Bolsonaro foi uma das primeiras pessoas que Milei convidou quando foi eleito no segundo turno das eleições argentinas em 19 de novembro. Poucas horas depois da vitória, eles fizeram uma vídeo-chamada em que o convite foi feito, antes mesmo de convidar Lula. Sob incertezas se o atual mandatário brasileiro viria a Buenos Aires depois de Milei o haver chamado de “comunista” e “corrupto” durante a campanha, além de acusá-lo de interferir no pleito argentino, Lula indicou horas depois que não participaria do evento.
Milei tentou amenizar o mal-estar gerado, enviando sua futura chanceler, Diana Mondino, para se reunir com Mauro Vieira e entregar uma carta direta do libertário para Lula, convidando-o para a posse. “Desejo que o tempo em comum como presidentes e chefes de governo seja uma etapa de trabalho frutífero e construção de laços que consolidem o papel que Argentina e Brasil podem e devem cumprir como nações”, escreveu Milei, em um movimento vistos por analistas na época como tentativa de desfazer os ditos anteriores. Lula porém, confirmou há poucos dias a sua ausência do evento.
De acordo com a imprensa argentina, Bolsonaro deverá participar das duas cerimônias de posse do novo presidente: no Congresso e na Casa Rosada. A situação de Milei com o Brasil é parecida com a dos Estados Unidos, em que Joe Biden não estará presente e enviará representantes em seu lugar, enquanto a presença do ex-presidente Donald Trump continua sendo uma esperança dos libertários até o último minuto – embora vista como improvável.
Chegaram junto com Bolsonaro: seus filhos, o deputado federal, Eduardo Bolsonaro, quem esteve em Buenos Aires no primeiro turno e acompanhou o voto do deputado argentino Nahuel Sotelo, e o senador Flavio Bolsonaro. Também veio o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto e o ex-ministro Gilson Machado Neto.
O ex-presidente provocou alvoroço ao caminhar pela famosa rua Florida, no centro de Buenos Aires, onde há um grande fluxo de turistas brasileiros. Quem o reconheceu, pedia para tirar fotos e fazer vídeos. Em seguida, Bolsonaro seguiu para o Hotel Libertador, onde Milei está desde o primeiro turno das eleições. Ali, se reuniu com o libertário e parte de seu futuro gabinete, como a ex-adversária e futura ministra de Segurança, Patricia Bullrich.
“Foi uma conversa entre amigos, um retrato do que a Argentina está passando. Falamos sobre a economia. Todos sabem que sua escola de pensamento é austríaca, que ele precisa tomar medidas rápidas. Estamos perto da hiperinflação, está ciente da responsabilidade que tem e de como está o país”, disse a jornalistas depois do encontro, acrescentando que Milei “encontra uma situação crítica, mais crítica que a do Brasil”.
“Isso tem um efeito meio óbvio com relação ao governo brasileiro e Lula, de [gerar] hostilidade, que claramente não vai ficar bem a Milei, e até já se nota isso”, aponta o analista político Pablo Touzon. “E talvez um efeito dentro da direita brasileira, como se Milei estivesse revivendo um morto com isso.”
“Eu me lembro que acontecia um pouco parecido quando Cristina [Kirchner] viajava, enquanto o peronismo tentava substituí-la e começar uma transição para uma liderança nova. E cada vez que ela era recebida por alguém em outro país, um pouco revivia o fantasma dessa liderança e então todos os peronistas retornavam [para ela]. Talvez seja algo parecido com o que faz Bolsonaro agora, mas não é uma certeza”, completa.
Na quinta-feira, Lula se despediu de Alberto Fernández, quem vai passar o cargo para Milei. “Estou pessoalmente triste com a partida do nosso querido Alberto Fernández porque nós temos uma relação de amizade muito importante”, disse durante a Cúpula do Mercosul, relembrando de quando o argentino o visitou na prisão em Curitiba. “Acho que você merecia melhor sorte. A economia poderia ter melhor sorte, mas aconteceu o infortúnio, inclusive de uma pandemia e de uma seca que muita gente foi prejudicada”.
A lista de convidados está diversa, Bolsonaro estará ao lado tanto líderes de esquerda quanto de direita da América Latina, entre eles: Gabriel Boric, do Chile; Luis Lacalle Pou, do Uruguai, Daniel Noboa recém-eleito no Equador e Santiago Peña, do Paraguai. Todos já confirmados. Algumas ausências chamaram atenção, como de Nayib Bukele, de El Salvador e Gustavo Petro, da Colômbia. Nomes ainda em dúvida são Dina Boluarte do Peru e o ex-presidente do Equador, Guillermo Lasso.
Já a Casa Branca comunicou que vai enviar a secretária de Energia, Jennifer Granholm, bem como Juan González, diretor para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, e o embaixador americano na Argentina, Marc Stanley. A presença de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden era especulada, mas não foi confirmada por Washington.
Da Europa, a presença do ucraniano Volodmir Zelenski foi vista com surpresa, já que será sua primeira viagem à América do Sul. Desde o início da guerra na Ucrânia, Zelenski se limitou a poucas saídas de seu bunker, geralmente para Europa ou Estados Unidos. Da parte da Rússia, Milei chegou a convidar Vladimir Putin, mas não recebeu um retorno, segundo a imprensa argentina
O rei Felipe VI, da Espanha, foi um dos primeiros a confirmar presença. Já Israel enviará o ministro de Relações Exteriores Eli Cohen, que foi um dos primeiros a felicitar Milei após a vitória e o convidou a mudar a embaixada argentina de Tel-Aviv para Jerusalém.
Também estarão presente nomes de peso da direita e extrema direita da Europa, como Viktor Orbán, Hungria, e Santiago Abascal, líder do partido Vox.
Além desses, receberam convites: Giorgia Meloni, da Italia; Emmanuel Macron, da França; Guillermo Lasso e Narendra Modi, da Índia. Não foram convidados: Nicolás Maduro, da Venezuela; Miguel Díaz-Canel, de Cuba; Daniel Ortega, da Nicarágua e Ebrahim Raisi, do Irã.
Milei quer se diferenciar de seus antecessores e fará uma cerimônia de posse mais parecida com a americana, com direito a discurso em frente ao Congresso Nacional. O novo presidente pretende conduzir atos dentro e fora do prédio legislativo, bem como na Casa Rosada, residência oficial do presidente da Argentina.
“Nos Estados Unidos, o presidente fala do terraço do Capitólio, que seria o nosso Parlamento”, afirmou Hernán Lombardi, deputado do partido de Mauricio Macri que tem trabalhado junto com Karina Milei, irmã de Javier Milei e futura secretária da Presidência.
Por volta das 10h, Milei receberá os atributos presidenciais e fará um juramento perante à Assembleia Legislativa. Então, deverá fazer um discurso para o público do lado de fora. Perto do 12h, a cerimônia de transferência será na Casa Rosada.
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