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“Eu me tornei uma figura invisível dentro do MDB”, diz Henrique Alves

Agora filiado ao PSB, o ex-ministro tentará se eleger pela 12ª vez como deputado federal

por: NOVO Notícias

Publicado 11 de julho de 2022 às 16:00

Ex-deputado federal tentará seu 12º mandato, agora pelo PSB – Foto: Dayvissom Melo/NOVO Notícias

Deputado federal por 11 mandatos consecutivos, Henrique Eduardo Alves foi presidente da Câmara dos Deputados entre os anos de 2013 e 2015 e ministro do Turismo nos governos de Dilma Roussef e de Michel Temer. Em entrevista exclusiva concedida ao NOVO Notícias, Henrique Alves, que é pré-candidato a deputado federal, falou sobre os motivos que levaram a sua saída do MDB após 52 anos no partido, a filiação ao PSB, o período em que ficou preso, a decisão de voltar à vida pública e, ainda, a relação com Rafael Motta, Garibaldi Alves e Fátima Bezerra.

Foram mais de cinco décadas em um único partido, ao qual representou como líder da bancada na Câmara Federal por seis anos consecutivos. Em carta de despedida do MDB, o ex-deputado afirmou que se sentia sem voz dentro do MDB, hoje dirigido, em nível estadual pelo seu primo, o deputado federal e pré-candidato a vice-governador Walter Alves na chapa de Fátima Bezerra. “Essa é uma página que, graças a Deus, eu consegui virar, mas foi um dos momentos mais difíceis da minha vida de tantos outros que passei. Se você imaginar uma casa, o piso, o teto, as paredes, todo lugar, tem marcas profundas das minhas mãos e de tantos outros companheiros. Mas as minhas, talvez, sejam mais profundas porque eu assumi a casa do MDB aos 21 anos de idade, em uma época em que um jovem não tinha voz nem em casa. O MDB foi a minha bandeira, a minha luta, a minha história e o meu ânimo de prosseguir semeando as esperanças que meu pai iniciou. Mas chegou um momento aqui no RN que eu comecei a ver algumas declarações de que eu poderia não ter legenda do partido para ser candidato. Seria trágico se não fosse cômico. Resolvi conversar com Baleia Rossi [presidente nacional do MDB] e falei do ‘zum-zum-zum’ aqui no Estado. Ele me disse que ficasse tranquilo porque eu tinha uma história junto ao MDB do Brasil, não só do RN”, contou Henrique.

No período em que começaram as construções das nominatas, o ex-ministro procurou o partido e afirmou não ter recebido informações oficiais. “Era zero. Comecei a receber informações sobre a nominata por outras pessoas. Eu quis participar sobre a discussão sobre a indicação do partido ao ‘lugar’ de vice. Primeiro de Fátima, depois de Ezequiel. Mas zero espaço. O MDB não me ouvia, não me via, não me falava. Eu me tornei uma figura invisível dentro do MDB, e aquilo me fazia um mal muito grande. Até que foi chegando o dia e os rumores de que o MDB não queria Henrique foram aumentando. Três dias faltando para o dia que eu tinha que tomar uma decisão, eu comecei a escrever a tal carta. Escrevia, me emocionava, rasgava e não concluía. Meu coração ficava inerte. Foi uma das coisas mais doídas e mais sofridas da minha vida. Mas a vida nos ensina e eu aprendi com meu pai a superar obstáculos. Uma das grandes lições que ele me deu era ‘sem ódio e sem medo’. O ódio escraviza e o medo acovarda. Então mais do que nunca, em relação ao MDB, eu adotei esse ensinamento dele. Virei essa página, não guardo mágoas, desejo sorte, sucesso e que Deus dê a todos nós as luzes que merecemos.”

Sobre o fato de ter sido comentado à época que não cabiam duas candidaturas ‘grandes’ no MDB, Henrique lembrou do passado. “Já coube eu e meu pai juntos. Eu e Ana Catarina [irmã] juntos. Mas não era isso. Enquanto eu não queria ter ódio nem medo, o MDB tinha ódio e tinha medo, ou tinha medo e, por consequência, algum tipo de ódio”, completou, lembrando que foi surpreendido com uma entrevista do primo Garibaldi Alves Filho anunciando o rompimento político e familiar com ele. Garibaldi foi o único, segundo Henrique, que não o parabenizou pela absolvição da Justiça, mesmo tendo acompanhado todo o período da prisão com visitas regulares semanais. Dois dias após a decisão do TRF, era o aniversário de Henrique. “Quando eu tive uma vitória daquela, me tornei livre, leve e solto. Ali, Henrique voltou à política do RN. Dois dias depois, ele me ligou para dar parabéns pelo meu aniversário, mas não tocou no assunto. Eu percebi que, a partir dali, eu teria problemas.”

Henrique sobre Rafael: “Tem empatia, algo impressionante e verdadeiro”

Após a saída do MDB, Henrique recebeu convite de seis legendas nacionais, mas optou pelo PSB. Alguns fatos durante a sua trajetória política foram determinantes para a escolha, mas a filiação de Geraldo Alckmin ao partido foi uma delas. “Alckmin é meu amigo há 30 anos, alguém por quem tenho respeito enorme e se filiou ao PSB. Quando conheci Rafael [Motta, presidente estadual do PSB no RN], a coisa se completou. Esse rapaz tem uma empatia, algo impressionante e verdadeiro”, pontuou.

Em nível nacional, o PT está junto com o PSB com a chapa Lula/Alckmin. Já no RN, apesar de Rafael Motta ser defensor da candidatura de Fátima e de Lula, a atual governadora montou uma chapa que tem como vice o presidente estadual do MDB, Walter Alves, e como pré-candidato ao Senado, Carlos Eduardo Alves. Ambos são primos de Henrique, mas a relação entre eles é de rompimento e distância. Questionado pelo NOVO Notícias se vai pedir voto para Fátima, Henrique afirmou que sua campanha é a prioridade. “Vou cuidar da minha campanha, que tem características e verdades muito próprias. Até porque não acho que se deva votar em alguém obrigatoriamente porque é do seu partido ou da sua coligação. É o por que votar.”

Mesmo diante de toda essa conjuntura da família Alves em que a governadora está envolvida, ele não descarta o apoio e diz que não teria dificuldade em pedir votos para ela. “Não converso com a governadora Fátima sobre política há uns nove meses. Mas tenho muito respeito pela sua integridade, espírito público e coerência aos seus princípios. Mas apoio não é por ser simpático a alguém. É o ‘porque’ votar. Quando acontecer uma conversa minha com a governadora, se acontecer, quero dar sugestões e fazer críticas respeitosas.”

PRISÃO E APRENDIZADO

O ex-deputado foi preso, preventivamente, em 6 de junho de 2017, em uma operação que investigava fraude na construção do estádio Arena das Dunas. Foram 328 dias de prisão, até que foi concedida a prisão domiciliar em 8 de maio do ano seguinte. Ao relembrar o fato, Henrique afirmou ter sido vítima de uma perseguição do ex-procurador da República, Rodrigo Janot, para prejudicar o então presidente – e seu amigo – Michel Temer. “Eram 6h quando a Polícia Federal chegou à minha casa com um mandado, a princípio, de busca e apreensão. Quando a imprensa já lotava a rua, me foi informado que também tinha um pedido de prisão. Neste mesmo dia, ia ter a votação da chapa Dilma-Temer no TSE. E Janot, que queria ser conduzido ao cargo de Procurador da República, mas teve seu pedido negado por Michel, fez de tudo para que a chapa fosse derrubada. O noticiário nunca falava em mim como Henrique, deputado por 11 mandatos, era o ‘amigo de Michel’. O foco era destruir Temer”, lembrou.

Questionado sobre a lição que tirou do período em que passou preso, Henrique é enfático. “Eu reencontrei Deus. Eu era aquele católico que ia pra missa e ficava no celular. Mas eu aprendi a falar com Ele”, garantiu o ex-ministro, que também se tornou aluno de Filosofia.

No último dia 7 de dezembro, o TRF anulou a condenação de Henrique Alves por unanimidade. “Com a fé em Deus restaurada profundamente, o Judiciário Nacional me inocentando, eu quero agora o julgamento do RN, muito mais do que a vaidade de ter um 12º mandato, algo que ninguém tem no Brasil. Não é a vaidade que me atiça. Eu quero saber se o RN acha que eu posso ajudar ainda mais o Estado. Então eu não tenho o que cobrar, eu sou grato. Quero saber se posso fazer mais”, completou.

Decidido a buscar um 12° mandato na Câmara Federal, Henrique Alves fala sobre os desafios desta eleição para aqueles que se põem como candidatos. “O maior desafio dessa campanha é reconquistar a esperança das pessoas. Elas estão decepcionadas. O dia da eleição é o único dia no Brasil em que todos são iguais. Não importa raça, qual o carro que tem, onde mora, nada. Todos têm o mesmo ‘peso’. O cidadão precisa entender e dar valor a isso. Ir lá, votar e fazer o que acha que é melhor para o nosso país”, pontua.

 

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