Objetivo da campanha é fazer com que a população passe a ter mais cuidado com a saúde mental e também chamar a atenção das instituições e das autoridades para as necessidades relacionadas ao tema
Publicado 9 de janeiro de 2023 às 15:00
Convidar as pessoas a pensarem sobre o sentido e o propósito das suas vidas, a qualidade dos seus relacionamentos e o quanto elas conhecem sobre si mesmas, suas emoções, seus pensamentos e seus comportamentos. Esse é o objetivo da campanha Janeiro Branco, que esse ano está em sua sétima edição.
A psicóloga Cristina Hahn reforça a importância de não negligenciar os cuidados com a saúde mental, pois, segundo ela, o “mundo interno” é tão importante quanto o “mundo externo”. “As dores emocionais doem tanto quanto as físicas. Já está mais do que na hora de acordarmos para a necessidade de nos escutar, de ter autoconhecimento e, acima de tudo, de cuidar da nossa cabeça. Se prestarmos atenção, basta dar uma rápida olhada ao nosso lado para ver quantas pessoas que conhecemos que estão sofrendo com transtornos mentais”, disse.
Uma estatística da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que 30% da população das Américas já teve ou ainda terá algum tipo de transtorno mental. Mas se engana quem pensa que todo transtorno mental é igual.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), existem mais de 300 transtornos catalogados. Entre eles estão os transtornos afetivos ou de humor, como a depressão; transtorno bipolar; transtornos de ansiedade, como o TAG (transtorno de ansiedade generalizada); a síndrome do pânico e fobias. Além disso, também existem os transtornos alimentares, como anorexia, bulimia, compulsão alimentar etc; os transtornos de personalidade, como transtorno obsessivo compulsivo, borderline etc; esquizofrenia e outros.
De acordo com Hahn, para identificar se está adoecido mentalmente ou não, o indivíduo precisa observar alguns sintomas físicos, emocionais e mentais, como “mudanças de humor repentinas, mudanças no comportamento, dificuldades de concentração, raciocínio, em expressar ideias ou em conviver com outras pessoas, cansaço excessivo, irritabilidade, inquietação, falta de paciência, alterações de sono para mais ou para menos e de apetite, abusos de álcool, drogas ou medicamentos, taquicardia e dores no peito, além de dores no corpo – como as tensões musculares, lombalgias e dores de cabeça – e problemas digestivos”. Os sintomas, de acordo com a psicóloga, podem fazer parte de transtornos como depressão, ansiedade, síndrome de Burnout, entre outros.
“Fique atento às mudanças de atitudes, sentimentos, pensamentos e comportamentos que podem estar prejudicando sua qualidade de vida”, reforçou Cristina, complementando ainda que é possível tratar esses transtornos e recuperar a saúde mental. “É necessária uma avaliação psicológica, para então direcionar o tratamento psicoterápico mais adequado e a possível necessidade de avaliação psiquiátrica porque, em alguns casos, além da psicoterapia, é preciso associar o acompanhamento psiquiátrico”, explicou.
O Rio Grande do Norte possui alguns pontos de atenção de acordo com a complexidade que o caso requer através da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): 1.053 Estratégias de Saúde da Família; 46 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nas 8 regiões de saúde; 4 Serviços Residencial Terapêutico (SRT), sendo 3 em Natal e 1 em Caicó; 3 Unidades de Acolhimento Infantojuvenil, sendo 2 em Natal e 1 em Parnamirim; 1 Centro de Convivência em Natal; e 32 leitos de saúde mental, sendo 5 no Hospital Tarcísio Maia, 5 no Hospital Mariano Coelho, 8 no Hospital Cleodon, 8 no Hospital Nivaldo Junior, 6 no Hospital Onofre Lopes e 80 leitos no Hospital Geral João Machado.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), o serviço atual supre a demanda do estado. “Existe um processo de desospitalização. Antigamente, as pessoas ficavam a vida toda internadas, sem contato social. Mas tem um movimento acontecendo que é o movimento antimanicomial, que busca outras formas de tratamento para o paciente”, disse a Sesap.
A Secretaria ainda informou que, recentemente, foi deflagrado o Plano Estadual de Expansão de Leitos de Saúde Mental em Hospitais Gerais do Estado. No entanto, de acordo com o Conselho Regional de Psicologia da 17ª Região (CRP/RN), “somente a oferta de mais serviços psicológicos para a população tem se mostrado insuficiente em termos de política pública”.
“Está crescendo o número de pessoas apresentando consumo dependente de drogas, com pensamento e tentativas de suicídio, com crises de pânico, em surto psicótico e várias outras manifestações de sofrimento. Ações como aumento de leitos psiquiátricos e oferta de psicoterapia, sem a devida articulação intersetorial, pensando no cuidado humanizado e em liberdade, não bastam. A saúde mental se constrói de modo interdisciplinar e intersetorial, ou seja, não é somente assunto de psicólogo e psiquiatra. É necessário investir na articulação com escolas para pensar na saúde de crianças e adolescentes; programas de esporte e lazer; serviços da assistência social, leitos psiquiátricos em hospitais gerais (em casos de necessidade de internação); parcerias entre as redes de saúde mental e as instituições de ensino superior, e vários outras ações que podem ser pensadas com o objetivo de promover cuidado, considerando a autonomia, respeito e dignidade da população”, explicou a conselheira Ana Izabel.
Ela ainda pontuou que esse cenário não se reduz ao RN. “É algo que pode ser observado em todo o Brasil. Por isso, a importância de aproveitarmos esse Janeiro Branco, assim como todos os meses e cores do ano, para discutirmos Política Saúde Mental. Defendemos, enquanto Conselho Regional de Psicologia, que saúde mental deve ser pauta de janeiro a janeiro”, disse.
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