Cidade registra desde 2018 rachaduras e tremores de terra, e milhares já tiveram que deixar suas casas. Prefeitura diz que cratera pode surgir a qualquer momento, e governo reconhece estado de emergência.
Publicado 2 de dezembro de 2023 às 10:28
Os moradores de Maceió estão se preparando para uma possível tragédia: o colapso iminente de uma mina de sal-gema da Braskem. A Defesa Civil emitiu na quinta-feira (30) um alerta máximo para moradores do bairro Mutange, que os obrigou a deixar suas casas às pressas – mesmo que sob força policial.
O órgão informou que um colapso da mina 18 pode ocorrer a qualquer momento, e que esse episódio poderia provocar a abertura de uma cratera. Moradores da região protestaram pela remoção ter sido determinada em cima da hora e com falta de clareza sobre quais serão os próximos passos e se eles receberão indenização da empresa.
Um hospital no bairro Pinheiro, vizinho ao Mutange, também foi evacuado na noite de quinta-feira como precaução. A cidade decretou na quarta-feira situação de emergência. Nesta sexta, o governo federal chancelou a medida. Com isso, a cidade deverá receber repasses federais de forma simplificada.
Os ministros do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e dos Transportes, Renan Filho, também visitaram Maceió com uma equipe de técnicos para monitorar a situação. Em uma rede social, Renan Filho disse que a empresa precisa ser responsabilizada pela situação.
“Não é hora de atribuir responsabilidade a quem não deve. A Braskem precisa ser responsabilizada civil e criminalmente pelo crime ambiental cometido em Maceió, garantindo a reparação aos danos materiais e ambientais causados aos maceioenses”, disse.
Dias também se manifestou sobre a gravidade da situação. “O cenário é grave, estamos falando de abalos sísmicos, bairros afundando, consequências de um possível crime socioambiental. O MDS está atento para acompanhar de perto a situação e prestarmos a assistência necessária para ajudar no que for preciso”, escreveu.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai acompanhar a situação emergencial decretada em Maceió pelo afundamento de uma mina de exploração de sal-gema da Braskem.
De acordo com o CNJ, o agravamento da situação será analisado pelo Observatório de Causas de Grande Repercussão, órgão que tem a função de monitorar processos sobre desastres e demais questões com grande repercussão.
Veja abaixo um vídeo feito por moradora da área que está impedida de entrar em casa:
Minha tia tenta há três anos negociar com a Braskem, mas teve apenas 10 minutos para pegar seus pertences pessoais. Nesse pouco tempo, muita coisa ficou pra trás. As ruas estão desertas, não há patrulhamento e seus bens estão totalmente vulneráveis a saqueadores. pic.twitter.com/x0M5bxynlf
— desvirilizante subversivo (@oxetuca) December 2, 2023
O risco apresentado pelas minas de sal-gema em Maceió já é conhecido há vários anos. O minério, utilizado para a produção de soda cáustica e PVC, começou a ser extraído da região no final da década de 1970, pela então Salgema Indústrias Químicas S/A, em minas localizadas a cerca de 1.200 metros abaixo da superfície. Para retirar o minério, a empresa injetava água na camada de sal e extraía a salmoura resultante.
Depois, reinjetava líquidos no local para estabilizar o solo. Porém, as minas apresentaram vazamentos. Em 2018, grandes rachaduras começaram a aparecer no bairro do Pinheiro e tremores de terra foram registrados. No ano seguinte, um órgão do governo federal, o Serviço Geológico do Brasil, confirmou que as minas de sal-gema estavam provocando a instabilidade.
Há, no total, 35 minas na capital alagoana, que foram desativadas em 2019. Desde junho de 2019, mais de 14 mil imóveis de cinco bairros de Maceió tiveram que ser desocupados devido à instabilidade do solo, criando ruas fantasmas onde antes moravam 55 mil pessoas. A Braskem vem realizando intervenções para tentar estabilizar as cavernas criadas para extração do minério, mas, em novembro, cinco tremores de terra foram registrados na região.
Autoridades locais avaliam que há grande chance de a mina 18, no bairro do Mutange, colapsar a qualquer momento. O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, afirmou à emissora CNN Brasil que, na manhã da sexta-feira, a região estava afundando cerca de 5 centímetros por hora. Ele falou que a cidade está próxima de viver “a maior tragédia urbana do mundo em curso”.
A mina 18 fica parte sob a lagoa Mundaú e parte sob o bairro do Mutange. A Defesa Civil estima que, no momento em que a mina ceder, uma cratera deverá ser criada e preenchida com águas da lagoa. É possível também que toda a cidade de Alagoas sinta um tremor de terra no momento do colapso.
Mas, segundo o órgão, a magnitude do tremor não deve afetar prédios com estruturas saudáveis. Como a Braskem se posiciona A Braskem afirmou em nota que reconhece o crescente risco no local e afirma estar tomando todas as medidas cabíveis para reduzir seu impacto, e que segue monitorando e compartilhando os dados com as autoridades.
Segundo a empresa, os dados atuais de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá ocorrer de forma gradual até a estabilização ou de maneira abrupta. A empresa vem indenizando os moradores obrigados a se realocar, nos termos de um acordo assinado em janeiro de 2020 com Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de Alagoas, Defensoria Pública da União e Defensoria Pública do Estado de Alagoas.
Segundo a Braskem, em outubro, 17.828 indenizações já haviam sido pagas, e o montante desembolsado em indenizações e auxílios financeiros somava R$ 3,85 bilhões.
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