O diretor do FBI, Christopher Wray, abriu uma nova crise com a China ao afirmar que o novo coronavírus “provavelmente” surgiu de um laboratório de Wuhan. A afirmação foi feita durante entrevista à Fox News na terça-feira (28), no momento em que o tema volta ao centro da política americana.
No Congresso, os deputados republicanos, que são maioria e dominam as comissões, pediram uma revisão da resposta do governo à pandemia e agendaram uma audiência para investigar as origens do vírus para a semana que vem.
“O FBI há algum tempo avalia que as origens da pandemia são, provavelmente, um possível incidente em um laboratório em Wuhan”, disse Wray. “O governo chinês tem feito o possível para frustrar e ofuscar o trabalho que estamos fazendo. E isso é lamentável.”
Apesar das declarações de Wray, não há consenso dentro do governo americano sobre como a pandemia começou. No início da semana, um relatório interno do Departamento de Energia dos EUA, analisado pelo Wall Street Journal, também concluiu que a pandemia provavelmente começou após um vazamento não intencional de um laboratório de Wuhan, na China.
No entanto, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA (Niad, na sigla em inglês) ainda acredita que o vírus se originou na natureza e se espalhou de um hospedeiro animal não identificado para os humanos.
O Niad cita os morcegos como possível origem da covid. Anthony Fauci, ex-chefe do instituto, disse estar de mente aberta para a possibilidade de um vazamento de laboratório, mas acha que a origem natural é a mais provável.
O Centro de Controle de Doenças (CDC) também vincula a origem do vírus aos morcegos. No entanto, durante uma audiência no Congresso, em 2021, a diretora do CDC, Rochelle Walensky, admitiu que um vazamento no laboratório de Wuhan também seria “uma possibilidade”.
“Não há um consenso na comunidade de inteligência dos EUA sobre a origem da pandemia”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, na segunda-feira. A declaração foi uma reação a um relatório interno do Departamento de Energia dos EUA, analisado pelo Wall Street Journal, que adotou na tese do vazamento de um laboratório de Wuhan.
Um exemplo da indecisão sobre a origem do vírus é a posição da CIA, principal agência de inteligência dos EUA, que ainda não se manifestou em favor de nenhuma tese. Segundo o Conselho de Segurança Nacional dos EUA, há dentro do governo americano uma segunda agência – não especificada – que também não sabe como a pandemia começou.
O debate sobre a origem da covid-19 dividiu republicanos e democratas, mas não teve repercussão apenas na política interna americana. A questão também aprofundou as tensões entre China e EUA, rivais em uma série de disputas agravadas pelos balões espiões chineses sobrevoando o espaço aéreo americano e pela ameaça de uma participação mais direta de Pequim na guerra da Ucrânia.
Nesta quarta, 1º, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, repreendeu a declaração do diretor do FBI e acusou a comunidade de inteligência dos EUA de politizar a origem da pandemia. “Ao refazer a teoria do vazamento do laboratório, os EUA não conseguirão desacreditar a China”, disse Mao. “Eles apenas prejudicarão a própria credibilidade.”
Um grupo de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse, no ano passado, que ainda faltavam “peças-chave de dados” para explicar como a pandemia começou. Os cientistas citaram pesquisa necessárias, incluindo estudos avaliando o papel de animais selvagens e análises ambientais em locais onde o vírus pode ter se espalhado pela primeira vez.
No início da pandemia, o governo do Reino Unido considerou a possibilidade de exterminar todos os gatos do país. Segundo o ex-ministro da Saúde James Bethell, em entrevista ao Channel 4 News, na época, os cientistas desconfiavam que os animais pudessem transmitir o vírus.
“Em determinado momento, houve essa ideia de pedir ao público que exterminasse todos os gatos do Reino Unido. Imagine o que teria acontecido se fizéssemos isso?”, disse. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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