O ultraliberal Javier Milei foi eleito o novo presidente da Argentina com uma vantagem histórica sobre o rival, o peronista Sergio Massa. O candidato governista e ministro da economia reconheceu a derrota antes mesmo do fim da apuração e da divulgação dos votos.
“Quero dizer que obviamente os resultados não são os que esperávamos e tenho me comunicado com Javier Milei para felicitá-lo, porque é o presidente e é quem vai liderar a Argentina nos próximos 4 anos”, disse o candidato.
Os primeiros resultados oficiais, com 90% das urnas apuradas, Javier Milei teve 55,95% dos votos, e Massa teve 44,04% – a maior vantagem de um candidato a presidente nas eleições recentes na Argentina. Milei teve 13,2 milhões de votos, ante 10,4 milhões de Massa.
As pesquisas para o segundo turno deram leve vantagem para Milei, às vezes no limite da margem de erro, e indicaram que a disputa seria acirrada, decidida voto a voto. A expectativa é que os resultados oficiais sejam consolidados a partir das 21h, quando a Argentina deve ter o novo presidente eleito para substituir Alberto Fernández na Casa Rosada. A posse está marcada para 10 de dezembro.
A eleição ocorreu em um contexto de crise fiscal na Argentina, onde a inflação ultrapassa os 138% este ano, o peso se desvaloriza e a pobreza atinge 40% da população. O tema dominou a campanha eleitoral, com os dois candidatos do segundo turno sendo economistas, mas com ideias opostas.
No primeiro turno, Massa obteve 36,68%, contrariando quase todas as pesquisas de opinião, e o candidato libertário Javier Milei da coalizão Liberdade Avança conseguiu 29,98% dos votos. O resultado destoou das primárias eleitorais, vencidas por Milei. O resultado deixou o país dividido entre o peronismo, desgastado pelo governo de Alberto Fernández, e as propostas libertárias de Milei, que incluíram a dolarização do país e o fim do Banco Central.
A candidata de centro-direita Patricia Bullrich, que parecia ter forças para ir ao segundo turno, mas ficou em terceiro, declarou apoio ao libertário no segundo turno. O apoio contribuiu para que o libertário conseguisse a vitória no segundo turno. Os dois candidatos acenaram ao centro nas últimas semanas.
O ultraliberal Javier Milei surgiu como uma terceira força política e virou o jogo eleitoral. O presidente eleito da Argentina se colocou como um outsider e disse que iria acabar com a classe dominante, reduzir o governo e fechar o banco central, cuja política monetária ruim, segundo ele, “rouba” dinheiro dos argentinos por meio da inflação.
As palavras fortes contra os políticos e a marca registrada do cabelo desordenado – que lhe rendeu comparações com o ex-premiê britânico Boris Johnson – conquistou um público que se viu representado em seu jeito mais próximo “do povo”.
Antes de chegar à política, Milei foi goleiro do clube de futebol argentino Chacarita Juniors, mas encerrou a carreira no começo dos anos 1990. Nascido no bairro portenho de Palermo, em 22 de outubro de 1970, Milei teve uma infância marcada por polêmicas em família. Ele mesmo reconhece que não se dava bem com a família, apenas com sua irmã, Karina Milei. Ele diz que ela é a pessoa que melhor o conhece e “a grande arquiteta” de seus acontecimentos políticos. Milei disse a diferentes meios de comunicação que, caso se torne presidente, ela desempenhará o papel de primeira-dama.
A ascensão do novo integrante a Casa Rosada começou em 2018 nos principais meios de comunicação argentinos, com a divulgação de seu discurso “liberal libertário”, como costuma chamar. Suas aparições no rádio e na televisão locais geraram polêmica, seja entre seus colegas economistas, jornalistas ou apresentadores.
O grande salto em sua carreira política veio em 2020, quando anunciou sua candidatura à presidência nas eleições de 2023. Esse passo abriu caminho para que seu partido, La Libertad Avanza, conquistasse duas cadeiras na Câmara dos Deputados no ano seguinte, ocupados por ele e por sua candidata à vice-presidência, Victoria Villarruel.
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