O Brasil tem potencial para ser líder na exportação de energia à base de hidrogênio verde, afirma Vinicius Gibrail, Diretor Geral da Array STI Norland Brasil. Considerada a bola da vez no mercado global de combustíveis, a exploração deste tipo de energia — que é feita a partir da decomposição da molécula da água, gerando hidrogênio e liberando oxigênio no ar —já é alvo de intensa disputa global, por ser uma das principais alternativas na redução do uso de fontes não renováveis.
Segundo o Vinicius Gibrail, o Rio Grande do Norte e a região Nordeste podem despontar na liderança da produção deste tipo de energia. Isso ocorre porque a produção do hidrogênio verde pode ser aliada a outra fonte de energia, como a eólica. Em entrevista ao NOVO, ele avalia que parcerias público-privadas são importantes para potencializar a geração deste tipo de energia limpa.
Com mais de 25 anos de experiência na área Comercial e Administração Geral de empresas na América Latina, Vinicius Gibrail atualmente é Diretor Geral da STI Norland Brasil, empresa que fabrica e fornece rastreadores solares para usinas fotovoltaicas. O executivo vem de uma posição de Diretor Comercial LATAM em uma empresa do setor elétrico, onde passou os últimos 23 anos, atuando também como Country Manager no México e Argentina. Com MBA pela FGV, o executivo possui profundo conhecimento no mercado da América Latina, América Central e Caribe.
NOVO – Por que o hidrogênio verde é a bola da vez para o setor de energias renováveis?
Principalmente pelo desabastecimento que vem sendo temido na Europa, agora com a chegada do inverno que se aproxima. A discussão sobre autossuficiência energética e diversidade das matrizes está no foco das atenções mundialmente, juntamente com o compromisso fundamental de ampliar a geração de energia de forma sustentável, com o menor impacto possível ao meio ambiente. Foi em meio a este cenário que o Hidrogênio Verde se despontou como uma alternativa importante para viabilizar essa aceleração na transição energética mundialmente, podendo substituir combustíveis derivados de fontes fósseis, como a gasolina que é tão comum no nosso cotidiano, por uma fonte limpa, como a solar, reduzindo a emissão de poluentes. Além disso, estima-se que o Hidrogênio Verde terá um baixo custo no curto a médio prazo, sendo interessante também do ponto de vista do investidor.
NOVO – Quais iniciativas no mundo já usam o hidrogênio verde?
O chamado combustível do futuro ainda é muito recente no mercado, mas já há iniciativas como Zero Emission Valley, um projeto na França para construir 20 estações de hidrogênio. Na Holanda, já fizeram os primeiros testes de um trem de passageiros movido a hidrogênio verde. Outro exemplo interessante é a Bélgica, que deve ganhar, até 2025, uma usina offshore de hidrogênio verde. Mas, de fato, a maioria das iniciativas tem sua estratégia focada no acúmulo de excedentes de energia renovável (solar ou eólica) e, por isso deve ser mais utilizado para abastecer automóveis que operam com motores de combustão interna ou com células a combustível, auxiliando na descarbonização do setor de transportes.
NOVO – Quais as aplicações para o hidrogênio verde? E quais os benefícios em relação às demais fontes energéticas?
Ainda há setores que têm dificuldade em serem totalmente independentes de combustíveis fósseis, como é o caso da siderurgia e transporte. Contudo, o hidrogênio verde pode substituir a gasolina, o diesel, o gás e o carvão. Ou seja, poderá ser utilizado com finalidades comerciais, industriais e ainda de mobilidade sem poluir o meio ambiente e com um valor viável, visto que com sua expansão essa fonte terá um ótimo custo-benefício a curto e médio prazo.
NOVO – Qual é a participação da STI Norland neste segmento?
Nossa empresa é uma das maiores fabricantes e fornecedoras de rastreadores fotovoltaicos do mundo, com atuação em todos os continentes. Assim, oferecemos a todos que almejam captar o máximo de energia solar uma forma de aproveitar totalmente o Sol durante todo o dia, pois com nossos produtos é possível rastreá-lo em qualquer período ainda que em dias nublado ou sob outras condições climáticas extremas, como ventos fortes, e diferentes altitudes. Nosso carro-chefe, o tracker H-250, por exemplo, tem o melhor LCOE, ou Levelized Cost of Energy, do mercado. Dessa forma, as usinas que utilizam dos nossos produtos ou que contam com os nossos serviços apresentam um retorno sobre o investimento muito maior do que àqueles que não o fazem. Então, mesmo que indiretamente, nossa empresa está contribuindo com a geração do hidrogênio verde, por estar inserida nesse ecossistema, mundialmente.
NOVO – Muitas empresas estão firmando parcerias público-privadas para iniciar a exploração deste tipo de fonte energética. Este é o melhor caminho para se evoluir na produção e exploração do hidrogênio verde?
Como essa fonte ainda é muito nova no mercado, não podemos dizer com certeza qual será o caminho que irá possibilitar alcançar nossas metas com mais eficiência e agilidade, como a meta global de gerar eletricidade 100% sustentável. Mas nesse novo caminho de exploração, acredito que parcerias público-privadas são uma ótima alternativa tanto para a população no geral, pois provavelmente irá acelerar a produção, quanto para as empresas que se dedicarem à expansão desse novo combustível.
NOVO – Qual o papel do Brasil na produção deste novo tipo de fonte energética? E o que o Nordeste e o Rio Grande do Norte tem a oferecer?
Já foi apontado por diversos estudos, como o da McKinsey, que o Brasil pode se tornar uma potência em hidrogênio verde, com um mercado que poderá movimentar cerca de US$ 200 bilhões em 20 anos. Isso porque o país é rico em recursos naturais. Regiões como o Nordeste e o Rio Grande do Norte, por exemplo, possuem vento, sol e recursos hídricos em abundância; juntos eles têm a possibilidade de gerar energia renovável 24 horas por dia durante toda a semana, mês ou ano.
NOVO – Mas qual será a vocação da produção do Nordeste e Rio Grande do Norte? Iremos atender apenas ao mercado interno ou exportar?
Como comentei, o Nordeste como um todo é rico em recursos naturais e tem como destaque o petróleo e o gás natural, produzidos na Bahia, em Sergipe e no Rio Grande do Norte. Contudo, por também contar com longos períodos de incidência solar, ventos fortes e constantes – sem contar o barateamento das tecnologias para geração de eletricidade limpa -, a energia renovável cresceu exponencialmente na região, ganhando grande potencial como geradora de eletricidade renovável no Brasil; o que inclusive contribuiu para que o país alcançasse o marco de 20 GW de energia solar, resultado da soma da potência das usinas de grande porte com os sistemas de geração própria, equivalente a um total de 9,6 % da matriz elétrica do Brasil. Com todo esse potencial natural de produção e geração de energia limpa, não vejo porque o país não iria exportar. Com a expansão correta dessas fontes sustentáveis, é possível atender a demanda nacional e ainda contribuir para a internacional.
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