O escritor moçambicano Mia Couto diz que “ninguém tem ombro para suportar sozinho o peso de existir”. E no enfrentamento do câncer de mama, muitas mulheres descobrem que poder compartilhar suas experiências com outras na mesma situação ajuda a lidar com as várias emoções que acompanham o recebimento do diagnóstico e os processos de tratamento da doença.
A docente do curso de Psicologia da Estácio, Ingrid Lavor, explica que entre o diagnóstico e as intervenções terapêuticas, podem acontecer episódios de estresse, depressão ou ansiedade relacionados com as mudanças de rotina, dores e sintomas físicos do tratamento, que afetam os relacionamentos e impactam no trabalho, sono e alimentação.
A cada ano do triênio 2020-2022, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que ocorram 66.280 novos casos de câncer de mama no país, e em muitos deles, a depender do tratamento, lidar com as mudanças na imagem corporal também atinge a autoestima das pacientes que perdem seus cabelos ou passam pela mastectomia, que é a retirada cirúrgica de toda a mama.
Diante dessa jornada, a troca de vivências e informações possibilita que seja gerado um espaço de ajuda mútua no enfrentamento dessa enfermidade com suas questões emocionais e práticas do dia-a-dia. “Ao estar em grupo, também se possibilita que todas as temáticas atravessadoras ao adoecimento sejam discutidas e os sentidos ampliados a partir do olhar e da perspectiva do outro. Grupos de apoio se somam a uma rede de fatores e estratégias de enfrentamento que possibilitam caminhos para o paciente oncológico”, ressalta a professora.
Em Natal, um dos grupos que realizam ações com a intenção de proporcionar oportunidades para as pacientes oncológicas interagirem e minimizarem suas angústias é o Grupo Bonitas, criado em 2015 pela bacharel em Direito Adilza Holanda.
Ela conta que estava acompanhando a cunhada na sala de quimioterapia e percebeu que as mulheres ali presentes tinham em comum a queda na autoestima e muitas dúvidas entre si, então sugeriu que fizessem um grupo no WhatsApp. Com o tempo e com a criação de vínculos, surgiu o desejo de encontros presenciais, até mesmo para acompanhar mais de perto a evolução do tratamento das integrantes do grupo.
“Nós acolhemos e tentamos fazer o resgate da autoestima da mulher que recebe esse diagnóstico e às vezes não sabe qual o próximo passo. Muitas acreditam que o câncer é uma uma sentença de morte, mas não é. Então, trazemos essa mulher para perto, orientamos, damos esclarecimentos. E, principalmente, formamos essa rede de apoio que se assemelha a um grande abraço solidário entre todas que estão lutando contra o câncer”, finaliza Adilza.
Para convidar a comunidade a apoiar a luta dessas pacientes e colaborar com a sua autoestima, o Grupo Bonitas realiza a 5ª exposição Mulheres e Suas Histórias de Superação até o dia 20 de outubro no Natal Shopping (Piso L2 – em frente à Camicado). A iniciativa aproveita a campanha Outubro Rosa, de conscientização sobre o câncer de mama, para dar destaque à importância do diagnóstico precoce e informar a população dos diferentes tipos de tratamento.
Durante o mês, várias iniciativas são realizadas, mas o mais importante é a disseminação de informações corretas a respeito da saúde e dos sinais que o corpo demonstra.
As principais alterações e sinais suspeitos de câncer de mama são caroço (nódulo), geralmente fixo, indolor e endurecido; pele com aspecto de casca de laranja; alterações nos mamilos; mama com tons avermelhados; saída espontânea de líquido de um dos mamilos e pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo das axilas. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, a indicação é que seja realizada a mamografia de forma anual para mulheres a partir dos 40 anos de idade.
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