Iury Matias trouxe o Prêmio Profissionais da Música 2023 para o RN. Foto: Luana Tayse
Em 2013, o músico e produtor Iury Matias se via – segundo descreve – correndo “atrás do próprio rabo”. Artista no Rio Grande do Norte, ele tinha a sensação de trabalhar muito e não sair do lugar. E, ao mesmo tempo, via que fora do estado as coisas estavam acontecendo. Esse sentimento fez com que ele deixasse o país e fosse morar em Portugal.
A “pátria-mãe” foi apenas o início de uma jornada que o levou a palcos pela Espanha, Itália, Suíça, Bélgica e Cabo Verde. E, nessas apresentações, ele tocou com artistas de países como Moçambique, Chile, Cabo Verde, Uruguai, Angola e República Tcheca, entre outros.
Em 2020, a pandemia de Covid (sempre ela) derrubou toda sua agenda e provocou seu retorno ao Brasil. Tempo e tempo. Semana passada, quase 10 anos depois de ter partido, Iury novamente levantou voo para fora do RN. Mas desta vez não foi tão longe, nem ficou fora por tanto tempo.
Dia 1º, quinta-feira passada, o artista aterrissou em Brasília para participar do Prêmio Profissionais da Música 2023, que voltou a ser presencial este ano. Participou de todas as atividades desse verdadeiro festival.
No domingo (4) à noite, quase 10 anos depois de ir embora por não sair do lugar, Iury Matias foi eleito o melhor “instrumentista popular masculino” do Norte/Nordeste, algo inédito para o RN.
Na segunda-feira (5), ele voltou a Natal. E, quando deu esta entrevista, por volta das 17h, passou a impressão de estar sentindo o mesmo que cantou Gilberto Gil, em Back to Bahia: “Como se ter ido fosse necessário para voltar”.
“Não tenho nem palavras para descrever o sentimento e o significado. A importância de uma oportunidade como essa. A gente conseguiu colocar Natal, colocar o Rio Grande do Norte nesse lugar durante essa premiação”, celebrou.
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Iury nasceu em Natal onde morou até os 13 anos. Depois disso, mudou-se com a família para Mossoró. Há 20 anos, em 2003, começou a estudar música. Em 2005 retornou à Natal para cursar música na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Em 2013, oito anos depois, ele passava por aquela sensação de dar voltas em torno de si e não chegar a lugar nenhum. “Eu fui embora porque eu me via correndo atrás do próprio rabo aqui, andando em círculos, fazendo o mesmo circuito e não saía do canto. Eu via nos outros estados do Nordeste as coisas acontecendo, até para mim”, conta.
“Eu saía daqui para ir tocar todo ano. Saía daqui pra tocar em grandes circuitos no Ceará, na Paraíba. Imagina: batendo no Piauí para tocar e não conseguia fazer isso aqui no Rio Grande do Norte, com trabalho autoral, que era o que eu realmente queria mostrar, as minhas composições”, relata. Partiu, voltou e se recompôs em seu estado natal, uma pandemia depois.
Ano passado, Iury Matias tomou conhecimento das inscrições do Prêmio Profissionais da Música. A edição 2023 homenageou a cantora, compositora e cirandeira Lia de Itamaracá; o compositor, cantor, instrumentista e artista plástico Renato Matos; o pesquisador e produtor musical Juarez Fonseca; e um dos expoentes do Mangue Beat, Chico Science (in memoriam).
Ele apresentou inscrições em quatro modalidades para duas categorias (criação e produção). “Como eu sou o meu próprio produtor, eu fiz a inscrição na categoria criação e outra que é a produção. Eu estava participando como produtor musical, autor instrumental, autor (letra e música) e instrumentista popular masculino, que foi a que eu ganhei”, explicou. .
Na reta final, Iury superou outros quatro músicos: Gama Junior, de Maceió (AL), Igor Gnomo, de Paulo Afonso (BA), Luciano Magno, de Recife (PE) e Marcelo Pyrull, de Belém (PA). Para chegar à final, cada um deles enfrentou curadoria, votação popular e do juri técnico.
A avaliação é feita com base no material que os artistas enviam e que incluem além de áudios e textos, vídeos demonstrando a capacidade de cada um. “O critério avaliado aí em questão para instrumentista popular é a destreza musical”, explica. Além disso, também são avaliadas a formação, os trabalhos e a produtividade, entre outros aspectos.
“Tinha lá um camarada de Pernambuco que é um dos maiores guitarristas brasileiros da geração dele. E que é uma grande referência para mim, né? Quando eu via, caramba: eu estou aqui concorrendo com esse cara, com essa estrada toda que ele tem, um cara que já trabalhou com Fagner, com Elba (Ramalho), com Dominguinhos…” celebra.
Iury conta que somente ao participar da premiação foi que teve uma ideia da magnitude do Prêmio Profissionais da Música. “Um prêmio sediado em Brasília, Distrito Federal, um prêmio envolvendo músicos de todos os lados do Brasil. Nunca vi nada igual assim”, descreve.
E complementa, frisando a pluralidade que o prêmio possui por agregar músicos de todo o País: “sentiu-se durante todo o evento do primeiro até o último dia do prêmio um ar de Brasil, na sua completude, na sua diversidade cultural de cada estado. Nem consigo descrever direito porque foi foi muita informação ainda tô administrando”.
Ele afirma que “um prêmio como esse no recorte que a gente tem do Brasil atualmente é um reconhecimento especialíssimo”. E ressalta: “No Brasil de hoje, tão desacreditado, tão machucado com a imagem tão ferida, depois desse desses últimos anos o governo, a importância desse prêmio é fantástica”, afirma.
Segundo o músico, todo mundo que participou saiu de lá “bem dentro do slogan do prêmio”que era “um país para reconstruir”.
Para ele, pessoalmente, ainda é difícil descrever a sensação esse tipo de premiação gera. Mas um aspecto ele já conseguiu decifrar: “Acho que a sensação mais bacana que eu senti, passado primeiro momento da emoção, foi de certa maneira alívio em entender que o caminho está indo bem”.
“Um reconhecimento como esse para mim é uma resposta ao investimento de tantos anos, né? Uma caminhada de tantos anos, tendo como como norte a minha intuição, de trabalhar com aquilo e de entender qual o caminho a ser feito é esse. Tanto que eu me tornei produtor musical por causa disso”, explica.
Ele espera que um dos resultados do Prêmio Profissionais da Música 2023 ter vindo para o RN é que isso sirva para melhorar como as premiações locais analisam as obras e artistas. “A gente não tem uma premiação realmente democrática, onde você analisa os trabalhos dos artistas”, diz.
E critica: “Ano após ano, as mesmas pessoas recebem os mesmos prêmios. E a verdade é que tem muito artista incrível aqui no estado, muito profissional incrível produzindo coisas incríveis e a gente não vê uma valorização reconhecimento desse trabalho”.
Iury Matias está trabalhando em algumas produções que considera muito especiais. Uma delas é “de uma grande artista daqui do Rio Grande do Norte”; e a outra é “de uma pessoa que participou do The Voice”.
Para o segundo semestre ele planeja entrar em estúdio para gravar um novo álbum. O músico também espera que, no segundo semestre, os recursos das leis de incentivo à cultura, a Aldir Blanc e a Paulo Gustavo, sejam disponibilizados para impulsionar a produção de projetos.
“Espero que a partir do reconhecimento como esse do prêmio haja uma espécie de conscientização maior da cultura daqui do Estado. De que é necessário olhar para os seus artistas, para seus profissionais. E eu acho que isso é algo que pode mudar. E que eu espero que mude”.
Iury Matias lançou em 2021 o EP autoral “Nova Chance” e o álbum “Outro Tempo”.
Confira abaixo as músicas de disco dele:
