Segundo a Fecomércio, declínio do comércio no Centro deve-se as limitações do antigo Plano Diretor de Natal, a diminuição do fluxo de residentes, o crescimento de outros centros comerciais na cidade e a dura crise desenvolvida pela pandemia
Publicado 4 de abril de 2022 às 16:00
Diminuição do fluxo de pessoas nas principais ruas e avenidas, lojas vazias ou com baixo movimento e diversas empresas fechadas; esse é o atual cenário do berço do comércio natalense: a Cidade Alta.
Dados da Junta Comercial do Rio Grande do Norte (Jucern) apontam que, em 2011, haviam 2.581 empresas ativas no bairro. Onze anos depois, esse número caiu para 2.043 – entre empresas de serviço, comércio, indústria,e segmentos.
Raimunda Ferreira, mais conhecida como Fátima, é moradora da região há quase 50 anos. Para ela, a diminuição da movimentação na Cidade Alta nos últimos anos impressiona. “Todo dia, toda hora, eu estou aqui no Centro. E a movimentação diminuiu muito. Muitas lojas estão fechando. Antes, a gente fazia tudo por aqui: compras, pagamentos. Agora, não mais. Temos que ir ao shopping pra fazer isso. Ontem eu estava passando por aqui e pensando: ‘Meu Deus, o que era isso aqui que a gente não podia andar, e hoje é limpa, limpa’”, disse.
O empresário Delcindo Mascena atua há mais de 30 anos no Centro de Natal. Ele relata que presenciou a época do comércio pulsante no bairro mais antigo da capital. “Acompanhei tudo de bom e maravilhoso no Centro, onde tinha os maiores movimentos, onde as pessoas vinham fazer compras e onde toda a população da cidade vinha passear. Naquela época não tínhamos shopping center. O shopping era o Centro, onde tinha as melhores lojas, tinha tudo”, relatou.
Francisca Costa tem 60 anos e há 18 vende tapioca em um carrinho de lanches na avenida Rio Branco, em frente a uma loja de departamento que fechou recentemente. “Depois que essa loja fechou, a movimentação caiu muito. Antes eu vendia 60 tapiocas por dia. Hoje eu vendo umas 30. Caíram pela metade, as vendas”, disse a comerciante.
Segundo Delcindo Mascena, um dos motivos para essa ‘debandada’ de pessoas e estabelecimentos da Cidade Alta é a retirada de secretarias municipais do bairro, como a da Saúde e a da Educação.
“Quando elas eram aqui, cada uma gerava cerca de 100 a 300 empregos diretos no bairro. Além disso, milhares de pessoas vinham resolver problemas nessas secretarias. Então, isso gerava movimentação, emprego e renda no comércio. Essa saída de algumas empresas ultimamente é porque não tem venda, não tem movimento, e não tem como o empresário sustentar a sua empresa sem vender”, relatou o empresário.
De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio RN), o processo de declínio comercial na Cidade Alta nos últimos anos vem acontecendo em razão de uma série de fatores. Entre eles: as limitações do antigo Plano Diretor de Natal, a diminuição do fluxo de residentes, o crescimento de outros centros comerciais na cidade e a dura crise desenvolvida pela pandemia.
“A Fecomércio, em parceria com outras entidades, tem apoiado ações no bairro e trabalhado em um projeto de Revitalização da Ribeira e da Cidade Alta, que é liderado pela Prefeitura. Entendemos que, com o Novo Plano Diretor, há um grande potencial para resgate desta área, que se torna mais atrativa para novos negócios e investimentos”, disse a Fecomércio.
Em abril de 2021, a Prefeitura do Natal iniciou um processo de readequação de algumas calçadas da capital, entre elas as da avenida Rio Branco. As intervenções contemplam a ampliação das calçadas, com substituição do pavimento por placas de concreto, arborização, ciclovia e acessibilidade. O objetivo, de acordo com o Executivo, é melhorar a mobilidade de quem caminha pela cidade.
O prazo inicial para a execução da obra era de 120 dias. Um ano depois, o serviço ainda não foi concluído. Os comerciantes aguardam ansiosos por essa finalização. “Eu creio que essa obra nas calçadas vai dar uma levantada no movimento. As calçadas aqui não prestavam. Eram todas quebradas, destruídas. Essa obra é muito importante pro Centro da cidade”, disse dona Francisca Costa.
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