Cotidiano

Equipe do programa Fantástico fala sobre Jornalismo Investigativo em Natal

O repórter Maurício Ferraz e o produtor Evandro Siqueira palestraram durante a entrega do IX Prêmio de Jornalismo do MPRN

por: NOVO Notícias

Publicado 15 de dezembro de 2023 às 11:08

Maurício Ferraz e Evandro Siqueira palestraram sobre os bastidores do Jornalismo Investigativo. – Foto: Rafael Araújo

O jornalista e repórter do Fantástico Maurício Ferraz, está desde o início da semana em Natal, capital do Rio Grande do Norte, produzindo uma reportagem para o programa semanal da Rede Globo. O conteúdo da matéria ainda não foi divulgado, mas deve ser exibido no jornalístico nos próximos dias.

Além da produção, o jornalista participou nesta quinta-feira (14) da cerimônia de entrega do IX Prêmio de Jornalismo do Ministério Público do Rio Grande do Norte. Na ocasião, acompanhado de Evandro Siqueira – que atua como produtor do programa – os jornalistas palestraram sobre “Os bastidores do jornalismo investigativo e a importância do Ministério Público no combate à corrupção”.

Equipe do núcleo investigativo do Fantástico está no Rio Grande do Norte desde o início da semana. – Foto: Redes Sociais

Os jornalistas que fazem parte do núcleo investigativo do programa Fantástico, da TV Globo, abordaram entre os temas a importância da apuração, checagem e das fontes no trabalho realizado pela equipe para a produção das grandes reportagens.

Antes da palestra, o jornalista Maurício Ferraz concedeu entrevista à reportagem do NOVO Notícias. Ao repórter Rafael Araújo, um dos premiados da noite na categoria Jornal Impresso, Ferraz falou sobre os desafios da profissão e a importância da checagem e apuração no processo de produção das reportagens.

Leia também:
NOVO Notícias vence prêmio de jornalismo do Ministério Público

Entrevista com Maurício Ferraz, repórter do Fantástico

O repórter Rafael Araújo entrevistou Maurício Ferraz sobre os desafios enfrentados durante a trajetória do jornalista. – Foto: NOVO Notícias

Quando falamos em Jornalismo Investigativo, podemos citá-lo como referência para inúmeros profissionais. Queria saber sobre o desafio de se manter durante tanto tempo?

MF: Primeiro, acho que você tem uma estrutura por trás, você tem uma estrutura como a TV Globo que dá toda, você tem todo um grupo para te ajudar, você trabalha com cinco, seis, sete pessoas que estão te ajudando, estão apurando, estão checando aquelas informações, então, só de você ter uma equipe com você, dá uma baita segurança, você tem uma emissora como a Globo que libera a gente, vamos investigar, vamos denunciar a corrupção, direitos humanos, então, eu acho que o que mantém é você ter uma proteção, uma boa equipe e uma retaguarda muito boa.

Todo final de semana esperamos algo novo nas reportagens feitas pelo Fantástico. Sabemos que é bem difícil entrar em alguns locais, e quando falamos em jornalismo investigativo, o trabalho é bem mais amplo e demorado?

MF: É assim, sabe que até internamente é engraçado isso, porque às vezes, o pessoal do Jornal Nacional fala assim: pô, mas como que o Fantástico conseguiu? O Jornal Nacional não conseguiu, o Jornal Hoje não conseguiu, ou às vezes, eles conseguem e a gente não. Cara, é persistência, assim, o Fantástico é o seguinte: tem um factual, uma operação na terça, todos os jornais estão dando aquilo e eles têm que chegar com algo novo no domingo para segurar quem tá em casa, então, você tem que insistir e a gente pensa, olha o que a gente vai buscar de novo. Nem sempre consegue, mas a gente tenta. Tenta, tenta, tenta, tenta, é persistência. E eu tava lendo um livro de Eugênio Silvestre que é bem legal, que ele fala que tem o anjo da guarda do jornalismo, acho que às vezes tem mesmo. Não que a gente precisa ficar rezando, mas é que às vezes ele ajuda a gente quando a gente se esforça um pouco, né?

Quando a gente fala em desafios do jornalismo investigativo, quais são os principais hoje?

MF: Assim, eu acho que a tecnologia mudou muito, né? Então antigamente, quando eu comecei, a propina, por exemplo, era assim, como não tinha muito o celular que gravava, era muito fácil você gravar a corrupção, gravar os encontros, passando o dinheiro, hoje dificilmente você consegue registrar isso, porque você não consegue, é difícil registrar, porque as pessoas às vezes pagam criptomoedas, Pix. Tem celular, então, esses flagrantes ficaram mais difíceis, hoje a gente precisa muito mais assim de bons depoimentos, de dicas, eu acho que o jornalismo investigativo ficou mais difícil e vai ficar cada vez mais, porque se a tecnologia vem para gente, vem para o bandido também, vai para polícia também, então acho que a dificuldade é essa, é provar mesmo o crime.

O que os novos jornalistas podem fazer para manter o Jornalismo Investigativo vivo, com seriedade e compromisso?

MF: Primeiro, é curiosidade, eu acho que tem que ser curioso ao extremo, quando a gente for numa entrevista, a gente tem que pensar em perguntar para uma autoridade, o que ninguém perguntaria, como eu já perguntei: você é um corrupto? Eu achei que ninguém teria coragem, às vezes as pessoas falam assim, você é louco, né? Mas todo mundo quer saber, e a nossa função é perguntar. Ser curioso, e comprar um bom sapato, porque jornalista anda muito, tem que ter um sapato confortável.

É preciso adotar algumas medidas, ter alguns hábitos diferentes nessa trajetória do Jornalismo Investigativo?

MF: Assim, a gente, primeiro, com o uso, com o avanço da tecnologia, tudo que a gente grava, automaticamente a gente vai para uma nuvem e chega na emissora, então, isso já dá uma tranquilidade, que antigamente era fita se a gente tivesse numa cidade, alguém, se a gente fosse assaltado, a gente perderia todo o material, então, isso dá uma garantia para gente, e as pessoas sabem disso. A outra coisa é respeitar o outro lado, que às vezes, acho que é uma certa deficiência hoje no jornalismo, respeitar o outro lado, a pessoa pode ser um assassino, pode ser um corrupto. Eu acho que o outro lado todo mundo tem esse direito e às vezes você vai ouvir o outro lado, a história muda. Então, se o outro lado, a pessoa que você tá investigando, denunciando, viu que você agiu corretamente com ética, o procurou antes da matéria ao ar, é o que dá uma certa garantia para gente, garantia nunca tem, mas é o que me deixa mais tranquilo.

Como vocês observam essas parcerias com órgãos públicos que facilitam, e às vezes dificultam, o trabalho do Jornalismo Investigativo?

MF: Olha, como eu falei, são fontes oficiais, então, você pode fazer uma matéria de um furo jornalístico, que é uma investigação que você teve o acesso, ou oficialmente, ou por algum contato que passou, e o jornalismo investigativo quando é 100% investigação jornalística, que é tudo nosso, então, tem essa diferença. Agora, quando você tem uma fonte, um contato, você nunca pode deixar noticiar alguma coisa para proteger um contato seu. De repente, você tem um policial, um promotor que te ajudou, depois ele aparece fazendo uma coisa errada, você tem que esquecer aquilo e denunciar. Essa é a função jornalista, não proteger ninguém. Errou, vai embora.

______________________________________________________________________________________________

Quer receber notícias úteis, relevantes, informativas e divertidas?

➡️ Assine gratuitamente a Comunidade do NOVO no Whatsapp.
➡️ gratuitamente o Canal de Notícias no Telegram.
➡️ Siga o NOVO Notícias no Twitter.

______________________________________________________________________________________________

Tags