim. O delegado André Luís, titular que coordena os trabalhos, disse que a equipe continua ouvindo as pessoas novamente. Já em relação ao desaparecimento de Luciene Viana da Costa, a instituição afirmou que o caso foi arquivado por falta de provas e informações.

Aumento de 15,2% no número de desaparecimentos

De acordo com os dados do Anuário da Segurança, houve um crescimento no número de pessoas desaparecidas no Rio Grande do Norte. Foram 594 desaparecimentos em 2022, contra 514 casos em 2021, uma elevação de 15,2% nesse tipo de ocorrência. Números da COINE, vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesed), apontam ainda que 51 pessoas que constavam como desaparecidas no sistema da polícia foram localizadas até o dia 30 de junho de 2022. Já em 2023, o número foi de 152 encontros no estado.

Com o objetivo de auxiliar nas buscas e localização de pessoas desaparecidas, desde 2020, a Polícia Civil conta com um Núcleo de Investigação Sobre Pessoas Desaparecidas (NIPD). Em Natal, o departamento especializado da 9ª Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) atua sob os casos que são registrados na capital do estado.

“A 9ª DHPP está dentro da estrutura da divisão de homicídios e goza dos recursos da divisão. Atualmente, em Natal, temos 244 casos de desaparecimento. Nesses casos, as buscas ficam a cargo da 9ª DHPP. Nos municípios onde houver Delegacia de Homicídios, as buscas ficam a cargo da especializada; onde não houver, a cargo das delegacias municipais. Em 2022, foram encontradas 200 pessoas, sendo 10 sem vida. Já neste ano, os dados ainda não foram computados”, disse o delegado Cláudio Henrique, da delegacia de desaparecidos.

O delegado também falou sobre o trabalho desempenhado pelo núcleo e as dificuldades que o setor ainda esbarra nos processos internos. “A partir do registro do Boletim de Ocorrência indicando o desaparecimento de pessoas, há um protocolo a ser seguido de consultas para se tentar localizar o desaparecido. Infelizmente, falta uma centralização de informações e há ainda grande dificuldade em se checar dados básicos como internação de pessoas sem identificação, ingresso de pessoas sem identificação em abrigos, compartilhamento de dados em portos, aeroportos e rodoviárias”, afirmou Cláudio.

A expectativa para os próximos anos é a efetivação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas no Rio Grande do Norte, que vai concentrar em um só local todas as informações sobre a vítima de desaparecimento. O processo de aplicação da ferramenta está sendo acompanhado pelo governo do estado, mas ainda não tem data específica para ser disponibilizada.

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