A pesquisa indica uma série de fatores que podem ter contribuído para o quadro, como o baixo consumo de frutas e verduras, pouca prática de atividade física e tempo exagerado de uso de telas, como celulares e televisão. Para classificar uma pessoa como “obesa”, o estudo, chamado Covitel, levou em consideração o Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 30. O levantamento ouviu 9 mil pessoas maiores de 18 anos entre janeiro e abril de 2023. Os contatos foram feitos por telefone com moradores das capitais e do interior nas cinco regiões do país.
O cenário desenhado pelos dados, segundo pesquisadores responsáveis, indica que a população brasileira ainda vive os reflexos da pandemia de covid. “O excesso de peso vem numa tendência de crescimento há muitos anos. Mas estamos saindo de uma pandemia, e essa população que hoje está com 18 anos, há três anos estava em plena adolescência, que é a época em que socialização é super importante, e ficou todo mundo dentro de casa, sem fazer atividade física, a saúde mental foi super agravada”, explica Luciana Vasconcelos Sardinha, uma das coordenadoras da pesquisa e gerente sênior de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.
Segundo o Covitel, 63,1% dos jovens de 18 a 24 anos não praticam atividade física de acordo com recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou seja, durante pelo menos 150 minutos por semana. Somado a isso, há a alimentação de baixa qualidade: entre a população dessa faixa etária, 66,5% não consomem frutas, e 60,8% não comem verduras e legumes com frequência – ou seja, cinco vezes na semana ou mais. As pessoas nessa idade também são as que gastam mais tempo diante de telas em comparação com todas as outras faixas etárias: 76,1% usam celulares, computadores, tablets ou TV por mais de três horas ao dia para lazer.
Saúde mental abalada
Os maus hábitos têm reflexos imediatos em outros indicadores analisados, como a qualidade do sono e a saúde mental. Entre os jovens, 42,8% relatam não dormir bem. Esse público também apresenta alta incidência de diagnósticos psiquiátricos: 2,4 milhões (14,1%) estão com depressão e 5,5 milhões (31,6%) com ansiedade. O panorama acendeu alerta de especialistas, que consideram urgente uma abordagem multifatorial para combater o problema.
“A gente não pode só culpabilizar a população, tem que ter políticas públicas que deem oportunidades de melhores escolhas. Há uma discussão no âmbito da reforma tributária que está pensando em um imposto seletivo para consumos de alimentos que fazem mal à saúde, por exemplo. A gente sabe que se aumentar o preço, diminui o consumo, o acesso”, analisa a pesquisadora. “Seria importante ensinar sobre alimentação desde o início, inibir venda de ultraprocessados e refrigerantes na escola. No caso da merenda escolar, há uma legislação que determina a compra de parte dela da agricultura familiar e isso não é cumprido.”
Em abril, o governo federal firmou um termo interministerial para garantir a compra de 30% da merenda escolar da agricultura familiar. De acordo com a legislação, pelo menos 75% dos recursos usados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) devem ser utilizados na aquisição de alimentos in natura ou minimamente processados. Somente 20% desse dinheiro podem ser gastos em alimentos processados e ultraprocessados e os 5% restantes em itens culinários.
Além de implementar políticas para melhorar a alimentação da população desde a infância, medidas relacionadas à infraestrutura das cidades, como existência de praças e quadras poliesportivas, e à segurança, como iluminação pública, também fazem parte do conjunto de ações para minimizar o problema. Essas medidas podem, por exemplo, criar condições para que a população mude de perspectiva em relação à prática de atividades físicas ao ar livre.
“A Saúde por si nunca vai dar conta, por isso tem que juntar com outras pastas, como Educação, Infraestrutura, Segurança, para que todos olhem para esse problema e consigam resolvê-lo”, finaliza a pesquisadora.
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