A primeira noite de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, realizado entre as 22h de domingo, 19, e as 5h55 desta segunda-feira, 20, no sambódromo da rua Marquês de Sapucaí, onde desfilaram seis das 12 principais agremiações, foi dividido em três fases: começou cheio de emoção com homenagens a Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, respectivamente, por Império Serrano e Grande Rio, depois houve dois desfiles mornos de Mocidade Independente e Unidos da Tijuca (apesar desta surpreender com uma inédita “levitação” na comissão de frente) e, por fim, duas escolas que reacenderam a animação do público, por terem torcidas gigantes: Salgueiro e Mangueira – esta, com o diferencial de ter um samba-enredo muito popular e de ter feito um desfile bastante técnico.
A primeira escola a se exibir foi o Império Serrano, que homenageou Arlindo Cruz. As fantasias e alegorias eram simples, sem luxo, mas não faltou emoção. Arlindo sofreu um acidente vascular cerebral há seis anos e ainda está em recuperação. Ele só se expressa (pouco) por meio da fisionomia e desfilou em um trono no último carro alegórico, acompanhado pela mulher, Babi, por outros familiares, amigos e uma equipe médica.
Sua passagem pela passarela comoveu a plateia. A partir da canção Meu Lugar, um dos sucessos de Arlindo e que exalta o bairro de Madureira (zona norte), onde o artista cresceu e onde fica o Império Serrano, a agremiação apresentou a região, referências à história do Império e, claro, passagens fundamentais da vida de Arlindo.
Alas retrataram músicas como Camarão que dorme a onda leva e Bagaço da Laranja, duas parcerias de sucesso com Zeca (a primeira também com Beto sem Braço), e destaques como o Cacique de Ramos, bloco carnavalesco onde surgiu o grupo Fundo de Quintal, que Arlindo integrou. Também foram homenageados outros parceiros e inspiradores de Arlindo, como Mano Décio da Viola e Dona Ivone Lara. A religiosidade de Arlindo também foi bastante exaltada.
A segunda escola a desfilar foi a Grande Rio, atual campeã do carnaval carioca. O enredo homenageava Zeca Pagodinho passeando por lugares que fazem parte de sua história à procura do artista Por fim encontrava Zeca em seu sítio em Xerém, distrito de Duque de Caxias, município onde fica a Grande Rio
Ele desfilou no último carro alegórico, devidamente abastecido com chope. A escola exibiu fantasias e alegorias muito luxuosas, mas errou na evolução: em pelo menos dois momentos, por conta de dificuldade para movimentar alegorias, abriu espaços entre alas bem na frente das cabines de jurados. Com o atraso, precisou correr no final e encerrou o desfile faltando apenas 25 segundos para completar o tempo máximo de 70 minutos – se não respeitasse esse limite, seria punida com a perda de pontos.
A Mocidade Independente de Padre Miguel foi a terceira escola a desfilar e apresentou a história de mestre Vitalino, artista que fazia esculturas com barro e deixou muitos seguidores em Alto do Moura, bairro de Caruaru. A escola apresentou fantasias luxuosas, mas o samba não empolgou e ocorreram pequenos deslizes de evolução.
Quarta escola a se apresentar, a Unidos da Tijuca fez uma viagem pela baía de Todos os Santos, área da costa brasileira onde estão situadas Salvador e outras cidades baianas, e surpreendeu com um efeito de luzes inédito nos desfiles.
Na comissão de frente, a atriz Juliana Alves representou Iemanjá e desfilou sobre uma pequena alegoria que interagia com a comissão de frente. Em um trecho da encenação, a iluminação da pista de desfiles era reduzida e as luzes do próprio elemento cenográfico onde a atriz estava davam a impressão de que ela levitava. O público foi ao delírio.
Mas a escola teve problemas técnicos e deve perder pontos por conta deles. O último carro alegórico bateu em um viaduto quando manobrava pra entrar na avenida e um elemento cenográfico (um farol de orientação marítima) foi danificado – atravessou a pista assim. Um tripé passou metade do desfile pendendo para a esquerda, em vez de seguir pelo meio da pista de desfile.
Com um enredo que questionou o que é pecado e defendeu a liberdade de expressão, o Salgueiro foi a quinta e penúltima escola a desfilar. Com fantasias e alegorias luxuosas, fez um bom desfile, mas também teve vários problemas técnicos – os dois primeiros carros alegóricos tiveram dificuldades para entrar na pista, o que ocasionou a abertura de espaço logo no início do desfile. O samba também não foi dos mais empolgantes.
A Mangueira encerrou a primeira noite de desfiles contando a saga das mulheres africanas que foram escravizadas e conduzidas à Bahia, e cujos descendentes acabaram chegando ao Rio e à Mangueira. Com um samba contagiante – que rivaliza com o da Grande Rio como o mais popular do ano – e fantasias e alegorias coloridas e adequadas ao enredo afro, a escola foi a que mais contagiou o público, apesar do adiantado da hora – terminou o desfile às 5h55. A ministra da Cultura, a cantora e compositora Margareth Menezes, desfilou numa alegoria que representava um trio elétrico.
Às 22h desta segunda-feira começa a segunda noite de desfiles no sambódromo do Rio, com mais seis escolas de samba.
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