O lipedema é uma condição crônica e progressiva, ainda pouco conhecida, que afeta principalmente mulheres. Segundo estimativas, cerca de 10 a 12% das mulheres sofrem dessa doença, o que representa aproximadamente 5 milhões de brasileiras ainda não diagnosticadas. Os sintomas incluem o acúmulo desproporcional de gordura nas regiões afetadas, dor e sensibilidade ao toque aumentada, além de hematomas frequentes. A doença, muitas vezes confundida com obesidade e celulite, não é específica para mulheres obesas.
A gordura acumulada no lipedema é resistente à dieta e ao exercício físico, dificultando a perda de peso nessas áreas específicas. A doença é classificada por tipos, dependendo do local de acometimento:
E por ser uma doença crônica, ela tende a agravar, apresentando 4 estágios ou graus: desde o mais leve com apenas aumento localizado da gordura até o mais avançado com presença de linfedema e alterações articulares de joelhos, tornozelos e dificuldade de locomoção.
A cirurgiã vascular Camila Antunes enfatiza a necessidade de maior conscientização e diagnóstico precoce para evitar o avanço da doença. “Por ser uma doença crônica e geralmente de progressão lenta, os primeiros sinais costumam ser de difícil identificação. Mas na adolescência já começamos a observar acúmulo de gordura desproporcional na região de glúteos e coxas, às vezes associado a presença de manchas roxas (hematomas espontâneos). Também pode estar presente dor ou aumento de sensibilidade das regiões afetadas. A procura por um médico especialista deve ser feita na primeira suspeita do diagnóstico, principalmente se já houver um quadro familiar semelhante”, explica a médica.
Também especialista no assunto, a endocrinologista Raissa Castro acrescenta que “as mulheres muitas vezes notam o surgimento ou piora do lipedema durante períodos de mudanças hormonais significativas, como a puberdade, gravidez e menopausa. Esses períodos de ‘flutuações hormonais’ podem exacerbar o quadro de lipedema, indicando que os hormônios têm um papel importante no desenvolvimento e progressão da doença”.
O tratamento do lipedema requer uma abordagem multidisciplinar e é realizado em etapas. Inicialmente, busca-se a desinflamação e emagrecimento, quando necessário, bem como a melhora dos hábitos alimentares e do padrão de sono. “Tratamentos fisioterápicos para controle de alterações posturais e promoção da drenagem linfática e redução da fibrose também são essenciais, além do controle de doenças associadas, como varizes, linfedema, distúrbios hormonais e alimentares”, afirma Dra. Camila.
Médicas Raíssa Castro (esq.), Camila Antunes (centro) e nutricionista Micarla Tereza (dir.) se uniram para oferecer tratamento integrado e personalizado
Em casos mais avançados, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. “A cirurgia plástica, como a lipoaspiração e a retirada do excesso de pele, muitas vezes é essencial não apenas por razões estéticas, mas também para permitir autonomia, locomoção adequada e melhorar a qualidade de vida do paciente”, explica a especialista.
Raissa Castro enfatiza a importância de uma abordagem multidisciplinar. “O lipedema pode estar relacionado a alguns quadros metabólicos. Pessoas com lipedema e obesidade podem apresentar, concomitantemente, condições metabólicas, como resistência à insulina e síndrome metabólica. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo dieta anti-inflamatória, exercícios físicos específicos e acolhimento psicológico, é crucial para o manejo do lipedema e dos possíveis quadros metabólicos associados”.
Para atender às necessidades complexas dos pacientes com lipedema, foi criado o programa Lipedema Experience. “É uma iniciativa pioneira, em que oferecemos um acompanhamento sequenciado entre a cirurgiã vascular, endocrinologista e nutricionista, através de consultas cuidadosamente planejadas e estratégias personalizadas para cada paciente”, detalha Camila Antunes.
O programa inclui a cirurgiã vascular Camila Antunes, a endocrinologista Raissa Castro, a nutricionista Micarla Tereza e toda a equipe de tratamentos corporais do Instituto Regina Jales. “O objetivo é criar uma rede de assistência composta por especialistas que acolhem o paciente com lipedema, proporcionando um tratamento integrado, eficaz e individualizado”, conclui.
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