Aposto que você já viu nas redes sociais inúmeros memes sobre o preço da carne, o aumento do gás, da gasolina e, até mesmo, do ovo que também teve alta. Algumas pessoas têm usado a inflação como piada para tentar um alívio cômico em meio a tragédia que é ter que fazer cortes de gastos em meio a uma pandemia global.
Infelizmente, as projeções para o futuro não são boas, segundo o economista e professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Cassiano Trovão. Ele diz que as projeções do Banco Central (BC) através do Boletim Focus, que capta as estimativas do mercado financeiro, prevê que a inflação deve subir ainda mais.
“Essa previsão pode se verificar, um dos sinais é a crise hídrica que encarece o custo da energia elétrica”, afirma.
A notícia não era a esperada por nenhum de nós, inclusive por Robson do Nascimento, que tem sido obrigado a fazer cortes de gastos no orçamento familiar desde março de 2020. Ele conta que os cortes começaram no lazer da família, seguiram na alimentação e em serviços pontuais que usavam em casa.
“Nós gostamos de ver o pôr do sol na praia de Genipabu aos sábados, pedir a promoção da pizza nas terças, mas infelizmente já não dá mais. Fazíamos compras no atacado para o mês inteiro, agora compramos em pouca quantidade e vemos até onde dá”, diz Robson.
Cassiano Trovão lembra que numa situação como a de Robson, alguns profissionais indicam fazer substituições, principalmente na alimentação. “Pedir pra população substituir [alimentos] nos dias de hoje chega a ser desumano”, critica o economista.
Ele ainda fala sobre outras saídas apontadas por colegas de profissão em situação de alta na inflação. “A desigualdade social no país é tão grande que cria uma massa de pessoas que não tem qualquer capacidade de poupar [dinheiro], por que as pessoas ganham e gastam. Então eu chegar aqui e dizer pra você fazer um esforço pra poupar numa situação como essa, onde o dinheiro mal dá pra pessoa se alimentar e pagar as contas seria uma hipocrisia”, analisa Trovão.
Pai de dois filhos, Robson relata o momento em que precisou trazer de volta a Natal o filho mais velho que estudava em um estado vizinho. “Tivemos que entregar o apartamento alugado que ele morava em João Pessoa, além disso, tinha os outros gastos com feira e tudo mais, não demos conta”, afirma.
Agora, a esposa e o filho mais velho de Robson, distribuem currículos na esperança de conseguir um emprego para ajudá-lo nas contas de casa, mas a busca não tem sido fácil. “Minha esposa está aguardando o contato e meu filho não tem experiência então é mais difícil”, desabafa.
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“Salvem-se quem puder”, diz economista
O economista Cassiano Trovão diz que, infelizmente, a população vive um momento de “salve-se quem puder” e que a melhora da economia depende da ampliação da vacina e da retomada do trabalho.
“Tudo depende da retomada do trabalho, da geração de emprego, do crescimento da renda. O que eu posso sugerir, é que a população tente retomar a sua atividade mantendo as medidas necessárias para que o vírus não continue se espalhando”, aconselha ele.
Cassiano ainda sugere que a população deve exigir dos governos a ampliação do programa de vacinação contra a Covid-19 para evitar a disseminação do vírus e para que o país tente uma retomada econômica.
Confira a entrevista completa com o economista Cassiano Trovão:
Aumentos em série
Nos últimos meses a população segue enfrentando sucessivos reajustes nos preços. O IGP-10 (Índice Geral de Preços–10) teve alta de 2,32% em junho, segundo os dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice é utilizado para os reajustes de tarifas públicas e nos contratos de aluguel.
Já o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), por outro lado, avançou apenas 0,72% em junho. Dentro dessas categorias as altas mais significativas foram a eletricidade residencial, que teve inflação de 4,87% e a gasolina, que subiu 3,16%.
Além disso, itens básicos do dia a dia da população, como o botijão de gás de cozinha, seguem com a disparada nos preços. O preço médio do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) aumentou 5,9% a partir desta semana. Com isso, passa para R$ 3,40 o quilo, segundo a companhia. Em Natal (RN), da segunda semana de junho, o preço médio do botijão de 13 quilos chegou a R$ 97.
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